Prólogo

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- Elisa! Pare de jogar em mim!! - estava bravo. Muito bravo mesmo. Mamãe via e não fazia nada pra essa doida parar. - Mãe!

Ela ri ainda mais. - Elliot, você não pode me pedir para Elisa parar de fazer algo que você mereceu.

Emburro. - Mas eu só fiz ela sentar em um monte de barro. - cruzo os braços sobre o peito. Isso me fazia ficar com a aparência de ser mais forte. É o que papai diz.

- Elliot! - meu pai grita lá de dentro. Olho desesperado pra Elisa.

- Ele descobriu. - ela fala e saio correndo. Ela me segue.

- Ane! - ele grita enfurecido. Escondemos atrás da árvore do quintal. Elisa atrás de mim.

- Sim, Jack?

Ele joga a camisa dele para mamãe. - Está vendo? Barro. Por toda minha camisa. E tem mais em meus sapatos do que nesse quintal.

Ela ri. É um alívio. - Deixe de ser bobo. São só crianças.

- SÓ CRIANÇAS??? - ele parece ficar um pouco rosa. Vermelho?

- Me dê essa camisa. É fácil de lavar, agradeça por não mexerem na água sanitária ou você estaria perdido.

- Era nova... - ele fala baixinho. Escutamos um barulho de beijo e minha mãe fala alguma coisa em seu ouvido. Ela sorri e ele logo sorri também.

- Ele ta vindo atrás da gente? - Elisa me cutuca.

- Não. - viro pra ela. - Bate aqui! - ela soca minha mão aberta e voltamos a brincar de desenhar igual aos homens da caverna. Só que, ao invés de uma parede da caverna, mamãe só deixou fazer isso na árvore. Era legal sentir a casca áspera nos dedos. Fazia cócegas.

- Você vai me chamar pro seu aniversário? - ela me pergunta.

- Claro! É minha melhor melhor melhor amiga! É a primeira da lista. Vou fazer mamãe entregar o convite pra você primeiro. - concordo com a cabeça.

Ela sorri. Ela tava com janelinha. E seus óculos estavam caindo. Sem pensar, estico os dedos e empurro levemente os óculos. Ela olha meu dedo, ela fica boba.

- O que está fazendo? - de repente paro. Não sabia o que estava fazendo. Tiro minha mão de perto dela rapidamente.

- Nada.

Ela inclina seu corpo para frente e sinto ela beijar meu rosto. Sinto meu rosto esquentar. Escuto minha mãe chamando ela para ir embora, sua mãe tinha chegado.

- Tchau Elliot! - e sai correndo. Ela me beijou. Fui beijado por uma garota. Tenho 7 anos e fui beijado por uma garota. Pela Elisa!

5 anos depois

Eu estava lascado. Roubaram minha roupa. E o pior é que roubaram minha sunga também. Tinha certeza que a Luana que pegou. Eu dei um fora nela antes de começar a aula de natação. Ela ficou um pouco brava.

Elisa não gostava muito dela porque ela era muito falsa com ela. E se Elisa não gosta de alguém, eu também não gosto. Ponto final.

O problema é que eu estava sem roupa. Nenhuma mesmo. Never. Nothing. Necas de pitibiribas.

Alcanço meu celular no bolso da minha mochila. Pelo menos isso ela não levou.

- Elliot?

- Elisa! Oh! Ainda bem. Preciso de uma ajuda aqui!

- Eita, o que foi que você fez??

- Não grita! Quero que passe pra pegar uma roupa lá com minha mãe e me traga aqui no vestiário masculino.

- Porque não veio aqui fora? Estou te esperando uns 15 minutos e nada.

- Juro que depois conto. Anda logo!

Ela respira fundo. - Está me devendo uma!

Solto uma risada. - Te deve uns mil favores.

- Vou cobrar todos eles um dia... - e desliga.

O fato é: somos grudados. Se um precisa de uma ajuda, o outro socorre. Foi sempre assim. Até quando eu me metia em brigas. Apanhava, Elisa apartava, me levantava, corria comigo pelos corredores até minha mãe, minha mãe surtava, ela limpava os cortes, saíamos da sala de emergência do colégio, Elisa surtava, recebia uma bronca daquelas e ainda por cima ela me batia.

Só sabia de uma coisa. Eu morreria se ela não vivesse perto de mim.

3 anos depois.

- Eu preciso da sua ajuda, Elisa.

- Novidade? - ela resmunga e se joga na cama.

- Você não vai mesmo com a gente?

Ela me fuzila sob seus óculos. - Sério que estou escutando isso?

Dou de ombros. - Poderia ser divertido.

- Ela me odeia Eliiot pelo simples fato de eu viver mais perto de você do que ela.

- Mas ela não mora tão longe... - recebo alguma coisa na cabeça. - Ei!

- Ela se sente insegura comigo porque vivo praticamente com você, cabeção!

Bufo. - Carol não é assim. Já perguntei e ela disse que não. Acabou.

Ela estala os dois pulsos. - Tá bom então. Eu aposto que ela surtaria se eu chegasse lá também com você.

Começo a rir. - Quer apostar?

- Aham. - ela concorda.

Meia hora depois voltávamos pra minha casa com uma Elisa destroçada que segurava para não chorar na minha frente, eu fervilhando de raiva pelo que Carol fez pra ela, e me odiava por fazer ela passar por isso. Era minha culpa.

Eu puxo ela para um abraço enorme. Ela desaba. Escutava seus soluços baixinhos e seu corpo sacudia com eles.

Beijo o topo da cabeça dela. Eleonora estava com agente e xingava Carol de tudo quanto é nome. Aprendi uns três palavrões novos. Emily estava no volante e concordava com tudo que Eleonora falava.

Quando chegamos no cinema,Carol simplesmente surtou. E logo começou a xingar e falar asneiras para Elisa, pegando em pontos que sabiam que iam machucá-la. Principalmente pelo fato do seu pai biológico estar na cadeia. Ela ama Nicolas como se fosse seu pai, mas certas coisas não devem ser mencionadas. Vi seus olhos ficarem vermelhos pelas lágrimas não derramadas e logo ataco.

Não literalmente, é claro. Falo muita coisa. A maioria era bem feia. Pego Elisa e saio de lá, ligo imediatamente para Emily. As vezes confundo na hora de ligar para alguém. É tudo com E! Elisa, Emily, Eleonora e Elliot Delicia. Mas era fato. Eu amava Elisa de coração mesmo. Disse uma vez pra ela, mas eu estava meio bêbado. Ela não acreditou muito. Só me ajudou a ficar tranqüilo e não fazer nenhuma merda. Beijo o topo de sua cabeça.

- Vou te proteger Elisa. Confie em mim.

Ela assente e se aperta mais a mim. Ah Elisa...


Gêmeos - Nada IguaisOnde histórias criam vida. Descubra agora