Marte; A-Zero, 89 de Primavera.
Depois do acontecido do dia anterior, passei o resto do dia 88 no dormitório. James tinha vindo me visitar, junto com Loren, quando souberam o que eu tinha aceitado.
Merry explicou suas inseguranças e eles concordaram que poderia ser isso, mas nenhum dos três sabia o porquê. Em um momento eles ficaram tranquilos, dizendo que eu deveria descobrir meu poder, desistir de lutar em cima da hora e fim. Talvez, segundo eles, não fosse nada sério e se houvesse alguém em minha mente estivesse apenas brincando comigo, sem querer me prejudicar de verdade.
Porém, algo me dizia claramente que não era só isso. Não era apenas um Nascido brincando com a cabeça da mais nova Renascida. Parecia ser algo muito mais sério que isso e algo que eu não queria descobrir o que era.
— Eu devo ir hoje para as aulas? — perguntei à Merry.
— Não.
— Tem certeza? — ela estava sentada em sua cama com um olhar sério.
— Sim, Pequena Claire. — brincou. — Você tem ir na sessão com Luke, seu Conselheiro. — Merry ironizou e colocou claramente ênfase na última palavra.
Assenti, ela tinha razão.
— Você tem noção de quando será a luta?
— Não, você pode adiar descobri seus poderes para não precisar lutar e...
— Não! — eu me ajoelhei em frente a ela e descansei minhas mãos em seus joelhos. — Merry, eu realmente não sei por que eu aceitei tal luta, mas eu vou até o fim com ela.
— Você não tem noção de seus poderes, eles podem não ser nada em comparação com os de Ariana, e ela sabe os dela desde cedo, sempre teve essa força desigual.
— Merry... Ela não poderá me machucar seriamente, não é?
— Nada que te faça parar no hospital, mas pode ser uma luta ruim, injusta.
— Não se preocupe comigo ainda... Temos tempo, afinal eu nem sequer sei qual meu poder.
— Você me promete que contará em primeira mão sobre seu poder?
— Sim, Merry, eu prometo.
* * *
Mais tarde, na madrugada daquele dia 89, Merry me levou até a sala de Luke, para mais uma sessão. Antes de ir, ela se despediu com um abraço apertado. Ela estava com muito medo por mim, tanto que parecia exalar aquilo.
Eu, estranhamente, não estava tão preocupada com a tal luta, e sim com a possibilidade de alguém estar em minha mente. Já bastava saber que, além de James, muitas outras pessoas poderiam ler meus pensamentos, mas agora, saber que alguém poderia determinar minhas ações, deixava-me enojada.
Merry não esperou que Luke aparecesse para ir embora, ou seja, eu estava sozinha quando bati à porta dele. Quando ele abriu, seu sorriso se tornou largo e um tanto louco, quase como uma animação da Disney.
— Eu estava esperando por você. — ele disse abrindo mais a porta para eu entrar.
Luke vestia uma camiseta branca, calça cinza como a touca que cobria seu cabelo e um pedaço de sua testa. Seus pés estavam descalços, deixando-o com um ar ao mesmo tempo largado e despojado.
— Eu não avisei que vinha.
E era verdade, eu não tinha avisado. Segundo Merry eu não precisava, pois ele saberia, e era verdade. Ele sabia.
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A Estranha
Science FictionClarice Jones. Esse era meu nome. Claire Blue. Esse tornou-se meu nome quando James Sky, um Rastreador, disse-me que eu era uma Renascida. Metade terráquea, metade marciana. Eu era uma Estranha em meu país, em Marte eu tornei-me ainda mais Estranha...