Meu encontro

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Raquel estava atenta a toda a movimentação no quarto tentando controlar o riso, Lilly parecia uma barata tonta revisando sua bolsa e se olhando no espelho compulsivamente, ora averiguando a maquiagem quase nula ou se mostrando indecisa quanto usar ou não a jaqueta que tinha comprado.

-O que você acha? – Ela não sabia quantas vezes a outra tinha feito a mesma pergunta, somente que em todas as vezes tinha respondido a mesma coisa.

-Você está linda, Lilly. – Não era mentira, achava realmente que sua amiga estava linda.

-Ele está lá embaixo. – Raquel saltou da cama, chegando na janela constatou que o tal "Gato" já estava à espera da outra.

-Tá mesmo. Ele está com o carro do Roland. – Finalizou virando-se para Lilly que revirava a própria bolsa de maneira estabanada, provavelmente conferindo se não estava esquecendo algo.

- Vou indo. – Sorriu em resposta ao ver a amiga lhe mandando um beijo no ar e saindo quase saltitante pela porta. Voltou a janela e aguardou até ver os dois entrando no carro e partindo, caminhou até o guarda roupa, pegou sua jaqueta jeans deixando o quarto em seguida.

(...)

Desceu as escadas mais rápido do que o necessário, estava realmente ansiosa, tinha que se acalmar ou poderia tropeçar e cair de cara no chão, seria pateticamente histórico. Respirou fundo antes de abrir a porta, Cam estava encostado no carro com os braços cruzados sobre o peito. Ele ergueu o rosto assim que a notou atravessando o pátio e cravou seus orbes verdes nela, Lilly sentiu seu coração atrasar uma batida ou duas e o ar parecia lhe fugir dos pulmões, suas pernas tremeram levemente e tinha certeza que suas mãos estavam suando.

Cam mantinha o olhar fixo nela e por um segundo Lilly se sentiu sendo admirada, aqueles olhos esmeralda tinham um poder sobre ela. Será que a Raquel estava certa?

- Oi. – Disse suavemente.

- Oi. – Ele respondeu com aquela voz aveludada.

Cam estava todo de preto, imaginou que ele devia saber que a cor lhe caia bem, ressaltava a cor de seus olhos e ficava em perfeito contraste com sua pele levemente bronzeada, ele era tão lindo.

- Você está linda. – Sentiu suas bochechas queimarem, devia estar corada. Cam abriu-lhe a porta do passageiro educadamente fechando-a assim que ela se acomodou. Não sabia onde colocar as mãos, então, decidiu deixá-las repousando sobre suas pernas que tremiam levemente devido à ansiedade. "Se controla", repetiu mentalmente.

No trajeto conversaram sobre assuntos aleatórios, a viagem não durou muito tempo, logo estavam estacionando em frente da boate Moon ligth.

As pessoas se amontoavam na portaria tentando entrar ao contrário deles que entraram tranquilamente assim que Cam apresentou suas entradas. Levou algum tempo até seus olhos se acostumarem com o efeito das luzes coloridas, ele tinha percebido pois sentiu quando Cam entrelaçou os dedos ao seus, a guiando por entre as pessoas. A mão dele era macia e quente e seu aperto era firme sem deixar de ser cuidadoso, tinha gostado.

Assim que alcançaram seu destino no andar superior, Lilly analisou o lugar e notou que de onde estavam teriam uma vista privilegiada do palco.

-E aí? O que achou? – Percebeu um tom animado na voz dele, será que ele estava tentando impressioná-la? Se estivesse, tinha conseguido.

- Já tentei vir aqui algumas vezes, mas é tão difícil conseguir entrar. –Não escondeu sua admiração ao comentar. Aquela boate era muito disputada, certamente devido aos shows frequentes que incluíam algumas bandas locais de estilos variados, além da presença constante de Djs conhecidos.

(...)

Enfim o show iria começar, as pessoas rapidamente começaram a se movimentar em busca do lugar perfeito para curtirem, enquanto Lilly permanecia imóvel o máximo que os empurrões permitiam, não iria perder seu lugar facilmente, foi quando percebeu a súbita aproximação de Cam. Ele protetoramente se posicionou a suas costas, estendendo seus braços nas laterais do corpo dela e apoiou suas mãos no parapeito a frente.

