Sono agitado

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" Diferente das outras vezes, ela não sentiu aquela sensação de flutuação que aquele sonho recorrente lhe trazia, poderia jurar se fosse preciso que era quase capaz de sentir a grama a seus pés, o sol em sua pele e a brisa brincando com seus cabelos, á alguns passos de distância ela os avistava. A bela ruiva ainda estava enlaçada aos braços de Cam quando o Daniel jovem se aproximava, daquele ponto de vista conseguia ver os três nitidamente e ouvi-los, mas diferente das diversas vezes que teve aquele sonho, agora ela estava em outra perspectiva.

-Como vai você, Dani? – A voz da ruiva era suave e melodiosa. Lilly sempre imaginava o que aquilo queria lhe dizer, seu pai era mais novo e o lugar não se parecia com nada do que já tinha visto, exato ali, naquele sonho.

Daniel "jovem" se ajoelhou a lado do casal e desenrolou o pergaminho cuidadosamente, parecia algum documento importante escrito em algum idioma que ela não conhecia.

-Esta parte aqui. – A ruiva apontou para uma linha no texto – Diz que seremos casados perto do rio – ela se virou com olhar suplicante para Cam – Mas você sabe que quero casar no templo, Cam.

Casar. Sempre que ouvia aquela palavra seu coração parecia pesar em seu peito e seus olhos ardiam pelas lágrimas contidas, ele iria se casar com outra, ela levou sua mão até o lado esquerdo do peito e apertou levemente tentando aplacar a dor em seu peito. Esse sonho sempre a afetava, sempre a fazia sofrer por algo que não compreendia, Cam estava com ela agora, mas mesmo assim sentia-se profundamente ferida, como seu uma parte importante de si tivesse sido arrancada.

Olhou novamente para os dois homens a tempo de notar um olhar cumplice ser trocado entre eles, pareciam esconder alguma coisa da mulher. Cam alcançou novamente a mão da mulher carinhosamente, Lilly conhecia o toque quente e suave da mão dele na sua, agora, estavam segurando a de outra.

- Meu amor. Eu já te disse que eu não posso. – Imaginou se Cam amava aquela mulher e sentiu aquele aperto sufocante novamente em seu peito.

-Você se recusa a se casar comigo sob os olhos de Deus? – A mulher antes calma parecia furiosa. – No único lugar onde minha família irá aprovar nossa união! Por quê? – A voz dela se elevou alguns tons e seus olhos reluziam, parecia enfurecida.

-Eu não vou pôr os pés lá dentro. – Cam falou com desdém apontando para a construção branca de pedra.

-Então você não me ama. – Apesar da voz embargada, Lilly não conseguia discernir se a ruiva estava triste ou somente com raiva.

-Eu amo você mais do que jamais imaginei ser possível, mas isso não muda nada. – Lilly sentiu aquela sensação dolorosa em seu peito e lágrimas correrem por seu rosto, era tão doloroso saber que Cam amava aquela mulher. Por que? Ela sabia que era amada por ele, talvez não na mesma intensidade daquele sentimento que ela via nos olhos dele.

Lilly sentia que estava respirando com dificuldade, seu coração parecia querer saltar pela boca, não conseguia entender o que esse sonho queria dizer ou o porquê de tudo lhe ferir desse jeito. Queria tanto acordar, queria tanto voltar e ver que estava aconchegada no abraço quente dele e ouvi-lo sussurrar em seu ouvido que a amava. Se arrepiou ao ver os olhos de Cam em seus sonhos cravados aos dela, parecia uma declaração silenciosa que ela não conseguia compreender, mas seu coração parecia ter entendido pois martelou em seu peito e um suspiro fugiu de seus lábios. Ele parecia amá-la.

Sua atenção se voltou a ruiva assim que um gritou estridente deixou a garganta dela. A mulher se levantou e em um movimento repleto de fúria e atou os pulsos de Cam, o segurando contra a árvore. Ele não relutou e ficou parado.

-Minha avó nunca gostou de você. – A voz outrora melodiosa mudou para esgarçada e alta. – Ela sempre dizia as coisas mais terríveis, e eu sempre defendi você. Agora eu o vejo. – Lilly sentia seu corpo tremer na vontade controlada de correr para junto deles e separá-los, e de tomar para si as dores dele. – Diga.

