"A beleza da mania religiosa é que ela tem o poder de explicar tudo. Uma vez que Deus (ou Satã) são aceitos como a primeira causa de tudo que acontece no mundo mortal, nada é deixado à sorte... a lógica pode ser alegremente jogada pela janela."
Stephen King
_ Ela vai ficar bem?
_ Eu não sei... Ela teve muita sorte de você ter errado.
_ Não era nela que eu mirava – disse irritado.
_ Sei... Foi bem difícil suturar a têmpora dela, então eu vou manter o sedativo, vou aplicar uns antibióticos e a gente vê.
_ Ok, obrigado.
...
_ E então, como ela está?
_ As pupilas estão normais, a febre baixou desde ontem, mas o lugar está bem quente e inchado ainda.
_ Acha que a visão dela vai ter problemas?
_ Não, esse vermelho é por causa do hematoma, mas acho que ela vai ficar bem.
...
_ Julia? Consegue me ouvir?
_ Alguma mudança?
_ Ela tem resmungado muito nos últimos dias. Teve um pouco de febre ontem, mas está baixa agora.
_ Julia? Pisca os olhos pra mim, querida?
_ Nada... – suspirou desanimado.
_ Ela levou um tiro de raspão na cabeça. Esperava o que? Que ela levante e saia correndo?
...
Muitos zunidos e pensamentos erráticos passavam por sua mente. A cabeça latejava como se tivesse levado uma pancada severa e seu próprio cérebro estivesse inchado. Ouvia comentários e conversas ao seu redor, sem saber exatamente o que significavam, via dois pontos de luz em suas vistas de vez em quando, ouvia chamarem seu nome, mas não conseguia responder. Sentia sede. Sentia fome. Já sentia quando desabou no asfalto. Ela era um zumbi? Será que era isso?
...
_ Julia? Tá ouvindo? Mexe a mão se estiver?
As luzinhas voltaram nas suas vistas, mas desta vez ela conseguiu focalizar um rosto.
_ Ora, que coisa boa. Está me vendo?
_ ...
_ Julia? Quantos dedos têm aqui?
_ ... do-dois...
_ Bom, muito bom. Meu nome é Carla, doutora Carla. Você está inconsciente há cinco dias.
_ E então?
Julia conseguiu focalizar a visão na médica, vendo um rosto cansado, magro, mas ainda simpático de uma moça de cabelos castanhos, presos em um rabo de cavalo. Ao seu lado apareceu um homem alto, cabelos grisalhos cortados rende à cabeça e um rosto que apesar de meio rude, não era feio.
_ Ela parece estar voltando a si.
_ Julia, sou o delegado Germano. Você está no prédio da Polícia Federal, na ponte do Piqueri. Está ouvindo?
_ Não cobre muito dela, delegado.
_ ... estou ouvindo...
_ Eu queria acertar um daqueles malditos que estava atrás de você e te acertei de raspão, me desculpe.
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MUNDO Z
HorrorE se no meio de um apocalipse zumbi, você se encontrasse na maior capital do país? O que você faria?