#8 em Ficção Científica no dia 05.03.16 ♥
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James e Merry me levaram para um salão/estúdio de tatuagem, não muito longe de nosso dormitório.
— Olá! — uma mulher um pouco acima do peso me cumprimentou.
Ela tinha um rosto muito bonito, usava um vestido vermelho-vinho, deixando bem claro, junto com seu cabelo vermelho sangue e seu colar gravitacional vermelho, que sua cor era aquela. Mas eu já imaginava que um tatuador fosse da cor vermelha, pelo fato que pessoas dessa cor (e derivados do vermelho) eram ligados a arte, e não tinha arte mais bonita que a arte de desenhar.
— Renascida, huh? — a tatuadora falou.
— Sim — Merry respondeu, mesmo não sendo uma pergunta propriamente dita —, ela quer tudo. Cabelo, piercing, alargador e tatuagens.
— Eu não disse que queria tudo! — cutuquei Merry — Eu disse que queria mudar o cabelo e algumas tatuagens, nada demais...
— Querida — a tatuador disse —, quando você começar a se ver mudar, você quererá tudo.
— Quer que fiquemos com você na sala? — James sugeriu pegando em minha mão.
— Não. — respondi firmemente.
* * *
A tatuadora, que se apresentou como Wine (em tradução: Vinho), me levou até uma sala na qual eu mudaria tudo, ou quase tudo. Deixei James e Merry na recepção, não queria que eles estivessem no momento que eu decidisse as tatuagens e a mudança de meu cabelo.
Wine pediu para eu sentar em uma daquelas macas confortáveis enquanto ela procurava seus desenhos e os tons de roxo possíveis para eu pintar meu cabelo.
— Você está confortável? — Wine perguntou me entregando seus desenhos e um papel com os tons de roxo.
Assenti e rapidamente decidi um tom de roxo-escuro. Meu cabelo era comprido, mas eu já estava cansada dele, queria cortar. Se fosse para mudar, que fosse bastante.
— Então você é cabeleireira e tatuadora?
— Sim, não me decidi entre essas duas profissões, no fim acabei optando pelas duas... — Wine tirou o folheto com as cores do roxo da minha mão e sorriu. — Medo?
— Um pouco. — admiti.
— Não tenha, farei tudo o que você quiser, não exagerarei.
— Começaremos pelo quê?
— O que você prefere?
— Cabelo. — eu já tinha olhado seus desenhos, mas ainda não tinha decidido qual queria em minha pele.
* * *
Não demorou muito para Wine entrar em ação. Ela foi fazendo em meu cabelo exatamente o que eu pedia. Um espelho enorme deixava-me ver tudo.
Primeiro ela umedeceu meu cabelo, e rapidamente começou a cortar. Ver meu cabelo caindo era um pouco tenso, havia mais cabelo no chão do que em minha cabeça, mas eu estava gostando do que via.
Wine foi rápida demais, em poucos instantes meu cabelo estava acima de meus ombros, repicado e pintado de roxo-escuro.
Eu estava me sentindo bem. Diferente, mas bem. Meu rosto estava em maior destaque e reparei que a cor dos meus olhos parecia sobressair, parecia até um pouco roxo.
Wine também reparou, pois ela me encarou e disse:
— Querida, seus olhos estão mudando...
— Mudando? Isso é ruim?
— Não é ruim, é normal, Renascidos mudam tudo com o passar dos meses.
— Meses? — arqueei uma sobrancelha para Wine. — Eu tenho dias em Marte.
— Dias? — Wine arregalou os olhos. — Você é prematura. Mudanças demoram muito mais do que dias.
— Isso é ruim, não é?
— Apenas não comente com ninguém. A mudança de seus olhos não está tão visível assim. Não se preocupe. Por que não fazemos logo suas tatuagens?
Tentei em vão não me preocupar, mas decidi colocar um piercing no nariz e alargadores roxos pequenos em ambas as orelhas.
Depois de feito, vi um desenho em um canto da sala. Antes que Wine pudesse me deter, peguei o desenho, era de uma mulher de cabelo roxo, do mesmo tom do meu, ela vestia uma armadura que parecia com um escorpião, no desenho ela estava deitada, como se rastejasse, tal qual um réptil.
Ela era linda e tinha um jeito de poder. Uma parte involuntária de mim queria ser como ela, queria ser ela, com toda aquela força e poder interior. Se em um desenho ela transmitia sua força, eu imaginava o poder real dela, se ela existisse.
— Eu quero ela! Nas costas. — mostrei o desenho a Wine e ela me olhou com pânico.
— Tem certeza? Ela não foi uma pessoa boa.
— Não foi? Ela existiu?
— Sim, ela foi a mulher mais poderosa de Marte.
— Ela matou alguém, não é? É ela que foi trancada em uma prisão?
— Sim.
Olhei mais uma vez para o desenho e estranhamente me senti próxima a ela. Talvez ela tivesse sido apenas incompreendida.
— Eu quero ela, porém podemos modificar, para ninguém achar que é ela?
— Tem certeza? Ela é tão odiada quanto... Adolf Hitler na Terra, mesmo depois de séculos.
— Tenho certeza.
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A Estranha
Ciencia FicciónClarice Jones. Esse era meu nome. Claire Blue. Esse tornou-se meu nome quando James Sky, um Rastreador, disse-me que eu era uma Renascida. Metade terráquea, metade marciana. Eu era uma Estranha em meu país, em Marte eu tornei-me ainda mais Estranha...