O Sr. Green olhava-me fixamente quando começou a dizer:
— Pequena Claire, primeiro, nós não somos formais, você pode me chamar de Loren, ou Green, contudo, quando você estiver conversando com outra pessoa é comum que para identificar a pessoa da qual vocês conversam, você fale o nome e, se a pessoa tiver, seu sobrenome.
Balancei a cabeça, entendendo, enquanto mastigava a deliciosa pizza de um sabor que eu nunca tinha experimentado.
— O mais importante é: você está no A-Zero. Isso significa que o país que estamos é o A, e na capital da mesma. Se estivéssemos no A-Quatro, significaria país A e estado Quatro.
— Há quantos países e estados aqui? — disse enquanto engolia mais um pedaço da pizza.
— Há 10 países; de A a J, e 11 estados; de Zero a Dez. Zero é a capital, sempre. Nós, marcianos, somos bem práticos com nossos países e capitais, não é como na Terra, que é impossível gravar tanto país, estado, cidade e afins.
— O alfabeto é o mesmo da Terra?
— Sim, é o ABC. Nosso idioma é diferente de todos que você já ouviu, mas é o mais parecido com o grego moderno. — Loren levantou da poltrona e pegou duas garrafas de um líquido verde, entregando-me uma. — Refrigerante de maçã verde com hortelã. — arqueei uma sobrancelha, incrédula daquele sabor, e engoli o último pedaço da pizza, aceitando o refrigerante. — Nossos sabores são também exóticos para os terráqueos, logo você se acostumará.
— Eu bebi um refrigerante da cor azul, e não identifiquei o sabor, qual era? — questionei bebendo o refrigerante.
— Você bebeu com James, não é? — concordei. — James deve ter feito alguma mistura de frutas, ou usou corante azul. Você também pode fazer seu próprio sabor de refrigerante com as frutas de sua preferência, mas normalmente acabará sendo uma fruta da cor roxa, que é a sua cor.
— As cores nos definem totalmente. Não é à toa que você se identificou com James, suas cores são consideradas "descendentes" para nós, embora não seja sempre que você se sentirá próxima de uma pessoa só porque suas cores são descendentes.
— Qual a religião de Marte?
— Não há religião em Marte, somos um planeta laico. Praticamos o bem ao próximo, não acreditamos em um "deus" soberano e único. Embora cada qual tenha a liberdade de acreditar no que quiser.
Loren parou de falar, dando-me tempo para processar tudo e beber o restante do refrigerante. Quando terminei de beber, Loren já tinha bebido o dele e levantou-se pegando dois pacotes, acho que de jujubas, da cor verde, e logo em seguida, entregou-me um pacote.
— São jujubas, sabores de hortelã, kiwi, maçã verde, abacate, abacaxi, melão e outros. — aceitei de bom grado o pacote, abrindo e colocando uma série de jujubas na boca, cada sabor era mais gostoso que o outro.
— Há todas as frutas da Terra em Marte?
Loren assentiu antes de dizer:
— Os terráqueos passaram décadas a fio tentando descobrir água líquida em nosso planeta, eles não sabiam que era tão possível, quanto na Terra, as plantações de toda e qualquer fruta. Mas, por aqui, você também encontrará sabores, frutas, legumes e outras coisas diferentes, alimentos e bebidas propriamente de Marte.
— Antes que você pergunte, há água em Marte, temos geadas, leves e fortes. O ar, se respirássemos, não ficaríamos bem por muito tempo, por ser rarefeito, com baixo oxigênio e com muita poeira. Em alguns lugares de Marte não há mais tanta poeira no ar, porque, mesmo para nós, ela incomoda, arde os olhos e suja.
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A Estranha
Bilim KurguClarice Jones. Esse era meu nome. Claire Blue. Esse tornou-se meu nome quando James Sky, um Rastreador, disse-me que eu era uma Renascida. Metade terráquea, metade marciana. Eu era uma Estranha em meu país, em Marte eu tornei-me ainda mais Estranha...