" A morte nos espera nos cantos mais sádicos da vida"
David Ramon
Alguns poucos minutos de corrida foram suficientes para Sâm começar a cambalear no caminho para o prédio. Sua visão ficou turva, a respiração difícil, seu corpo queimando açúcar que não mais tinha em estoque, já que ela não se alimentava havia várias horas. A cabeça doía demais e ela sentiu que desmaiaria a qualquer momento. Enxergou a caçamba de lixo e precisou sentar atrás dela, no escuro, esperando o fôlego voltar.
Uma lágrima desceu de seu rosto sujo pela sujeira dos trilhos, das ruas, cansada, lamentando a morte do amigo que a salvara não tinha nem uma hora atrás. Seu corpo estava pesado, pedindo por um descanso, os músculos doloridos pelo peso que tinha que carregar. Não queria estar naquela situação. Queria ir para junto da filha, morta há tanto tempo depois do apocalipse, depois que os mortos não morreram mais.
_ Sâm, cadê você? – Luciano tinha urgência na voz.
_ Estou fazendo as unhas, o que acha que eu estou fazendo? – ela foi áspera.
_ A Fúria tá aqui na nossa porta, tentando entrar.
_ O que quer que eu faça? – Sâm tinha desespero na voz.
_ Vocês já estão voltando?
_ O Hunter... – sua voz ficou embargada e ela precisou respirar de novo o ar frio da noite – O Hunter não conseguiu.
Estar em um mundo repleto de zumbis não o prepara necessariamente para a morte. Ainda mais de colegas. Cada saída era um risco e eles sabiam. Um retorno para a segurança do prédio valia como um banho quente no final de um dia puxado de trabalho. Julia sentiu que Luciano perdeu o chão quando ouviu a notícia. Ele parecia tremer, como se estivesse totalmente desamparado, sozinho e sem saber o que fazer. Ela então tirou o rádio de sua mão.
_ Sâm, quanto falta pra você chegar?
_ Uns 600 metros, menos talvez.
_ Fique onde está, a gente dá um jeito neles.
Tanto Sâm na rua, quanto Luciano dentro da sala, se surpreenderam com a decisão da moça, que saiu de seu esconderijo e pegou o rifle que Leonardo costumava usar. Acariciou com saudade, lembrando de como ele o portava tão bem, estando desacostumada com o peso. Carregou o equipamento e pegou uma lanterna, pois o prédio também estava sem luz naquele momento, quando o gerador ficou sem gasolina. Sem ouvir as perguntas dele, Julia subiu as escadas, atenta aos ruídos e chegou ao andar de cima, com mesas de escritório e muitas janelas para o exterior. Indo para a ponta mais externa do prédio, ela empurrou com cuidado uma janela para fora e o ar frio da noite entrou no ambiente. Olhando com cuidado para a calçada, viu os três homens da Fúria falando algo pelo rádio, mas que ela não conseguia ouvir. Ajeitando-se na brecha da janela, Julia mirou naquele que parecia o líder, já que sua boina era diferente. E com um disparo rápido, arrebentou a cabeça dele.
Os dois colegas do líder da equipe avançada da Fúria se abaixaram no ato, procurando a origem do tiro. Foi repentino e silencioso, não tinha como saber de onde tinha vindo. Enquanto um desarmava o morto no chão, o outro apontava uma calibre 12 para todos os lugares escuros ao redor. Um pequeno grupo de zumbis saiu da escuridão de algumas árvores e cambaleou até os dois homens. Eles não tinham tanto tempo assim, portanto pularam para a caminhonete e se mandaram. Era bem provável, no entanto, que eles voltassem melhores armados e era bom que os três tivessem longe dali.
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MUNDO Z
HorrorE se no meio de um apocalipse zumbi, você se encontrasse na maior capital do país? O que você faria?