Seguindo pela Tempestade

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Estava voando desde a noite que se despedira de Lilly em seu quarto, e apesar de seguir ao chamado, sentia um forte repuxo que o impedia de parar, sabia que em algum momento teria aquele encontro, e a agressividade daquela invocação lhe dizia que o Estrela da manhã não tinha esquecido suas ações.

Sabia que o fato de ter seguido por milênios ao lado de Daniel e os demais caídos, pesaria menos do que o fato de ter seguindo ao lado deles para evitar que Lúcifer obtivesse sucesso em evitar a caída dos anjos, apagando assim cerca de seis milênios criando um novo começo. Naquela vez tinha chegado ao limite de ser capturado e se não fosse a intromissão de Lucinda e os outros caídos, certamente estaria morto assim com Molly e Gabbe.

" Estava em estado de choque, tanto que não tinha sentindo a aproximação dos outros assim como aquela anciã dos infernos, "Sophia", que prosseguia com aquele ritual sombrio para sacrificá-los.

-Passe-me a corda Vivina. – Disse Sophia estendendo uma das mãos a outra mulher. – Gabrielle parece um pouco confortável demais. Gostaria de confinar a garganta dela.

-Não tem mais. – Respondeu. – Tive que amarrar duas vezes Cambriel aqui. Ele estava se contorcendo. Aah, ainda está.

Cam tinha se debatido e apesar das cordas a mais que tinham usado para prendê-lo, continuava a se agitar, quando ouviu Dee entrando no recinto. As duas mulheres começaram uma discussão abrasiva e logo ouvia som de corpos rolando no chão em uma possível luta corporal. Amarrado como estava não tinha uma boa visão do tumulto que se formava, mas pôde avistar um vulto de asas, "Roland", mas aquela velha maluca tinha sido rápida o suficiente para fugir de seu agarro enquanto as outras duas que a acompanhavam se encolheram acovardadas em algum canto.

-Pare ou irei mata-lo! – Sua percepção da ação decorrida até ali tinha sido letárgica, tanto que notou a perigosa insinuação de Sophia contra sua vida somente quando a sentiu subindo sobre ele com um punhado de setas estelares que apontou para sua cabeça. Aquela louca que gritava sobre ele não lembrava em nada a bibliotecário de Cross & Sword, que outrora mantinha os cabelos sempre bem arrumados e de fala tranquila, que no primeiro excesso de loucura tinha tirado a vida da pobre Penny. Está Sophia de agora, estava no extremo de sua obsessão e muito longe daquela que tinham conhecido. – Eu amo tanto ver um anjo morrer. – Gritou com a voz esgarçada erguendo um pouco mais as setas. – E matarei um tão arrogante. – Ela o olhou com desdém – A morte dele será algo lindo de se comtemplar.

Era isso, iria ser morto pelas mãos daquela maluca, mas o que esperava de diferente além disso? Era um demônio petulante, orgulhoso, arrogante, implacável, impulsivo e solitário. Lucinda poderia ter sido seu alicerce e talvez naquele momento não tivesse se sentindo vazio, mas ela já tinha seu coração preenchido por Daniel, e não havia lugar para ele. Não era ingênuo ao ponto de ignorar que havia carinho por parte dela, mas talvez não fosse o suficiente para fazê-lo forte naquele momento.

-Vá em frente. – Falou mantendo a voz constante e baixa. –Nunca pedi um final feliz. – Novamente o peso de rochas em seu peito e o amargo daquelas palavras em sua boca.

-Não! – Identificou a voz de Lucinda fora do alcance de seus olhos, mas ela parecia se debater para alcança-lo.

Tudo decorreu muito rápido, Luce queria salvá-lo enquanto a "louca" se mostrava satisfeita em reencontrá-la e em menos de um suspiro, Cam viu as setas correrem por entre os dedos de Sophia tomando a direção de Lucinda. Roland saltou rapidamente e derrubando-a de cima de Cam milésimos depois das setas terem sido arremessadas e ao invés de atingir seus alvos, tinham se enterrado nos corpos de Molly e Gabbe que se transformaram em nada além de poeira.

Cam estava perplexo. A poeira fina que ainda flutuava no ar era o único resquício dos anjos caídos. Fechou os olhos apertado tentando conter o sentimento de ira que se formava em seu interior, seus olhos esmeraldinos tinha ganho um tom escuro e sombrio, então, um urro animalesco fugiu de sua garganta.

Se esforçou para se libertar sentindo seu tornozelo se ferir, mesmo assim, continuou urrando enquanto se debatia liberando sua mão direita das amarras, sentiu sua asa que estava presa a uma coluna de ferro se rasgando e seu ombro se deslocando. Sua dor só não era maior que seu ódio, seu braço pendia de forma frouxa ao lado de seu corpo, contundo mancou até perto de Sophia, arremessando Roland e Dee para longe com o seu movimento, seu ímpeto era alcançar aquela "maluca".

Deixou seu corpo cair sobre ela com se tentasse esmaga-la com o seu peso, Sophia grunhiu e se debateu embaixo dele tentando impedi-lo de envolver seu pescoço com as mãso em um ato vão.

-Estrangular é a maneira mais intima de se matar alguém. – Disse trincando os dentes e ajustando sua mão em torno do pescoço fino dela. – Agora vamos ver a beleza de sua morte.

Cam a observou atentamente enquanto seus dedos pressionavam em um nó forte o pescoço dela, enquanto ela grunhia, se debatia e sufocava. Sentia que estava em chamas movido pelo sentimento de ódio, ainda a segurando pelo pescoço começou a bater a cabeça dela contra o chão ouvindo o crepitar de ossos se partindo, vendo o sangue escuro saindo de sua boca e a vida esvaindo em grunhidos de dor, até que ela suspirou morrendo em suas mãos.

E um silêncio perturbador caiu no ambiente. "

O equilíbrio entre os lados não tinha sido perdido, a morte delas tinha um peso que ainda carregava nos ombros, talvez se ele tivesse sido morto as coisas poderiam ter tomado um rumo diferente, considerando o lugar elevado que ocupava na hierarquia de Lúcifer a balança poderia ter pendido para o céu, e ele não estaria agora sendo arrastado pela invocação do Estrela da manhã que devia estar puto com ele.

A tempestade o cegava, mas a pouco tinha descoberto para onde tinha sido invocado, mas a pergunta que se fazia era, porque? Apesar da pouca visibilidade podia ver a costa e a maré agitada quebrando contra as rochas e a floresta que circundavam a construção central do Campus de Shoreline. Plainou contra o vento forte por sobre a sala que Lucinda ocupou ao lado dos Nephilins, imaginou se conseguiria superar a barreira de proteção da escola, mas pelo visto, Lúcifer já tinha considerado esse empecilho, pois aterrissou sem problemas a porta da sala.

Agitou a roupa encharcada e grudada junto a corpo esfregando os cabelos com a mão, antes de recolher suas asas e adentrar a sala. Poucas luzes estavam acessas, mas pôde ver uma silhueta parada no centro da sala de costas, os ombros erguidos sustentando sua postura altiva, as mãos unidas nas costas, os cabelos cor de âmbar penteados de maneira ordenada e trajando um terno de fino corte cinza chumbo.

- Cambriel, meu caro. – Disse o Estrela da Manhã com uma voz suave se virando e cravando seus olhos azuis gélidos e inexpressivos nele.

-Lúcifer. – Murmurou Cam em resposta no mesmo tom de voz.

Libertação (Cameron Briel - Fallen)Onde histórias criam vida. Descubra agora