Marte; A-Zero/J-Dez, 115 de Primavera.
Eu não queria machucar ninguém. Em nenhum momento essa tinha sido minha intenção, embora eu fosse fazer com que eles me respeitassem. Eu, Claire Blue, estava cansada de ser pisada, humilhada e subestimada. Não mais.
Com o meu grito, Ariana estava no chão, de joelhos, estática.
Eu não poderia mentir e dizer que não gostava de vê-la daquele jeito. Eu gostava. Ela merecia.
A plateia estava no mais perfeito silêncio, eu não tinha nada a ver com o silêncio deles. Todos deveriam estar verdadeiramente chocados comigo.
De canto de olho pude ver James impressionado e boquiaberto, como Merry e Loren, já Luke sorria, ele esperava por aquilo, ele sabia quando eu faria, afinal ele via o futuro.
Olhei para toda a plateia e achei Ash não muito longe de Luke. Ele acenou para mim e eu assenti.
Voltei minha atenção para Ariana e disse enquanto ela me encarava sem conseguir se mexer:
— Tem certeza que não quer desistir? O tempo obrigatório já terminou e...
— Nãaaaao! — ela berrou.
— Talvez isso possa doer... — expliquei para uma Ariana com olhar perplexo e paralisada.
— Nãaaaao! — era a única palavra que ela conseguia dizer.
Eu sorri.
— Sabe, socos doem... Muito. Um no estômago já dói, agora imagine sequências do mesmo. — quando acabei de falar, fiz com que o psicológico de Ariana sentisse um ou outro soco em seu estômago tão forte quanto eu senti.
Eu não precisava encostar nela para fazê-la sentir dor. A mente era realmente algo poderoso, com ela eu poderia fazer coisas incontáveis.
Ariana estava com suas mãos sobre sua barriga, rosnando de dor. Não era uma cena bonita de ver, mas também não era bonito o sangue que escorria de meu nariz e de meus lábios.
— Muros no rosto também doem. — assim que acabei de falar, Ariana já estava deitada no chão de bruços.
Sua dor era interna e não visível. Nenhum sangue sairia dela e assim que eu fizesse acabar nem sequer aparentaria que ela "apanhou".
A plateia continua no mais perfeito silêncio.
— Ariana — aliviei um pouco sua dor para ela conseguir me olhar do chão —, era pra você ter exigido saber qual era meu poder... — de canto de olho vi Luke assentindo e Ash com os olhos quase soltando de sua face. — Eu sou uma Mística. A Única Mística.
Todos da plateia sibilaram alguma coisa e até os juízes pareciam chocados. Pude ouvir quando um deles disse para acabar com a luta e outro negou o pedido.
Ariana cuspiu sangue e tentou ficar de pé, mas meu poder era mais poderoso que sua força física. Eu a empurrei de volta ao chão sem encostar um dedo nela.
— Tem certeza que não quer encerrar a luta? — dei mais uma chance a ela.
— Não!
Eu sorri e a fiz bater o rosto no chão acolchoado, mas psicologicamente ela deveria sentir que estava batendo em um chão de concreto.
Eu estava em pé bem próximo dela, quando sua mão apertou meu calcanhar e me puxou ao chão. Caí com tudo e, nesse um segundo de desconcentração, ela pulou para cima de mim me acertando um soco no olho.
— Dói, não é? — ela esbravejou.
— Sim. — assenti batendo minha mão de leve em seu braço, mas fazendo-a sentir como um soco perfeitamente dado, logo quem estava em cima era eu.
Não precisei ficar muito tempo naquela posição, a fiz sentir muita dor enquanto me levantava do chão e tomava uma distância segura dela.
Olhei rapidamente para a plateia e não achei James, Loren ou Merry. Será que os três tinham ido embora? E se tinham, por quê?
Perdi mais uma vez o foco e vi Ariana em pé correndo até mim. Eu fui mais rápida e a fiz sentir como se suas pernas estivessem quebradas, logo ela caiu no chão e gemeu de dor.
— Claire! — ouvi a voz de Ash me chamando.
Quando olhei para trás minha mente pareceu se limpar, lembrando-se dos mínimos detalhes de um de meus sonhos. Pude ver outro homem dos meus sonhos (ou seriam pesadelos?) correndo até mim.
Era Soul. O homem de meu pesadelo, que de Heart, um rapaz da cor rosa, tranquilizador e bom, tornou-se Soul, um homem da cor preta, a versão sombria do seu outro ser.
— Caçador! — Ash me alertou.
Eu não sabia o que era um "Caçador", mas não poderia ser algo bom.
— Você não merece viver! — Soul berrou.
Ele estava próximo, muito próximo e eu estava sem reação. Eu sentia o equivalente a quase ser atropelada na Terra. Era aquele momento crucial quando o carro está perto demais de você e você não sabe o que fazer, se fica, ou se mexe, embora algumas vezes você simplesmente não consiga se mexer. Eu não conseguia me mexer.
Eu estava estática e ninguém estava em minha mente.
Era puro pavor. Eu não conseguia reagir a nada.
A última pessoa que eu poderia imaginar que me ajudaria, me ajudou. Afinal, essa era a vida, em Marte ou não, era assim.
Não poderíamos definir nossos amigos a nossos inimigos tão facilmente. Algumas vezes, como hoje para mim, os amigos simplesmente sumiam, sobrando apenas os que poderiam ser nossos inimigos. Mas eram esses "inimigos" que nos ajudavam.
***
em 2016:
Putz, vocês acreditam que meu notebook ficou uma merda hj? Aí só deu p publicar agora mesmo e só publico por ele, porque pelo celular fica péssimo.
Enfim, adorei todos os comentários, foram muito mais do que eu imaginava. Vocês são demais! E chegamos até em 30k. Agradeço por isso também.
P.S.: dedicado a uma das tops comentaristas do capítulo passado. Não deu p saber quem comentou mais, mas enfim, ela com certeza tá no top hahaha
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A Estranha
SciencefictionClarice Jones. Esse era meu nome. Claire Blue. Esse tornou-se meu nome quando James Sky, um Rastreador, disse-me que eu era uma Renascida. Metade terráquea, metade marciana. Eu era uma Estranha em meu país, em Marte eu tornei-me ainda mais Estranha...