-Dizer o quê? – O tom dele tinha sido frio e isso parecia ter desagradado a mulher que aumentou o tom de voz.

-Você é um homem mau. Você é um...eu sei o que você é. – Lilly sentia as lágrimas correrem por seu rosto, "Pare, por favor", sua mente suplicava.

-Não sou nenhuma das coisas ruins que dizem que sou, Lilith. – A mulher parecia não entender, como ela não enxergava que o estava ferindo? "Não faça isso, não quebre o coração dele", seu coração parecia se despedaçar em reflexo ao sofrimento dele.

-Lilith- Daniel, suplicou afastando as mãos da mulher do pescoço de Cam.– Ele não é...- Prosseguiu Daniel.

-Dani. – Cam foi ríspido. – Nada que você diga poderá ajudar.

-É isso mesmo. Acabou. – A ruiva parecia aliviada por terminar com aquilo, mas Cam. Lilly sentia o peso do coração dele em pedaços, como se fosse o seu próprio. - Eu espero viver mil anos e ter mil filhas de modo que sempre haverá uma mulher que poderá amaldiçoar seu nome. – Vociferou ela cuspindo no rosto dele e correndo de volta ao templo.

Lilly a seguiu com o olhar o suficiente até vê-la sumir dentro do templo, e continuou ali, observando.

-Você tem uma Starshot, Dani?

-Não. – A voz do outro tremeu em sua garganta.- Você vai recuperá-la ou então...

-Eu fui ingênuo em pensar que poderia ter o amor de uma mulher mortal.- Se possível ela poderia jurar que os olhos esmeraldas de Cam a buscaram em seu esconderijo.

-E se você apenas disser a ela. – Disse Daniel.

-Dizer a ela? O que aconteceu a todos nós? A Queda e tudo desde então? - Ele se inclinou mais para perto de Daniel. – Talvez ela esteja certa sobre mim. Você a ouviu falar. A aldeia inteira acha que sou um demônio. Mesmo eles não usando essa palavra. – Lilly sentiu aquela palavra ressoar novamente em sua mente "Demônio". Lilly sentia que sua atenção se esvaia, então secou as lágrimas que estavam nublado seus olhos, observando o sofrimento estampado nos olhos de Cam..

-Que solitário. – Viu fluir amargo pelos lábios de Cam.

-Não é solitário – Daniel estava alterado. – É amor. O amor que você deseja para si mesmo, demasiadamente.

Ela suspirou novamente. Aqueles orbes esmeraldas pareciam capazes de vê-la, mesmo que ninguém ao redor parecia nota-la. Ele sempre a encontrava com o olhar.

-Eu quis dizer: Sou solitário. E muito menos nobre do que você. Algum dia receio que uma mudança está chegando. – Ela poderia jurar que os olhos dele ainda estavam presos nela, mas concluía que estava sonhando, e isso era claramente uma impressão.

-Não. – Daniel se moveu para perto de Cam. – Você não.

Cam se afastou bruscamente e cuspiu no chão.

-Nem todos nós temos a sorte de estarmos ligados à nossa amante por uma maldição.

-Vá então. Você não fará falta. – Lilly sentiu como se aquelas palavras tivessem sido diferidas como adagas em seu próprio peito, Cam faria falta, ele faria muito falta, a ela. Nesse momento, os dois homens se erguerem tomados por um mesmo ímpeto, cada um voltando-se para uma direção diferente. Lilly levou as mãos surpresas a boca a tempo de reter um grito de espanto, ao ver ambos desatando suas majestosas asas. "

-Cam! – Se debateu assustada sentindo braços firmes a segurando e uma voz suave tocando seus ouvidos.

-Calma. Está tudo bem, foi só um sonho.

Cam a segurava pelos ombros de maneira firme evitando que ela se machucasse enquanto se debatia agitada, Lilly sentia a face úmida pelas lágrimas e demorou alguns minutos até reconhecer a cabana de Cam e o mesmo tentando acalmá-la.

-Desculpe. – Foi o máximo que conseguiu dizer, sentia-se ofegante e desgastada, em resposta Cam a abraçou afagando gentilmente seus cabelos, aguardando enquanto ela se acalmava.

Libertação (Cameron Briel - Fallen)Onde histórias criam vida. Descubra agora