02 - Renascida, parte 3

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Sua mão, mesmo fria, continuava me causando aquela estranha eletricidade. Eu não me importei quando ele me guiou para fora daquele necrotério. Enquanto conversava com ele, eu nem sequer tinha ligado para onde eu estava, embora, parando para pensar sobre, eu só quisesse estar o mais longe dali.

Talvez eu fosse louca por sair daquele necrotério com um desconhecido, porém James era a primeira pessoa que me fazia me sentir bem. Nunca eu me senti tão confortável ao conversar com alguém, muito menos alguém com aquela aparência estranha. Sorri, assim como ele era estranho para mim, eu era estranha para ele.

No fim, eu acreditava que estava sonhando... Então, se era um sonho eu não precisava me preocupar, pelo contrário, eu queria continuar sonhando. Pude ver de canto de olho o sorriso torto de James. Sim, ele era lindo, um estranho-lindo, talvez. James era o primeiro garoto pelo qual eu me interessei, e isso era péssimo, pois estávamos em meu sonho e ele não poderia ser real. James era apenas uma projeção de minha mente, talvez ele fosse tudo que eu queria e nunca teria: um garoto tão estranho quanto eu, bonito, sexy, acolhedor e que me fazia sentir bem.

James deveria me ver como uma garotinha sem graça e comum com meu cabelo loiro comprido e liso, magra, baixa, sem nenhuma característica diferente, enquanto ele era o oposto disso. James não era comum, nem sem graça. Suas características e expressões eram fortes, sua beleza era exótica e perfeita. O maxilar de James era um pouco quadrado, seus lábios eram rosados, seu nariz era fino, seus olhos eram grandes, suas sobrancelhas eram azul-marinho, enquanto seu cabelo arrepiado era azul-piscina. Ele era alto, obviamente forte, e pela primeira vez imaginei como ele seria por baixo da roupa.

Será que ele tinha mais tatuagens? Eu achava que sim. Será que ele era todo musculoso e dividido? Eu imaginava que ele deveria ser mediano, musculoso sim, dividido também, mas nada muito exagerado. Será que ele tinha mais algum piercing? Talvez, o único que eu via era do seu lábio inferior e era bastante atraente.

— Uma moeda para seus pensamentos. — James sussurrou me guiando rua afora.

Seu sorriso era cínico, como se ele soubesse exatamente o que eu pensava e queria me deixar sem graça, fazendo-me falar em voz alta. Tentei sorrir, mas acho que não obtive muito sucesso, eu deveria estar, mais uma vez, corando. Droga!

Tossi um pouco e, finalmente, disse o que não era de todo uma mentira:

— Estou absorvendo todas as novidades...

— Quando chegarmos em Marte, um Tutor será selecionado para você e você poderá tirar todas as suas dúvidas com ele. — James me encarou de um jeito que fez meu estômago dar voltas, ele parecia tão sincero e perfeito. — Eu posso te ajudar também.

— E minha família?

— Eles, junto com seus amigos, acharam que você morreu. Seu enterro será com o caixão fechado pela forma que você hipoteticamente morreu.

— Eu não tenho amigos. — sussurrei. — Meu enterro deve estar vazio, nem meus pais devem ir.

Coloquei minha mão livre na lateral da minha cabeça e senti um pequeno inchaço onde eu tocava, deve ter sido a marca que ficou da minha batida. Eu não estava me fazendo de vítima para James, pelo contrário, era a mais pura verdade. Eu não tinha ninguém que se importasse de verdade comigo na Terra. Talvez fosse por isso que eu estava deixando um total estranho me guiar para Marte, e também, eu achava que era um sonho.

Marte! Eu nem era tão ligada em ficção científica e distopias para sonhar com isso. Ir à Marte parecia uma piada mal feita, mas eu queria acreditar nisso. Talvez em Marte eu não fosse tão estranha.

A EstranhaOnde histórias criam vida. Descubra agora