Capítulo 43 - Andrew Harper

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Universidade St. Peter's: 29/05/2015 - Sexta-feira, 10:35 a.m.


— Está nervosa? — indaguei, ao seu lado.

Ela fez um aceno afirmativamente com a cabeça para a minha pergunta.

Estávamos esperando o outro grupo terminar sua simulação de julgamento.

Para ser sincero, também estava um pouco nervoso. Afinal, não era todo dia que um estudante de Direito simulava um julgamento, ainda que fosse apenas uma demonstração. Nessas duas semanas, nós tivemos que nos reunir para criar uma história convincente com a vítima e o réu. O tema era abuso sexual, e isso me custou muitos dias na biblioteca e também na sala de pesquisa virtual da faculdade. Vi filmes que envolviam audiências, no qual o defensor da vítima era o meu foco, pois essa era a minha função.

Não tinha muito conhecimento sobre esse assunto, uma vez que não era propenso a assistir ou ler as notícias em jornais. Desse modo, fiquei impressionado com as pesquisas que fiz. Não sabia que mais de 70% das mulheres do mundo sofriam algum tipo de violência no decorrer de sua vida. O que também não sabia, de jeito maneira, era que entre essas mulheres, encontravam-se crianças as quais sofriam com isso. De acordo com uma das minhas pesquisas, mais de 400 mil crianças não denunciavam o abuso, mantinham-se em silêncio. Um dos diversos motivos era que muitas delas não reconheciam o assédio até ficarem mais velhas. Se sentiam culpadas e com vergonha de confessar à alguém, pois, na maioria das vezes, o agressor ameaçava-as, fazendo com que temessem as consequências de uma provável denúncia. Vi que, além disso, essas crianças temiam o desmantelamento familiar, já que pensavam que se dissessem ninguém entenderia e os julgassem, dizendo que a culpa, sem dúvida alguma, era dela e apenas dela.

E, infelizmente, existiam famílias assim. Que não entendiam que a culpa nunca era e jamais seria da vítima, afinal, ela foi vítima de assédio, o próprio nome deixava isso claro. Enfim, decidi que, de qualquer maneira, teria que fazer uma defesa especialmente convincente para que todos que estivessem presentes ali entendessem isso.

Quando nossa hora chegou, nos posicionamos em nossos devidos lugares. Como era apenas uma demonstração e o tempo, neste momento, era o nosso inimigo, não poderíamos ficar enrolando muito. Por isso, a ruivinha logo começou:

— Bom dia, senhoras e senhores. Iniciaremos a audiência a pedido da mãe da vítima. A Sra. Jude Sparks acusa o Sr. William Hudgens por ser responsável pelo defloramento o qual sua filha está envolvida e quer fazer justiça pelos feitos do réu, assim como pela perda da inocência de sua filha. A vítima pode encaminhar-se até a poltrona do depoimento, por favor.

A vítima simuladora era uma das nossas colegas da turma de Direito Penal a qual pedimos que realizasse esse papel. Na maioria dos casos de abuso sexual infantil, não restavam indícios do ato sexual praticado. Portanto, a palavra da vítima era meramente relevante como uma das poucas provas possíveis ao processo, já que se tratava de um crime praticado às escondidas e, dessa forma, dificilmente havia testemunha.

— Ahm... eu... eu não sei o que dizer... — proferiu, cabisbaixa e notoriamente perdida.

Tratando-se que a declarante era a vítima e que a mesma tinha apenas treze anos de idade, era normal que ela não soubesse o que confessar.

— Srta. Catelyn Sparks, não precisa se sentir intimidada, apenas diga, desde o começo, como tudo ocorreu. Quando estiver preparada, pode começar — disse a Juíza, que era a ruivinha, para tranquilizá-la.

Primavera Sem Rumo (Livro 1) - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora