Sempre vigiando

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Os orbes esmeraldas ainda vidrados na ruiva que ressonava tranquilamente, podia sentir a presença do outro ao seu lado espiando, ansiando por alguma reação de sua parte, respirou fundo recolhendo para dentro de si o espanto que tinha deixado fluir por seu rosto minutos antes, enquanto envolvia com os dedos o celular em seu bolso que vibrava novamente.

-Que seja. – Disse por fim.

-Vamos. – Disse em um tom falsamente amigável. - Estou te dando a chance de enfim tê-la junto de si, em sua vida e em sua cama. – Lúcifer prosseguiu de maneira ácida o analisando.

-Eu não sinto a necessidade de ter outra mulher. – Não mentia, porém, seu rosto voltou ao tom impassível de antes.

-Como preferir. – Afirmou o outro satisfeito. – Espero que aprecie sua escolha.

-Certamente. – Retrucou enquanto Lúcifer adentrava em um novo anunciador desaparecendo em seguida.

Sentia seus ombros formigando e suas asas imploravam para serem libertas, sabia bem o motivo disso. Aquela sensação de sufocamento tinha voltado com força e seu coração batia em seu peito veloz e descompassado, a mulher parecia que dormiria por toda a noite, respirando profundamente, Cam seguiu até a janela abrindo-a e jogando-se por ela em seguida.

Suas asas se estenderam em alivio e ele subiu plainando novamente sobre o colégio, a tempestade tinha cessado, mas não o tormento em sua mente, fuçou o bolso retirando o celular e deslizou o dedo pelo visor até a mensagem recebida.

"Espero que esteja tudo bem com você, amor.

Estou com saudades.

Te amo.

Beijos Li "

"Boa noite, amor.

Espero que esteja tudo bem, estou preocupada.

Te amo.

Beijos Li "

Cam apertou o aparelho entre seus dedos parando somente ao ouvir o "click" da tela se partindo "Inferno", pensou aumentando a pressão, até os nós de seus dedos tomarem uma coloração pálida e o objeto praticamente se desintegrar em pedaços que ele deixou cair de sua mão ferida.

-O que ele está tramando? – Vociferou entre dentes mordendo a parte interna da boca com raiva.

(...)

Estava encostado em uma das arvores da floresta no entorno de Shoreline, estava seguido a distância a exuberante ruiva, seu coração martelava sempre que reconhecia além da aparência, um sorriso ou mesmo um gesto que remetia sua memória a sua "antiga Lilith", elas eram assustadoramente parecidas como se moldadas em uma mesma fôrma.

Ergueu os olhos para a construção ao seu lado, ela deveria estar na sala de aula agora, Cam fez uma careta ao se lembrar do ensino médio, como ele dizia "Isso sim era o inferno" e como todos sabiam, somente Roland tinha saco para toda essa perda de tempo. Enfiou a mão no bolso de maneira enfadonha se amaldiçoando por ter destruído seu celular, talvez Roland lhe arrumasse outro quando voltasse, "Voltar ", sua mente entoou. Não sabia se voltaria.

Não sabia exatamente o tempo decorrido até ali, pois não estava preocupado em conta-lo, sua profunda irritação o impedia. Deixou seu olhar seguir até um ponto especifico a frente no bosque, se recordava de ter encontrado com Luce naquele lugar.

" Naquele dia Luce estava vagando a noite provavelmente a procura de respostas ou simplesmente sendo ela mesma e quebrando algumas regras, ele tinha acabado de matar mais um dos diversos seres assassinos enviados pelos velhos malucos dos anciões, quando a viu. Arrastou o corpo para um canto o juntando a uma pilha de carcaças disformes, cobertas por uma gosma vermelha como sangue coagulado e viscoso. Acendeu um cigarro que segurou entre os lábios, sua camiseta estava molhada de suor, sua calça jeans estava suja de sangue e terra, seu cabelo parecia um emaranhado sobre sua cabeça, seu rosto e braços estavam repletos de arranhões e machucados e mesmo assim, ele cantarolava apoiado contra uma árvore despreocupadamente.

-O que você está fazendo aqui? – A voz dela lhe alcançou em um sussurrou. – O que você fez?

-Ah, só salvei sua vida. Mais uma vez. Quantas vezes fiz isso? – Diversas e continuaria se fosse preciso, pensou batendo a cinza do cigarro. – Hoje foi a turma da Srta. Sophia, e eu não posso dizer que não gostei. Monstros sangrentos. Eles estão atrás de você também, você sabe. Souberam que você está aqui e que gosta de passear no escuro desacompanhada pela floresta.

-Você apenas os matou? – Luce parecia horrorizada.

-Alguns deles, sim, só agora, com minhas próprias mãos. – Mostrou as mãos com a gosma vermelha e enegrecida nas mãos notando o olhar de nojo dela. – Eu concordo que bosques são adoráveis, Luce, mas eles também são cheios de coisas que querem que você morra. Então me faça um favor.

-Não. Você não pode me pedir favores. Tudo sobre você me enoja. – Ele trincou os dentes irritado.

-Tudo bem. – Cam revirou os olhos. – Então faça isso por Grigori. Mantenha-se no Campus. – Apagou o cigarro na relva e desatou suas asas sem cerimônias. – Eu não posso estar sempre aqui olhando por você. E Deus sabe que Grigori também não. – Suas asas bateram erguendo seus pés do chão e ele partiu. "

Agitou a cabeça lentamente e estalou a língua no céu da boca, se naquela época ele estava disposto a lutar por Daniel e Lucinda porque agora seria diferente? Cam apertou firme as mãos em punhos ao lado de seu corpo, se fosse para mantê-la segura, ele enfrentaria o próprio Lúcifer se fosse preciso.

Precisava de informações e sabia bem aonde consegui-las, Steven.

(...)

Chegou ao quarto talvez algumas horas após ela ter adormecido. Lilith estava linda, os cabelos cor de fogo espalhados pelo travesseiro dando-lhe um ar encantador, uma das mãos repousando delicadamente sobre o travesseiro com a respiração tranquila e compassada.

Ficou admirando-a por algum tempo antes de se sentar em uma poltrona, em um canto do quarto dentro do campo de visão da cama se encostando relaxado suspirando pesadamente.

Teriam se passado algumas horas até que Lilith se esticasse sobre a cama se espreguiçando e cruzando quase de imediato com os olhos cerrados de Cam sobre ela.

-Cam. – Disse visivelmente assustada.

-Lilith. – Soltou ele se ajeitando ereto na poltrona.

Libertação (Cameron Briel - Fallen)Onde histórias criam vida. Descubra agora