Twenty

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- Anne, me deixe lavar a louça. - Digo desligando a televisão na sala e correndo para a cozinha, tirando suas mãos da esponja e dos pratos, ela se assusta, e nega ameaçando jogar água em mim. Levanto as mãos em rendimento, me afastando com um sorriso no rosto.

Ela tem se esforçado muito ultimamente, nesses quatro dias que estou aqui ela tem dado tudo de si para deixar em pé nesta casa. Eu apenas quero poder ajuda-la, ela já faz demais, e vai acabar sobrecarregando com tantas preocupações e tarefas, mesmo que Des a ajude quando não está trabalhando.

Ontem à noite ouvi eles discutindo na cozinha, enquanto descia as escadas para buscar um copo de água, voltei imediatamente para o andar de cima, e me senti mal com a tensão entre eles. Não que me achasse culpado, nem mesmo sei do que estavam falando. Apenas me senti incomodado com o clima ruim; brigas, gritos, corações partidos não me trazem lembranças nada boas.

- Você ama Des? - Pergunto com as costas apoiadas na parede da cozinha, observando-a lavar os pratos com uma expressão serena. Ela me olha com dúvida pela pergunta repentina, e sorri afirmando com a cabeça. Sinto minhas bochechas corarem por ser tão aleatório.

- Claro que o amo. - Ela fecha a torneira sem tirar o sorriso dos lábios, e seca as mãos no pano de prato, encostando a cintura no balcão da pia para me olhar. - Por que eu não amaria?

- Vocês brigam as vezes. - Respondo fitando o chão para evitar qualquer contato visual que me deixasse envergonhado pela pergunta ridícula, mas ela se aproxima de mim, e obrigo a mim mesmo a olha-la enquanto fala.

- Brigar é essencial para o amor, é como se os dois andassem em um fio, e a força desse fio fosse definida pela intensidade do amor deles.  - Ela gesticula com as mãos, formando um fio imaginário com a ponta de seus dedos. - As brigas são o que desafiam esse fio a se partir, elas enfraquecem-no, por isso é importante brigar, mas sempre amar o triplo do que se briga, assim o fio permanece sempre forte.

Ela me leva pelo pulso para sentar na mesa de jantar, esse ato me faz ter certeza que ela tem muito mais o que falar, e espera que eu fale algo a respeito também. Não gosto da ideia, é um assunto que me deixa frágil e pensativo, mesmo que algum dia eu tivesse que falar sobre isso com meus pais, quanto mais tarde melhor. Pelo menos até que eu superasse essa ferida aberta que Louis me causou.

- Por que essa pergunta? - Ela corta meus pensamentos, e tenho certeza que ela sabe que tenho algo a dizer.

Eu simplesmente não posso, como se me abrindo para outra pessoa sobre isso eu desse a permissão para Louis voltar com tudo para minha vida, com muita mais dor e intensidade que nunca, mas ainda sem tê-lo por perto.

Dou de ombros, e vejo sua boa se entreabrir, mas ser impedida de dizer algo ao que Des desce as escadas ajustando o colarinho de sua camisa. Anne levanta-se da mesa de jantar e pega o saco do meu almoço encima do balcão, me entregando com um beijo estalado na testa.

- Cuidado, rapazes. - Ela diz na porta de casa, após deixar também um beijo na bochecha de Des, eu e ele entramos em seu carro, e logo a casa sai de nossa vista quando viramos a rua.

Não demora nada para chegarmos na escola, é apenas um ou dois quarteirões e me pergunto se algum dia me dariam liberdade de ir sozinho, sem precisar de carona ou de transporte.

Saio do carro fechando forte a porta após Des desejar um bom dia de aula. Ele logo parte com velocidade para longe do meu campo de vista, e entro correndo na grande construção onde outros adolescentes entram distraído com seus amigos ou seus celulares.

~

A aula antes do almoço é educação física, foi necessário dar toda a volta na escola para achar a quadra de esportes, e só então descobrir que eu devia ter roupas esportivas para essa aula.

Orphanage [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora