Capítulo 1- Andrew Harper

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Casarão dos Harpers: 21/11/2009 - Segunda-feira, 11:55 a.m.


Não sei porque, mas tinha um mal pressentimento pra hoje. Desde que acordei, alguma coisa agitou meus pensamentos e tudo em que penso se torna, de um modo geral, errado. Talvez estivesse esquecendo de alguma coisa e lembrando de coisas supérfluas e desnecessárias como meu aniversário, por exemplo. Hoje era o meu aniversário, mas desde o ano passado decidi não planejar mais nada para comemorar. Gosto de festas, gosto de ver as pessoas se divertindo e esquecendo dos seus inúmeros problemas. Entretanto, estou com problemas demais para pensar em divertimento. Por mais difícil que seja falar isso, não posso me divertir cantando porque pensariam que estava "curtindo" a imprevisível morte da minha mãe. E esse é um dos diversos pensamentos que me fazem não querer comemorar meu aniversário. Por acaso, seria pedir muito que tudo na minha vida desse certo pelo menos uma única vez? Talvez sim, se ignorasse meu egoísmo e levasse em conta as diversas outras pessoas que têm problemas maiores e mais sem solução que os meus.

Estava me arrumando com a intenção de almoçar no The Old Stars com a Aubrey. Ela era irmã do meu melhor amigo e, mesmo não querendo que fosse, também éramos melhores amigos. Quando terminei, desci as escadas correndo porque já estava dez minutos atrasado. A minha sorte é que ela me conhecia o bastante para saber quão irresponsável sou. Pelo menos, isso não era um problema para mim.

— Ei, ei, ei! Não desça a escadaria correndo, Andy! Você pode se machucar feio. — disse Brownie. Ela era a governanta da casa. Estava conosco praticamente desde que nasci, por isso tomei a liberdade de colocar Brownie como seu apelido quando era pequeno. E pegou, pois todos a chamavam assim, até meu antipático pai.

Desci o último degrau e abracei ela.

— Feliz aniversário, querido! — desejou-me com todo aquele carinho que sempre me presenteava.

— Obrigado! — agradeci, radiante. — Agora vou me encontrar com a Aubrey. Me deseje sorte! — pedi.

— Vai finalmente dizer o que sente por ela? — perguntou, sorrindo como uma boba.

— Se tudo der certo, sim.

— Graças a Deus, meu menino! Essa garota precisa de alguém que se importe com ela como você se importa.

— Acho que só ela não sabe disso — falei e acrescentei — ainda!

— Isso mesmo. Mas acho que você deveria ir logo, deve estar atrasado como sempre. - advertiu-me.

— Minha nossa! Obrigado por avisar, tia Brownie! Amo você. — agradeci e dei um beijo em sua bochecha.

— Tchau, querido. E boa sorte! — gritou para que pudesse ouvi-la, pois já estava abrindo a porta.

Saí de casa e peguei o carro, que meu pai me dera no ano passado, na garagem. Levei exatamente dez minutos para chegar até lá e depois estacionei o carro em frente ao pub. Entrei e olhei ao meu redor para tentar achá-la. Era difícil porque o restaurante era um pouco escuro no dia, mas à noite era ainda mais.

— Aqui, batatinha! — chamou-me, acenando como uma formiga elétrica por ter comido tanto doce.

Caminhei até a nossa mesa, que ficava colada em uma parede de vidraçaria negrume cujo espaço era ocupado por estrelas que brilhavam no escuro. Por isso, o pub era bastante conhecido por esse atrativo especial e único que o faz ser exclusivo. Além de que é ótimo no quesito da culinária inglesa.

— Achei você, formiguinha! Me esforcei bastante para conseguir te achar dentre todas essas pessoas altas que têm hoje. — ironizei, abraçando-a. E me sentei na sua frente.

Primavera Sem Rumo (Livro 1) - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora