Diabo Civilizado (Conto de James)

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em 2017:

Para agradecer aos 50k de visualização e os mais de 5k de votos, o conto de James. É pequeno, mas explica um pouco mais sobre ele.

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Marte; A-Zero, 90 de Primavera


Quando tudo parecer estar muito bem, desconfie.

Eu fora criado assim. Criado para desconfiar, porque a vida nunca era sempre boa, mesmo em Marte. E eu estava certo. No dia 87 eu e Claire havíamos passado o dia quase todo juntos, demos nosso primeiro beijo e ao todo criamos mais intimidade. Porém dois dias depois, eu descubro por Merry que ela simplesmente não acordava. Assim, do nada, Merry me ligou e disse: "Hey, Claire parece desmaiada".

É, desconfie quando tudo parece andar muito bem.

Eu estava agora sentado em uma poltrona no hospital vendo Claire deitada, não apenas desmaiada, mas em coma. Meu pai e Merry estavam no restaurante do hospital. Eu me recusei a ir. Queria fica vendo-a.

Claire estava há quase um dia completo em coma e os médicos não sabiam o que ela tinha. Era algo totalmente sem explicação.

Enquanto a observava eu lembrava do primeiro dia que eu a tinha visto. Fora em um necrotério. Aposto que ninguém na Terra ou até mesmo em Marte poderia dizer que a primeira vez que viu a pessoa pela qual se apaixonou fora em um necrotério. Eu tinha uma história interessante para contar, ao menos. Não fora como amor à primeira vista, mas quase.

Eu deixei que os terráqueos levassem seu corpo para o necrotério e colocassem uma roupa bem esquisita e própria do local. Todos precisavam achar que ela havia morrido, mas assim que os terráqueos a deixaram sozinha, eu fora até onde ela estava, abri a gaveta que seu corpo estava deitado e troquei sua roupa.

Não era como se ver uma moça bonita e jovem nua no primeiro "encontro" havia sido o ponto alto do meu dia ou algo do tipo. Afinal, ela estava aparentemente morta e eu fora tão automático que nem me prestei atenção ao corpo, de até então, Clarice.

Apaguei aquela luz insuportável da sala do necrotério e me encostei em um canto esperando calmamente ela acordar.

Até aquele momento eu a havia achado sem graça demais. A jovem não tinha tatuagens, nem piercings, nem nada que indicasse um estilo seu. Era apenas "seca". Estranha.

Mas quando Clarice, sem saber que estava me olhando, me olhou (porque ela ainda não estava enxergando perfeitamente no escuro, como eu), eu poderia jurar que meu coração, sempre morto, batia.

Ela não era a garota mais linda que eu já tinha visto em minha vida ou algo do gênero, mas ela era um escape, uma pessoa que para mim parecia ser comum e tudo que eu queria era ser comum também.

Às vezes eu invejava Luke. Ninguém esperava nada dele. Ninguém o culpava se ele errasse e quando ele fazia algo certo ninguém dizia nada além de quê era sua obrigação. Luke provavelmente não sabia, mas ele poderia ser quem ele era sem pressão alguma.

No meu caso era totalmente diferente. Todos esperavam algo de mim. Todos esperavam que eu, James Sky, fosse o bom filho, o bom amigo, o bom Rastreador, o bom aluno. Eu não poderia errar. Eu tinha que ser "perfeito".

Eu não era e nunca fui uma pessoa má, embora tinha momentos que, nem mesmo eu, aguentava ser aquilo que todos queriam que eu fosse.

Com Luke não tinha esse problema. Ele estava livre disso. Meu meio-irmão parecia esconder algum segredo, era um tanto quanto enigmático, enquanto eu, era óbvio e sincero. Eu não tinha um segredo oculto, eu era aquilo que eu demonstrava. Mas no fim dos dias, era eu quem ficaria todos os dias no hospital com Claire. Luke deveria estar pouco se importando em ir visitá-la.

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