Revelação

172 16 2
                                    


     


A noite tinha ficado fria de repente, por que isso explicaria o arrepio que sentiu percorrer sua espinha, não, ele não era atingido por alterações climáticas tão facilmente a menos que estivesse extremamente distraído, e podia afirmar que naquele momento estava completamente atento já seus olhos continuavam pregados na figura na janela, "Eu a quero" sua mente gritou. Pensou que deveria voar para longe dali, mas suas asas não obedeciam continuando ocultas sob sua pele o impendido de fugir, enquanto seu coração suplicava para que ficasse. Sentia uma pressão em seu peito quando repetia mentalmente o que Roland havia lhe dito, institivamente deixou sua mão repousar sobre seu peito apertando o local levemente.

O amor existia, ele sabia, já o tinha sentindo escorrer por entre seus dedos, mas agora, parecia diferente. Deixou o ar fugir pesadamente por sua boca, será que o melhor que ela merecia poderia vir do seu coração em frangalhos? Será que ela o aceitaria se soubesse? Será que ela o amaria? Uma coisa era certa, ele já amava.

Silêncio.

Seus ouvidos avisaram, ela tinha parado de tocar, mas por que?

Assim que seus olhos buscaram a janela novamente, seu coração disparou, sentiu aquela estranha sensação no estômago quando seus olhares se encontraram. Lilly estava parada com os olhos fixos nele, parecia se esforçar para identifica-lo naquela distância, mas Cam tinha certeza, ela o viu.

Sua razão idiota insistia para que fosse embora, mas como antes, suas asas não se abriram e agora suas pernas também se recusavam a se mover, seu coração voltou a suplicar para que ficasse, então, continuou parado. A viu sumir para dentro do quarto imaginando ela corria pois logo a viu irromper pela porta aflita, seus olhares se cruzaram novamente quando ela ergueu o rosto até ele antes de retomar a corrida, agora seguindo para o prédio no qual Cam a aguardava no terraço.

A porta se abriu a suas costas algum tempo depois o fazendo tremer. Era ela.

-Cam. – Ele fechou os olhos apreciando o som daquela voz que parecia acariciar seus ouvidos. Ela resfolegou fechando a porta atrás de si e seguiu alguns passos em sua direção perto dele.

Cam se virou para enfim encará-la. Seus cabelos brincavam com a brisa da noite, seu rosto estava rubro devido a corrida, os lábios entreabertos facilitavam a passagem do ar e seu peito subia e descia em um movimento amplo, e mesmo assim, lhe parecia tão linda. Seguiu em direção a ela com intuito de estreitar ainda mais a distância entre eles e Lilly sustentava seu olhar repleto de expectativa.

-Preciso me desculpar por aquela noite. – Começou parando a menos de um passo dela fazendo seus olhares se prenderem.

-Não importa. – Lilly estendeu a mão para alcança-lo, mas parou o movimento receosa. – Senti sua falta. - Falou baixo. Cam a ouviu e repetiu o mesmo movimento feito por ela, porém, não parou até suas mãos se tocassem.

Sentia uma corrente elétrica percorrer seu corpo e se depositar em seu coração descompassado, o aroma de jasmim o alcançou inebriante assim como o calor que emanava do corpo dela, no entanto manteve seus lábios a centímetros de se tocarem.

-Eu também. – Murmurou tão baixo que talvez ela não tivesse ouvido, e a envolveu pela cintura com um braço enquanto afastava um mexa de cabelo que caia sobre o rosto dela. – Eu também. – Repetiu colando seus lábios.

Era um beijo calmo, seu desejo era explorar cada parte dos lábios dela cuidadosamente e apreciar seu gosto, seu cheiro, sua pele macia. Sentiu aquele frio no estômago quando ela afundou os dedos em seus cabelos acariciando sua nuca e aprofundando mais o beijo. Tinha sido diferente com aquela mulher, como era mesmo o nome dela? Não importava. Desceu a mão até a curva das costas dela e a sentiu se arquear de encontro a si, fazendo seu membro pulsar em resposta e um gemido fugiu por entre o beijo "Era ela", sua mente constatou.

Separaram suas bocas contra vontade a procura de ar. Cam encostou sua testa a dela e manteve seus olhos fechados aproveitando a gostosa sensação de tê-la em seus braços.

-Precisamos conversar. – Sussurrou rouco. Seus olhos se encontraram assim que Lilly abriu os dela, e ele acariciou os lábios dela com o polegar carinhosamente e sorrindo ao vê-la fechar os olhos apreciando a caricia, então seguiu acariciando seu rosto e a sentiu pressionar a face em sua mão.- Preciso contar uma coisa a você, mas não sei por onde devo começar. – Disse respirando fundo se afastando um pouco, e em resposta recebeu um toque suave em seu rosto acompanhado de um amável sorriso.

O sorriso dela alcançou seus olhos violetas que brilharam o fazendo perceber o que naquela tarde precedente ao seu casamento, não conseguiu ver nos olhos de sua futura esposa, talvez ela o aceitasse. Se Lilith tivesse expressado o que ele via nos olhos de Lilly, talvez tivesse tido a coragem que agora lhe transbordava e o impulsionava a pelo menos tentar.

Antes de se afastar, ele tomou a mão dela entre as suas e depositou em cada uma delas um beijo casto e demorado.

-Cam? – Lilly estancou no lugar quando ele lhe estendeu a mão sinalizando para que ela parasse.

-Nunca contei isso para ninguém, mas preciso tanto que você saiba.- Deu-lhe as costas suspirando pesadamente. – Que seja. – Sussurrou antes de desatar suas asas gigantes e liberar no ar toda a glória dourada delas.

Aguardou em silêncio o que pareceu horas, talvez um grito de espanto ou o som dos passos apressados dela fugindo, mas para seu próprio espanto apenas a ouviu exclamar a suas costas.

-São lindas! – Podia perceber um estranhamento na voz dela, mas não foi a reação que imaginava, no entanto, ainda estava no meio da verdade. – Posso? – Sabia que ela queria tocá-las e em resposta acenou com a cabeça positivamente.

Sentiu aquela corrente elétrica deliciosa se espalhando por todo o seu corpo, a muito tempo que não sentia o toque de alguém em suas asas, era um prazer indescritível, e acabou cerrando os olhos aproveitando aquela sensação agradável.

-Você é um anjo? – A voz dela estava carregada de curiosidade, seus dedos deslizavam pelas asas dele delicadamente.

-Há alguns milhares de anos atrás posso ter sido, mas hoje... – Podia senti-la aguardando sua explicação, Cam parecia tentar procurar a resposta certa no céu noturno salpicado de estrelas pois manteve seus olhos cravados nele por alguns minutos e respirou fundo antes de completar. – Eu sou um demônio.

Libertação (Cameron Briel - Fallen)Onde histórias criam vida. Descubra agora