Eu estava distraída em meus pensamentos quando ouvi Loren começar a falar sobre Marte, desde a colonização até o mundo atual.
Minha primeira aula foi muito explicativa e eu rabiscava a maioria das coisas que ele falava. E o melhor da aula: não era apenas um professor, sentado, com a cara séria e rabugenta falando coisas que nunca entrariam em minha mente. Loren andava pela sala, brincava com os alunos, alguns levantavam e falavam junto com ele o que entenderam e explicavam de sua maneira, outras vezes até Loren sentava e ouvia o aluno ensinar do seu modo.
Não havia um quadro. Loren não escrevia, nem pedia para ninguém escrever nada. Nada era obrigatório. Alguns, quase como uma sala comum, pediam licença, mas nunca autorização para ir no banheiro. Ninguém fazia barulho na sala, algumas vezes um falava uma coisa com outro, mas podia-se ouvir claramente que não era uma fofoca ou bobagem aleatória, era sobre a aula.
A aula era tão descontraída que os 30 minutos passaram voando. Eu não saberia que os 30 minutos se passaram se não fosse por Merry, que tinha colocado um aviso no celular. O aviso, segundo ela, era um aplicativo já instalado no celular para cada aluno se policiar sobre o tempo, pois no colégio não havia sinal, já que cada um definia o seu.
Eu ficaria muito mais tempo na aula de Loren, sem saber e não iria me importar. Algumas vezes ele falava de coisas aleatórias, mas sem fugir de sua matéria, fazendo piadas junto com os alunos.
O aplicativo no celular era simples e nada escandaloso, Merry havia me mostrado. Apenas uma mensagem sinalizaria o passar de 30 minutos, não vibrava, muito menos tocava, para não atrapalhar ninguém.
Alguns alunos, junto comigo e Merry, também se levantaram, a maioria ficou. Loren deu tchau e continuou sua aula para os demais.
— Qual agora? — Merry perguntou.
— Física Quântica. — falei aleatoriamente a primeira que passou por minha mente.
* * *
Eu queria poder dizer, como uma aluna que detestava estudar, que Marte era tão ruim no ensinamento quanto a Terra, que era tão chato quanto e tão maçante quanto, mas eu não poderia falar isso.
Marte era incrível e eu me sentia triste de ter vivido tantos anos na Terra. Eu deveria ter sido uma Nascida, mas talvez se eu tivesse nascido em Marte eu não daria o valor que ele merecia.
A aula de física quântica era tão interessante quanto a de Loren, assim como as outras, era tão bom que, na minha última aula, de cosmologia, eu decidi ficar uma hora. Não queria ir embora, não teria o que fazer no dormitório.
A forma de Marte de ensinar era tão simples e tão boa. Não era uma obrigação, mas acabava que se criava uma vontade de estudar, uma vontade de estar ali, sem ser obrigado a isso.
As leis de Marte eram simples e objetivas, nada era de difícil entendimento.
Uma coisa boba que eu havia achado muito interessante em Marte era os meninos e meninas poderem frequentar os dormitórios um do outro a qualquer hora do dia e da noite. No corredor do meu quarto mal se via meninos circulando e a falta de regra fazia com que as pessoas não fizessem nada errado.
Se, por exemplo, os meninos fossem proibidos de entrarem no dormitório das meninas e vice-versa, eu poderia apostar que os dormitórios estariam cheios de invasores perambulando pelo dia ou noite.
Mas por que eles proibiriam que meninos visitassem meninas se muitas meninas e meninos eram homossexuais? Não teria lógica se o problema fosse não fazer sexo. Os homossexuais não poderiam ser proibidos de estarem no mesmo quarto ou de visitarem o outro até mais tarde.
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A Estranha
Science FictionClarice Jones. Esse era meu nome. Claire Blue. Esse tornou-se meu nome quando James Sky, um Rastreador, disse-me que eu era uma Renascida. Metade terráquea, metade marciana. Eu era uma Estranha em meu país, em Marte eu tornei-me ainda mais Estranha...