Questão,pensamento e omissão

97 10 0
                                    


Pelo visto ele era o único que tinha se intrigado com a real natureza da Lilly. Segundo o relado de Cam, ela tinha vislumbrado o passado sem o auxílio de um Anunciador e só agora isso tinha se tornado um assunto em pauta. Roland sempre notou algo diferente, algo crescente emanando dela.

-Você tem alguma ideia de como isso pode ser possível? – Ambos estavam deitados no telhado da republica de teatro, já estava escurecendo e o céu já tomava o tom alaranjado do fim de tarde.

-A verdade é que ainda não compreendo como eles podem ser humanos agora. – Roland mantinha os braços cruzados sobre o peito com o olhar pensativo. - Não fiquei próximo o suficiente para ter certeza quanto a essência deles, mas talvez seja como algo em uma garrafa. – Ele já tinha considerado essa hipótese por diversas vezes, mas sempre descartava essa possibilidade, por achar que sua motivação era baseada no desejo íntimo de ter os amigos de volta.

Roland percebia que a conversa que Cam tivera com a namorada o tinha agitado o suficiente para força-lo a procurar por ele em busca de respostas, o outro esta avido por respostas.

-Você não leu nada nos Anunciadores? – Cam o olhou de soslaio.

-Isso não é exatamente o tipo de coisa que se pode ler neles, ou talvez estejamos procurando no lugar errado. – Roland olhou de volta para o outro que tinha agora uma das sobrancelhas arqueada, provavelmente inquerindo mentalmente o que ele queria dizer.

-E onde você acha que poderíamos obter a resposta?

-Vamos ordenar as coisas, acho que primeiro precisamos descobrir o por que dela ter sonhos relacionados com o seu passado. Precisamos de tempo e talvez se descobríssemos isso, então poderíamos prever o que Lúcifer está procurando. – Ele notou uma ruga surgir entre os olhos de Cam. – E assim, ganhamos o tempo que precisamos para descobrir se Lilly tem ou não alguma essência angelical. – Concluiu aguardando a resposta do outro.

-Você também acha que ele pode querer descobrir o mesmo que nós?

-Não sei, mas já estivemos tempo demais no inferno para saber, ele está tramando alguma coisa contra você. – Roland voltou sua atenção ao céu avermelhado do final de tarde antes de olhar novamente para o outro- E como disse antes, acho que a resposta para essa primeira questão pode estar exatamente lá, no seu passado.

(...)

Cam continuo analisando o que Roland havia dito, como seria possível Lilly ter alguma ligação com o passado dele? Imaginou que talvez ela fosse algum tipo de sensitiva, no entanto, por que o seu passado seria o escolhido? Era irrefutável que a ligação dela com os pais era mais poderosa e nesse caso, ela teria tido a visão do passado deles e não do dele. A conversa com Roland tinha levantado uma segunda questão ao invés de responder a primeira, mas talvez ele realmente estivesse seguindo contra a corrente.

Ele se alongou e acomodou as mãos atrás da cabeça, ele sabia tão bem quanto Roland que o passado não devia ser alterado, mas a sua intenção era somente ver se encontrava algo que explicasse tudo aquilo.

(...)

A figura estava em pé ao lado de uma lareira, os cabelos alinhados, uma das mãos escondida no bolso do terno de corte slim na cor azul marinho com listras verticais em um tom mais claro, enquanto com a outra sustentava um copo de Bourbon com duas pedras de gelo.

-Como tem passado, Adam? – Questionou em um tom que gerou um imediato desconforto no outro, que estava em pé próximo à entrada. – Sente-se, e por favor, feche a porta atrás de você. - Adam seguiu as orientações e sentou-se ereto na poltrona de couro escuro. O outro pousou sobre ele o olhar azul gélido o analisando friamente. – Você descobriu algo de útil? – Questionou bebericando mecanicamente sua bebida.

-Nada de concreto até o momento, senhor. – Respondeu.

-Hum. Entendo. – Disse abandonando a proximidade da lareira para contornar a mesa ao centro e se acomodar na poltrona a frente do outro. – Você se parecia tão capaz em executar essa simples tarefa. – Fincou o olhar duro sobre o outro.

-Se me permite. – Prosseguiu assim que outro assentiu com a cabeça. – O senhor me orientou a ler os sonhos dela, mas não encontrei nada relevante até o momento.

-Adam, eu determino o que é ou não relevante, e espero realmente que se esforce nesse pequeno serviço. – Mensurou com os dedos uma pequena proporção. – Caso não saiba, preservo um lugar especial em meus domínios para os que me são úteis, aos demais. – Deu uma longa pausa vendo o outro engolir em seco. – Você conhece o inferno o suficiente para saber o que acontece com eles. – Finalizou com o olhar estreito.

-O senhor não tem com que se preocupar, logo retornarei com novidades. – Se explicou.

-Assim espero. – Finalizou bebericando sua bebida.

Libertação (Cameron Briel - Fallen)Onde histórias criam vida. Descubra agora