Anjos

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Estava agradecida por suas pernas terem voltado a lhe obedecer, e apesar do tremor que ainda sentia nelas, tentou seguir para longe dele o mais firme que conseguia, não podia revelar que estava abalada com aquele encontro. Sua respiração parecia pesada e ofegante, imaginava se somente ela tinha sentindo aquela corrente elétrica percorrer seu corpo, era como quando batia o cotovelo na quina de algum móvel, mas de uma forma agradável.

Se repreendia por sua mente martelar repetidas vezes o quanto a mão dele era quente e aconchegante, de como aqueles olhos eram penetrantes e pareciam envolve-la em uma atmosfera acolhedora, da voz dele que lhe causava arrepios e como seu nome soou lindo deixando aqueles lábios. Se reprendia por ser uma jovem tola e se deixar envolver por sentimentos e sensações, ela servia a noiva dele e dali pouco tempo, Cambriel estaria casado.

Aquela manhã transcorria sob o opaco de todas as cores após aquele encontro, não havia luz, som ou calor que a tocasse, seus olhos viam somente o cinza daquelas flores sem aroma. Seus afazeres eram executados no ritmo letárgico que seu coração impunha, muitas vezes foi repreendida pelas anciãs da casa, mas mesmo relutante, não conseguia se concentrar. Quanto mais próximo estava da hora do matrimônio, mas sentia seu coração pesar e endurecer em seu peito, imaginava se após aquilo seu coração voltaria a vibrar com fez ao lado dele aquela manhã.

Depositou um vaso de lírios amarelo próximo ao altar e ouviu de fundo o pedido para que fosse ajudar a noiva a se preparar, era por isso que estava ali afinal, ajudar nos preparativos e ninguém além dela mesma era culpada por tudo o que estava sentindo. Respirou fundo e deixou o templo para seguir a ordem que lhe foi dada.

Seguiu para a tenda engolindo em seco qualquer angustia que pudesse saltar por seus olhos, tinha que aprender, não teria na vida nada além do que o destino lhe reservava, e Cambriel, não festava na lista.

Lilith era certamente uma das mulheres mais lindas do povoado, seus cabelos cor de fogo chamavam a atenção assim como seus lindos olhos azuis cristalinos, nada comparado com sua aparência comum e sem graça. Sentia-se infantil ao lado daquela exuberante mulher.

A noiva estava visivelmente feliz, tanto que começou a cantarolar um cântico sobre o amor, aquilo parecia sufoca-la, ajudar a preparar a mulher que se casaria com "ele". Por que seu coração acelerava e doía com esse pensamento? Começou a cantarolar junto dela tentando afastar aquela dolorosa e crescente sensação, enquanto prendia pequenas flores nas tranças grossas que pediam pelas costas da noiva, Lilith girava o buquê em sua mão em um movimento nervoso até que o silêncio pairou sobre o ambiente.

-Como ela pode se casar com um ser como ele? – Falou alguém do lado de fora da tenda.

-Ele é um demônio. – Outro retrucou. Assim como ela, Lilith havia ouvido os comentários.

-Você está encantadora. – Foi sincera. A outra permaneceu calada por alguns minutos, sabia que se Lilith o amasse, estaria sentindo como se cada palavra de ofensa contra ele fosse diretamente para ela, amenos era isso que sentia em seu próprio coração "Ele não era um demônio", sua mente afirmava.

-Obrigada Lilian. – Respondeu a noiva sem entusiasmo.

-Se me permiti, poucas pessoas são prudentes o suficiente para saberem o momento de se calarem. Não os dê ouvidos. – Finalizou deixando um sorriso doce curvar seus lábios. Ela mesma não dava ouvidos a todas aquelas tolas acusações. A outra lhe sorriu em respostas antes de se levantar e seguir para fora da tenda.

Ela suspirou profundamente e secou uma lágrima que ameaçava correr por seu rosto, saindo a tempo de ver Lilith seguido pelo rio até uma árvore na margem, era ele.

Libertação (Cameron Briel - Fallen)Onde histórias criam vida. Descubra agora