Lilly virou o rosto o máximo que pôde e agradeceu sem som, recebendo em troca aquele sorriso encantador de canto. Era provocante tê-lo assim tão perto de si e ao mesmo tempo distante, podia sentir o hálito quente dele na lateral de seu rosto, a fragrância maravilhosa do seu perfume amadeirado, o peito dele que as vezes roçava em suas costas causando arrepios. Esse show seria longo.

Já tinham passado uns 40min ou mais, e segundo o cronograma a apresentação ainda teria mais uns 30 minutos, não que tivesse pressa que terminasse, o problema era que estava com muita vontade de ir ao banheiro e dificilmente aguentaria todo esse tempo. Informou a Cam que iria ao banheiro e saiu quase correndo, estava apertada, e no caminho pediu orientação a um grupo de moças e seguiu apressada para o lugar indicado.

No banheiro notou somente 1 das 7 cabines ocupada, o que para um banheiro feminino em uma boate era de se impressionar, mas não estava lá para analisar esse fato então, seguiu rapidamente para a uma das cabines vaga. Assim que terminou seguiu para pia lavou as mãos e se olhou cuidadosamente no espelho, estava feliz que a pouca maquiagem que usava não tinha escorrido e reaplicou o batom cereja limpando cuidadosamente as laterais dos lábios com o dedo indicador. Assim que se sentiu novamente pronta para retomar seu encontro, seguiu para a porta.

Tudo tinha acontecido tão rapidamente que levou algum tempo para assimilar o ocorrido. Assim que abriu a porta se deparou com um homem com uma das pernas flexionadas e escorada na parede do lado oposto do que ela estava, ele ergueu o rosto no mesmo momento em que percebeu a porta se abrindo. Lilly percebeu que as pupilas dele pareciam delatadas além de seus olhos parecem vermelhos, seja o que tinha consumido, bebida ou qualquer outra coisa, parecia forte. Não poderia negar que ficou assustada, ele tinha os olhos maliciosamente fincados sobre ela. Virou sobre os calcanhares mirando o lado direito do corredor que a levaria de volta a Cam, quando foi empurrada de encontro ao homem por alguém que saiu do banheiro feminino. Tinha sido um segundo homem que aproveitando daquele momento de distração abriu a porta corta fogo enquanto o outro a jogava para fora.

Gritava em vão e já sentia sua garganta ardendo duvidando que alguém a ouviria, contudo, continuou a se debater diferindo tapas e pontapés a esmo. Sua jaqueta foi arrancada e arremessada ao chão. Eles diziam coisas desconexas, ou talvez ela que estava tão apavorada que não conseguia entender.

Um deles a puxou forte pelos cabelos fazendo seus olhos lacrimejarem, e aproveitando de seu desequilíbrio momentâneo a imobilizou, mesmo assim, continuou a se debater. Não iria facilitar, então, a porta foi aberta abruptamente.

Suspirou aliviada ao vê-lo. Cam, levou poucos minutos para assimilar o que estava acontecendo, mas assim que seus olhares se cruzaram a resposta dele foi, se mover velozmente na direção do homem que a segurava o golpeando. Quando se viu livre ela rastejou e notou que Cam tinha praticamente saltado sobre ela, e deu início a uma sequência assustadora de golpes contra o homem. Era espantosa a intensidade e frequência dos socos. Quando o segundo homem se precipitou contra Cam, tentou gritar para avisa-lo, mas antes mesmo de algum som arranhar sua garganta, Cam já tinha abandonado o primeiro aparentemente desacordado no chão atirando-se sobre o outro.

Assistia com assombro aquela cena enquanto seu coração parecia sentir cada golpe disferido, ele tinha que parar, ele iria mata-lo por causa dela. Sentia uma pressão esmagadora em seu peito e poderia jurar que em determinado momento pensou ter visto pequenas faíscas vermelhas deixarem o corpo de Cam, era como se ele estivesse prestes a entrar em combustão e isso a assustou.

-Pare. Por favor. – Suplicou em um fio de voz. Sabia que não tinha sido ouvida, mas então, ele parou erguendo o rosto até que seus olhos se encontrassem.

Nesse momento pensou ter ouvido um estalo, seria de alguma coisa se partindo?

Talvez fosse seu coração ao ver os orbes verdes dele expressarem profunda amargura.

Libertação (Cameron Briel - Fallen)Onde histórias criam vida. Descubra agora