Sua pele era macia e fria, mas me causava eletricidade por todo meu corpo. Seus dedos, que tocavam meu pulso, me acariciavam devagar e, ao mesmo tempo que eu sentia sua frieza, eu sentia calor. Bem, seus dedos, assim como seu pulso, eram macios e frios, mas seu toque me despertava calor e eletricidade incontrolável.
— Não era eu quem deveria contar essas coisas para você, mas como essa é a minha primeira vez rastreando e você, obviamente, minha primeira rastreada, sinto-me quase na obrigação de explicar. — James não largava o meu olhar. Suas pupilas estavam dilatadas e o roxo que havia ali era mais visível. — Você é uma Renascida, a cada um milhão de nascidos na Terra, um será um Renascido.
— Me explique melhor, por favor. — pedi me afastando de seu toque e me sentando na maca.
— Antes de tudo, posso apagar a luz? — James estreitou os olhos como se a luminosidade o ferisse. — Está me incomodando...
Eu não poderia deixar, pois eu não queria ficar no escuro com um quase-desconhecido. Ele poderia ser louco e tudo mais, mas eu não conseguia negar e não sentia medo dele, então acabei assentindo.
Quando James apagou a luz, o mais estranho de tudo aconteceu: eu enxerguei. Não perfeitamente, mas bem. Parecia que meus olhos usavam um filtro sépia. Procurei algum vislumbre de luz da rua ou fresta, mas não parecia haver nenhuma. Eu estava simplesmente enxergando no escuro?
— Sim. — James respondeu como se lesse, mais uma vez, meus pensamentos.
— O quê? — praticamente berrei. Ele não poderia saber o que eu pensava, poderia? Não, eu não queria que ele lesse meus pensamentos, pois eram meus. Pri-va-dos.
James pôs ambas as mãos na lateral de sua cabeça, como se sentisse um incômodo nela, mas que rapidamente fora embora, porque ele voltou a sorrir e me fitar, ao dizer:
— Para todos você morreu, Clarice. Morreu na Terra, e agora Renasceu para sua nova vida.
— Mo-morri? — gaguejei.
— Sim, isso acontece. Nós, Nascidos, forjamos a morte de Renascidos um dia antes de seu aniversário de 16 anos, então quando os Renascidos acordam eles renascem para sua nova vida e morrem para todos que conheceram na Terra.
Comecei a rir um pouco, totalmente incrédula.
— E onde é essa minha nova vida?
— Em Marte. Eu sou um Nascido de Marte e você uma Renascida. Isso significa que sou completamente marciano e você metade marciana e metade terráquea.
— Isso não faz sentido nenhum!
— Não, mas vai fazer. Você é literalmente uma em um milhão e não pode mais viver na Terra.
— Por quê? — isso só podia ser uma pegadinha. Mas de quem? Eu não tinha amigos que poderiam brincar comigo dessa forma!
— Porque você tem poderes sobrenaturais, Clarice.
PODERES SOBRENATURAIS? Eu estava sonhando, só pode. Simplesmente isso era o que eu sempre quis, sempre sonhei e agora estava acontecendo. Eu era enfim a protagonista da minha história.
— Quais poderes? — sussurrei meio acreditando, meio desconfiando.
— Não sabemos ainda, mas sempre somos avisados quando um Renascido nasce, só em Marte seus poderes serão observados e explorados, na Terra eles não são desenvolvidos.
— Por que eu nunca soube da existência de vida em Marte?
— Se você soubesse, todos da Terra saberiam e seria a destruição do nosso planeta. Humanos terráqueos são destruidores, se estão acabando com sua própria terra, imagine se descobrissem a nossa.
— Há mais alguma coisa que eu precise saber?
— Muitas, mas em Marte você terá um Tutor Nascido para tirar todas as suas dúvidas. — James suspirou e ficou bem próximo de mim, eu não senti sua respiração, o que era estranho. — Agora você só precisa de duas coisas.
— Quais?
James tirou do bolso da jaqueta um colar como o dele, mas não era azul, na verdade era transparente. Não gostei, sem graça. E ele me estendeu aquele colar sem graça.
— Esse é um colar gravitacional. Em Marte é essencial você usá-lo, sempre, pois não há 100% de gravidade e o colar lhe dá o equilíbrio suficiente. E ele mudará de cor quando você tocá-lo.
— Por que a cor muda? — perguntei ainda sem pegar no colar que tinha aquele pingente transparente.
— Em Marte cores são tão essenciais quanto esse colar. Minha cor é o azul.
Assenti e peguei o colar, colocando o pingente na palma da minha mão. Então, como James tinha me alertado, a cor mudou para roxo e surpreendentemente o colar ficou lindo. James tirou de minha palma e pôs em meu pescoço carinhosamente, encaixei ele no meio de meus seios, sentido sua frieza e seu calor.
— Parece que sua cor não é tão diferente da minha. — ele disse. — Agora só mais uma coisa. — encarei aqueles olhos azuis, mas fiquei fascinada mesmo pelo vislumbre roxo. — Você pode escolher um novo nome.
NOVO NOME? Tudo estava acontecendo do jeito que sempre sonhei, não era possível, eu acordaria. Eu até já sabia o nome que queria, eu sempre soube, como se eu sempre soubesse que haveria oportunidade de mudar.
— Claire. — disse.
— Não é tão diferente do seu.
— Não, mas esse eu escolhi. — ele assentiu como se entendesse.
— E sobrenome? Você não precisa de sobrenome, a não ser que você queria ser reconhecida como Claire alguma coisa...
— Você tem um sobrenome?
— James Sky. — seu nome era tão bonito quanto o dono.
— Eu posso escolher qualquer coisa?
— Sim.
— Claire Blue. — azul era uma cor que eu me identificava, tirando o roxo, e esse nome parecia simplesmente perfeito.
— Eu amei. — James sorriu e, mesmo eu estando sentada na maca, senti minhas pernas trêmulas com seu lindo sorriso. — Nossos sobrenomes combinam... Sky Blue.
Dessa vez fui eu quem sorriu amplamente. Ele era lindo. Perfeito com aquele estilo diferente, para uns, até estranho, mas para mim, perfeito.
— Eu tenho mais uma dúvida. — disse e James esperou pacientemente. — Minha roupa. Como... err?
— Eu te vesti, Claire. — amei ouvir sua voz falar meu novo nome, sobretudo, um misto de vergonha me dominou. Eu estava ruborizando, podia até sentir minhas bochechas ficarem vermelhas. Que vergonha! — Precisamos ir!
— Como vamos chegar em Marte?
— Por um elevador. — ele disse simplesmente.
— Elevador?
— Você verá! — eu tinha outras mil perguntas, sobre minha família e sobre Marte, mas quando James entrelaçou seus dedos com os meus, me puxando para fora da maca, eu não consegui pensar em mais nada.
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A Estranha
Science-FictionClarice Jones. Esse era meu nome. Claire Blue. Esse tornou-se meu nome quando James Sky, um Rastreador, disse-me que eu era uma Renascida. Metade terráquea, metade marciana. Eu era uma Estranha em meu país, em Marte eu tornei-me ainda mais Estranha...