Os primeiros dias de aula geralmente são os que marcam o resto da vida de uma pessoa. No primário, o primeiro dia de aula te faz acreditar que a escola é divertida e com brincadeiras interessantes. Os pais (ou, no meu caso, nossos cuidadores) nos levam até a porta da sala de aula e tiram uma foto nossa com a mochila, lancheira e o sorriso tão grande quanto a decepção que vamos ter no ensino médio ao perceber que "escola" é muito mais do que pintar dentro das linhas.
Na realidade, você aprende a pintar dentro das linhas, mas parece que quanto mais o tempo passa as linhas parecem estar se movimentando sozinhas e se tornando impossíveis de acompanhar. Tudo acaba ficando um borrão e o plano de apenas fazer um desenho bonito se torna algo frustrante e a vontade de queimar o caderno de desenhos toma conta.
Em primeiros dias de aula, eu sempre espero uma mudança drástica na minha vida. Eu espero entrar na sala e dar de cara com a pessoa que vai tornar o ano mais interessante. Isso já não acontece há um bom tempo. Ou, pelo o que eu me lembre, nunca aconteceu. Mas isso são apenas detalhes, afinal, faculdade é diferente, certo? Somos adultos agora, donos do próprio nariz, cuidamos de nós mesmos. Mas, por que não me sinto um adulto? Quando eu era mais novo, imaginava pessoas da minha idade como pessoas da minha idade, eu pareço um projeto de adolescente com barba crescendo e o cabelo precisando de um corte.
O fato é: não mudou absolutamente nada minha vida.
É claro que há novos professores, novos ambientes e tudo de novo que venho dizendo desde que cheguei aqui. Mas, diferente de como eu imaginava, isso não vai mudar em nada. Então eu percebi que o que eu estava nervoso não eram pelas mudanças, e sim pelas mudanças.
As duas primeiras semanas de aula podem ser basicamente resumidas em conhecer novos professores e entrar por algumas vezes nas salas de aula erradas. Nada de fato interessante, eu sequer fui convidado ainda para uma festa no campus ou em algum bar próximo.
Eu estava excitado por um convite para algo do tipo, e hoje de manhã Camila me chamou - e também os outros garotos - para assistir ao jogo no dormitório dela. Mesmo eu não sendo o maior fã de futebol - afinal eu já disse que presto mais atenção no jogador do que no jogo - eu não deixei de aceitar. Todos estariam ali unidos, em animação, gritando e conversando, eu poderia me enturmar bem dessa forma.
O único e exclusivo problema de todo o combinado é que eu não posso garantir presença. Eu, Zayn, Niall e Ed combinamos de hoje, num sábado a tarde, fazer uma chamada em grupo entre todos nós para enfim vermos novamente o rosto um do outro. Zayn ainda estava fresco em minha mente, nos vimos pela última vez quando ele voltou pra França dois dias depois do ano novo. Já Ed, nenhum de nós nunca mais o vimos.
A ideia surgiu quando Zayn baixou o Skype em seu computador e nos chamou para uma chamada em vídeo. No momento em que a mensagem foi entregue, eu estava estudando e Niall provavelmente jogando futebol no campus com os outros meninos, então resolvemos marcar para outro dia, e chamar Ed para participar.
Deve ser no mínimo anormal que dois jovens vivendo na Era da tecnologia nunca tenham criado uma conta no Skype, mas eu tenho uma boa desculpa.
Vivi até os quinze anos sem os maiores prazeres da vida, não tínhamos o menor contato com a internet, assistíamos TV apenas aos fins de semanas e programas eram todos filtrados pela direção do orfanato. Era a forma deles de nos manter puros, uma vez que depois dali iríamos para uma família, e a última coisas que os pais querem é adotar filhos mal educados ou com a mente perdida. Claro que nem tudo eles conseguiam nos privar, sempre chegava à nós de alguma maneira.
Lembro dos meus treze anos, em que boatos fortes voavam de boca em boca sobre Gwen, uma garota de dezessete anos que havia feito sexo com um dos garotos do orfanato. Louis me disse que ele era seu colega, e que já jogaram no mesmo time. Depois de dois dias ninguém nunca mais falou no assunto, e eu nunca soube o que aconteceu entre eles. Boatos que ele foi adotado, e ela transferida. Mas as pessoas costumam exagerar demais.

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Orphanage [L.S]
FanfictionHarry e Louis são colegas de quarto em um orfanato desde que se conhecem por gente. O amor entre ambos é recíproco, embora decisões tomadas os levem à separação. Mas o que Harry não sabe é que tudo o que está nos planos do destino há de acontecer. E...