Capítulo 44 - Elizabeth Campbell

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Casa dos Campbells: 06/06/2015 – Sábado, 6:14 a.m.


Embora meu segredo tenha sido altamente impactante, que me fez mudar a direção da minha vida e a perspectiva do que me cercava, foi necessário abrir a caixa de pandora onde o resguardei para mostra-lo à mamãe.

No mesmo dia em que Connor confessara para mim – o que me deixou profundamente abalada -, após muito pensar e nós três refletirmos juntos sobre o rumo que aquela situação tomou, mamãe era a única que nada sabia e isso não era nada justo. Entretanto, mesmo que isso machucasse ambas, ela não mais poderia manter-se alheia a isso, uma vez que o restante de nossa família já sabia.

No instante em que soube, chorou, disse que não queria nunca mais vê-lo e se culpou, por isso a abracei, confortando-a pela culpa desnecessária que ela mesma jogara sobre seus ombros. Esse era um dos motivos pelo qual não queria que soubesse. Bastava que apenas eu sofresse por isso e, vê-la daquele jeito só me fez crer que estava certa.

Todavia, decidimos que não deveríamos contar-lhe sobre a conversa que meus irmãos tiveram com ele, porque certamente ela não aprovaria. Mesmo que ele tivesse sido um monstro comigo, mamãe não aceitava a violência como forma de vingança, muito menos eu.

Quando eles me contaram sobre o que fizeram com tio...não, tio não. Devia deixar esse hábito para trás, porque ele nunca foi um tio de verdade.

Enfim, quando me confidenciaram o que os dois fizeram com John, não fiquei nada feliz já que não era assim que as coisas deveriam ser resolvidas. A lei existia exatamente para isso e, esse foi justamente um dos motivos pelo qual decidi cursar Direito, em razão de confinar seres inomináveis como ele em prisões por toda sua vida.

Desse modo, como não havia mais nada a ser feito, já que os dois haviam "resolvido a situação", decidi deixar esse assunto de lado e enterrá-lo de uma vez por todas onde nunca devia ter saído.

Há males que vêm pra bem e esse me trouxe a amizade de Connor, na qual tanto almejava. Não diria que seríamos os melhores amigos, porque era suficientemente capaz de entender que precisaríamos traçar um longo caminho até que isso acontecesse. Ou talvez nunca se tornasse verdadeiro, entretanto não custava imaginar que poderia acontecer algum dia.

Acreditava que, se desejássemos algo com muito afinco, eventualmente poderia se tornar real, assim como ansiei ter um tratamento aceitável pelo meu irmão, que encontrava-se sentado à mesa da cozinha.

Connor apreciava seu café da manhã, com Dylan, mamãe e eu. Essa foi a cena que mais quis presenciar em toda a vida e era tão aprazível que apenas observava em silêncio, enquanto todos conversavam entre si.

– Falta pouco para nosso show, Dylan – Connor disse, antes de bebericar seu chá.

– Já ensaiaram todas as músicas do repertório? – mamãe perguntou.

– Não ainda, mas não faltam muitas.

– Distribuíram os panfletos? – Dylan interveio.

– É claro! – sorriu. – Quando é que faço algo pela metade? – falou pretensiosamente, antes de abocanhar um cogumelo do prato praticamente vazio.

Mamãe também sorriu.

– Meninos, preciso ir porque estou atrasada. Depois lavem a louça, tudo bem? Não esqueçam!

Antes de sair, ela apanhou o casaco que estava no encosto da cadeira e acenou, sumindo pelo estreito corredor, que ligava os dois cômodos.

– Acho que também devo ir, porque já está na minha hora.

Primavera Sem Rumo (Livro 1) - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora