Eighteen

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Meu quarto é um tanto pequeno, tem as paredes rosas e alguns desenhos aparentemente feitos por uma criança em uma parte próxima ao chão. Uma cama grande de solteiro e uma cômoda branca vazia. As janelas são grandes e dão de cara para a frente da casa, o quintal verde e extenso e a rua tranquila com uma casa parecida com essa do outro lado. O quarto fica no segundo andar, no fim do corredor após subir as escadas. Era o quarto da filha deles.

Anne me chama baixinho, surgindo atrás de mim, estou parado no meio do quarto observando os detalhes deixados pela garota.

- Se quiser podemos reformar. - Ela oferece, encostando na lateral da porta. Eu me viro lentamente, e a vejo observar as paredes e o teto do quarto.

Ela tem um tom de voz atencioso, apenas quer que eu me sinta à vontade, mas não quero incomodar. Sei que se ela deixou todo o quarto da maneira como está até hoje é porque ela não quer se despedir da bagunça que sua filha fez quando ainda viva, é apenas uma forma de deixa-la por perto. Eu a entendo perfeitamente, e não julgo.

- Não precisa. - Disse colocando a mala ao lado da cômoda e descansando as mãos dentro dos bolsos do moletom. Ela tem uma expressão preocupada.

- Tem certeza? - Aceno com a cabeça, mas ela continua insistindo. - Se quiser pode ficar no sótão, é grande e privativo.

Isso é tentador.

Sorrio, cedendo à sua insistência. Ela também sorri e pega minha mala ao meu lado, arrastando atrás de si, eu a acompanho em silêncio, me sentindo um pouco envergonhado pelo trabalho que estou dando.

Ela puxa uma corda pendurada no teto no meio do corredor dos quartos e logo uma escada se desmonta de lá. Ela sobe com um pouco de dificuldade devido a mala, então seguro-a levemente para que as rodas não se prendam nos degraus e Anne possa subir com facilidade.

O sótão é escuro e tem apenas um janela pequena que ilumina um pouco o espaço a sua volta. Anne liga a luz, me permitindo enxergar a cama de casal com apenas um colchão velho e alguns móveis empoeirados, juntamente de uma mesa pequena de tênis.

- Sinto muito pela bagunça, ainda vou limpar tudo isso pra você ficar confortável. - Anne diz retirando algumas caixas empoeiradas do lado da cama, eu a ajudo a carregar, colocando-as próximo à saía do sótão, por onde havíamos entrado.

- Realmente não precisa... - Começo, mas ela me corta.

- Você é meu filho agora. - Ela diz, me deixando sem palavras. - Eu só quero o melhor pro meu filho.

Ela leva a mão fria ao meu rosto, olhando diretamente em meus olhos. Tem uma expressão facial de cansaço, e um sorriso fraco surge no canto da sua boca.

Ela tira suas mãos da minha pele e vira-se, descendo as escadas de costas tomando cuidado para não escorregar. Ela aponta para as caixas na ponta da escada e eu jogo com cuidado uma por uma, com medo de machucá-la por ainda estar com alguns arranhões do acidente de carro que a impediu de me ver antes, mas ela agarra com precisão deixando-as no chão aos seus pés. Por fim ela arrasta todas pelo chão com cuidado até algum quarto. Eu fecho a abertura no chão, observando o espaço à minha volta.

Ainda tenho suas palavras martelando em minha cabeça, ando para todos os lados do sótão-quarto pensativo.

Ela disse que sou seu filho, soou tão repentino e acolhedor. A maneira como ela falava as tais palavras e como me olhava me deram a certeza que ela estava precisando tanto de uma família quanto eu, e ambos somos o sonho um do outro.

Sinto um sorriso bobo surgir no canto da minha boca, e me direciono até minha mala deitada no chão, sentando nele, mesmo através das calças jeans eu pude sentir o quão gélido ele estava, mesmo que de madeira.

Orphanage [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora