Hold on Tight

Get out!

Aula de teatro, a última, ainda bem. Eu só queria ir pra casa e dormir por uma semana.

— Vocês hoje irão ter a atividade do espelho, ficarão de frente para o seu parceiro e imitarão tudo o que eles fizerem. Eu escolho as duplas.

Olhei pra Ro e dei um sorrisinho, mas logo depois olhei pro Luke e vi que ele olhava pra ela, seria legal se os dois fossem juntos.

O professor foi formando as duplas e quando chegou no meu nome...

Victoria Hudson e... Shawn Mendes. O mais previsível possível.

Obrigada, professor.

Olhei sem jeito pro Shawn e andei em sua direção. O palco do teatro era enorme e as duplas ficavam bem distantes umas das outras.

— E aí, loirinha? – ele disse sorrindo, me fazendo rir.

— Você não vai parar de me chamar assim, não é?

— Nem tão cedo. – ele deu de ombros e o professor disse para começarmos. – Então, como vai o seu dia?

Ele levantou uma mão dando tchau e eu fiz o mesmo.

— Ah, vai ótimo, no momento eu estou de frente pra um garoto que me irrita imitando ele dando tchau há uns vinte segundos. – ele soltou uma risada e eu coloquei as mãos na cabeça, bagunçando o cabelo.

— Qual é, eu não quero bagunçar o cabelo.

— Parece uma garota falando. – ele revirou os olhos e eu ri.

— Como foi com o Nash? – sua fisionomia tornou-se séria e ele começou a apertar suas bochechas, fazendo com que eu fizesse o mesmo.

— Ah, normal, ele só se apresentou.

— Só se apresentou?

— É... Quer dizer... Ele fez algo estranho com o dedo quando apertou minha mão, mas...

— O que ele fez?

— Passou o dedo na palma da minha mão antes de soltá-la. – Shawn revirou os olhos e eu não entendi. – Por quê? O que significa?

— Você não sabe?

— Não... – parei de apertar minha bochecha e fiz uns movimentos com as mãos, como se estivesse deslizando na parede.

— Bom, pros garotos normais isso significa uma coisa: sexo. Mas... Pro Nash, isso significa que ele não vai desistir de você até conseguir ficar contigo.

Arregalei os olhos e dei uma risada.

— E como você sabe? Ele já fez isso com você?

— Engraçadinha. – ele disse fechando a cara. Nossa, não sabia que era tão séria essa rixa deles. – Ele já fez isso com o colégio todo e conseguiu o que queria, provavelmente vai conseguir com você também.

— Por que provavelmente? Você acha que eu sou tão fácil assim?

— Não é que você seja fácil, só que o Nash sabe como convencer alguém.

— Isso nós vamos ver. – eu disse piscando o olho e ele deu um sorriso fraco.

O professor voltou pro palco e deu as instruções do novo exercício.

— Agora vocês vão tocar no parceiro, o que eles fizerem com vocês, vocês têm que fazer com ele. – uns alunos começaram a rir e o professor bufou. – Sem gracinhas.

Olhei meio desconfiada pro Shawn e ele esticou seu braço, alisando meu rosto com seus dedos. Eu mordi o lábio inferior tentando segurar o sorriso e estendi o meu braço, fazendo o mesmo no rosto do Shawn.

— Você está corado ou é impressão minha? – eu disse sorrindo e ele passou uma mão no rosto.

— Não, foi por causa do exercício do espelho, quando eu apertei a bochecha...

— Ah...

Era estranho aquilo, eu sentia raiva do Shawn porque ele gostava de me irritar, mas talvez ele não fosse tão "perigoso" como diziam... Ou...

Ou talvez fosse.

Os piores demônios se vestem de anjos.

Eu poderia confiar nesse seu jeito? Ele estaria sendo... Ele?

— Agora troquem a dupla, o garoto com o garoto da direita.

Obrigada por quebrar o clima tenso. Shawn deu um sorrisinho e andou até a garota que estava ao meu lado. Quando olhei pra frente, era Finn que se encontrava ali.

Dei um sorriso e senti tudo girar, a última coisa que eu vi foi o rosto de Finn de preocupação e o olhar de Shawn sobre mim. Senti meu corpo cair no chão mas foi suspenso por alguém.

Logo depois, tudo apagou.

Shawn P.O.V.:

Quando trocamos de dupla e vi que a Victoria ficou com o Finn, ela sorriu pra ele e quando olhou pra mim, seus olhos reviraram e ela foi caindo.

Antes que ela caísse no chão, eu a segurei e o Finn ficou do seu lado enquanto chamava o professor.

Nós tentamos acordá-la, mas não adiantou, eu a peguei no colo e a levei pra enfermaria do colégio.

(...)

— Como ela está? – eu perguntei quando a enfermeira me deixou entrar.

— Está tomando soro, ela estava muito desidratada.

— Posso falar com ela? – a enfermeira apenas assentiu com a cabeça e eu entrei no quarto, ela estava sentada em uma cadeira e fechou os olhos ao me ver.

— Não... – ela disse com a voz fraca.

— O que foi?

— Não quero que me veja assim. – eu senti na cadeira ao seu lado e olhei pro seu braço que estava levando o soro.

— A Roberta e os seus amigos estão lá fora querendo te ver. – ela levou uma mão ao rosto e respirou fundo. – O que você está fazendo, Victoria? A enfermeira disse que pelo seu grau de desidratação você passou dias sem comer. Pra que isso?

— Você não entende, tá?

— Eu posso tentar entender se você quiser.

— Mas eu não quero. Por favor, sai daqui.

— Victoria, eu só...

— SAI! – ela falou olhando nos meus olhos e mordi o lábio inferior com raiva.

Raiva de mim. Raiva por me deixar levar por uma mera atração, por eu ter agido gentilmente com uma garota que eu nem conheço direito. Raiva do que eu estava sendo quando eu estava perto dela. Eu não poderia me deixar levar, não poderia voltar a ser o Shawn que eu era por causa de uma loirinha que apareceu do nada.

— Foda-se. – eu disse dando de ombros e me levantando. Ela me olhou surpresa, como se fosse outra pessoa no meu lugar.

Mas não era, aquele era eu.

E agora ela vai conhecer o meu verdadeiro eu.