(*Islandês, em tradução: Céu Azul)
Marte; A-Zero, 87 de Primavera.
Eu sentia algo por James que eu não sabia explicar. É claro que eu tinha deixado claro que o amava, ao pôr um coração da cor que o representava, porém era como se houvesse algo mais. Será que eu estava apaixonada?
Eu nunca tinha me apaixonado, pois nunca tive a oportunidade de tal sentimento. Eu me interessava e me dizia apaixonada por uma série de atores, mas com James parecia ser algo além disso. Seria real?
Voltamos para o dormitório, e nenhum marciano pelo caminho me olhou duas vezes, eu era como eles, comum ao ser diferente. James me chamou para sair e convidou Merry, mas ela recusou, dizendo que tinha outras coisas a fazer, porém quando se despediu de mim, piscou um olho. Merry estava me deixando sozinha com James de propósito. Eu não sabia se agradecia ou não.
— Tem medo de altura? — James me perguntou enquanto caminhávamos por Marte.
— Não.
— Tem medo de quedas nas alturas?
— Não.
— Tem medo de insetos?
— Não.
— Escuro?
— Não.
— Demônios?
— Não.
— Fantasmas?
— Não.
James segurou minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus. Ele parou de andar e ficou de frente para mim, como ele era mais alto eu estava com minha cabeça inclinada para cima para enxergá-lo bem.
— Tem medo de algo?
— Do inevitável e do imprevisto.
— Tem medo da morte? Ela é inevitável e imprevista.
— Não tenho medo da morte, tenho medo das coisas inevitáveis e imprevistas do dia a dia.
— Por exemplo?
— Tropeçar e cair na frente de várias pessoas, enfim, pagar um mico. Tomar decisões erradas e imprevistas. Ser impulsa quando não deveria ser. Tenho um certo medo de mim mesma, nas ações que posso tomar, ações que muitas vezes são inevitáveis e imprevistas.
— Seu medo é diferente.
— Eu sou diferente. — brinquei.
— Sim, você é. — James beijou minha testa, deixando seus lábios por mais tempo que o necessário.
Soltei minha mão da dele e passei meus braços em sua cintura.
A sensação que eu sentia ao estar dessa forma com James era quase inexplicável, pois uma parte de mim parecia queimar de euforia e vergonha, outra exalava tranquilidade e acolhimento.
Estar com James era uma mistura de tudo que há de bom, estar com Luke era uma mistura de tudo que há de bom também. Mas com Luke eu me sentia menos envergonhada, vendo-o mais como meu amigo, já com James não, com James eu sentia e o via como milhares de coisas.
James era o tipo de cara que eu sempre quis e nunca soube que queria. Agora, neste momento, seus braços estavam em volta de meus ombros e seu rosto baixo, olhando para mim. Ele sorria de canto de boca, era muito atraente, ainda mais com o piercing em seu lábio inferior.
James poderia ter inúmeras tatuagens com desenhos que até hoje eu não tinha decifrado, poderia, se ele ficasse sério, ter um olhar de mau, daqueles bad boys, contudo, quando ele sorria seu olhar era brando, tranquilizador, terno. Ele era, sem dúvida, um diabo civilizado. Como sempre, estando ao lado dele eu poderia até sentir meu coração morto, bater, mesmo que fosse marcianamente impossível.
— Venha! Vou te levar para um lugar legal... — James afastou-se de mim, me puxando pela mão e me levou para o teletransportador mais próximo.
* * *
Segundos depois a porta do teletransportador abriu, deixando-me ver a beleza do que estava lá fora.
— Isso é...
— Como a Disneylândia. — James sorriu enquanto pegou na minha mão e me encaminhou até o portão daquele parque.
Sim, eu estava em um lugar tão lindo quanto a Disneylândia, não que eu já tivesse ido a Orlando, mas eu já tinha visto fotos o suficiente para saber como era. Contudo, aquele lugar era ainda mais bonito. Os brinquedos conseguiam ser ainda maiores que os da Disney, e todos tinham aquele tom de vermelho...
Quando eu vi o nome do parque não pude deixar de rir: Planeta Vermelho. Era por esse nome que Marte também era conhecido, e aquele parque realmente parecia um outro planeta dentro de um planeta, pois parecia enorme.
Eu estava eufórica, aquilo tudo era surreal e lindo demais para mim.
— Chamamos de "Planeta Vermelho" porque do parque para dentro há gravidade, diferentemente do resto do planeta, então você pode tirar o colar se quiser, ou continuar usando que não fará diferença nenhuma. — James explicou.
— Isso de ter gravidade foi um erro nessa parte ou foi criado?
— Criado. Marte é um planeta com pouca gravidade comparado à Terra, mas nessa parte foi criada uma placa que sustenta o parque e os visitantes do mesmo no chão, com ou sem colar.
— Isso é incrível! Então os brinquedos têm a mesma sensação que os da Terra, tipo o ranger... Não teria lógica o ranger sem gravidade.
— Exatamente! Não funcionaria. Você pode ver, se prestar atenção, que o parque inteiro está dentro de uma redoma muito alta... — James gesticulou para cima e, prestando bem atenção, como ele disse, eu conseguia ver.
Assim que entramos no parque, me senti em um livro de Stephen King, afinal eu estava dentro de uma redoma.
— Nesse parque não há apenas brinquedos, como ranger ou montanha-russa, há alguns esportes radicais que, mesmo com alguma gravidade, não teria o mesmo efeito com total gravidade.
— Como por exemplo?
— Bungee jumping.
— Eu quero ir!
— Tem certeza?
— Eu não tenho medo de quase nada, esqueceu? — pisquei e, sem tirar sua mão da minha, James começou a correr, e eu tive que tentar acompanhá-lo.
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A Estranha
Science FictionClarice Jones. Esse era meu nome. Claire Blue. Esse tornou-se meu nome quando James Sky, um Rastreador, disse-me que eu era uma Renascida. Metade terráquea, metade marciana. Eu era uma Estranha em meu país, em Marte eu tornei-me ainda mais Estranha...