Old Church: 21/06/2015 – Domingo, 9:01 p.m.
O fim esperado, contudo agridoce, chegou com todas as forças. As aulas, a primavera e os dias que restavam para ficar com Thomas terminavam hoje, mesmo que tenha tentado muito aproveitá-los, não foram de forma alguma, suficientes para nós. Pelo menos, para mim não foi. Por outro lado, abri mão de passar esse último dia sozinha com ele, para estar presente no show que Connor dará, com a Crossed.
Dessa vez, não estava sozinha, nem precisava parar no fim da fila que se formava do lado de fora da igreja. Sim, uma igreja que fora transformada em um pub.
Como católica, achava isso tão estranho que quase se tornava uma blasfêmia. Todavia, de nada adiantava franzir o cenho ou remoer silenciosamente meu descontentamento, uma vez que nada podia fazer para mudar isso. Assimilar e aceitar era o que devia ser feito, portanto deixei-me ser levada pelas portas traseiras do pub, na companhia de Thomas, Louise, Iris, Andrew e Dylan, que logo desapareceu em meio à multidão. Era certo que seu lugar nos bastidores do show estava garantido, por isso não me importei.
– Li-chan, deseja algo para beber? – Thomas perguntou, assim que encontramos nossa mesa, que exibia um pequenino cartão escrito "reservado".
Soube que nossa mesa seria a lateral, para não atrapalhar quem realmente pagou para assistir ao show de rock 'n roll. Desse modo, não foi difícil encontrá-la no ambiente parcialmente claro.
– Vinho, por favor – sussurrei.
– Não demoro! E vocês? – dirigiu-se aos demais.
Desde o dia em que Iris convidou-nos para passarmos o verão em sua casa, Thomas aproximou-se dos meus amigos, inclusive do Andrew.
Conviver com pessoas de diferentes culturas era enriquecedor para mim. Sempre achei necessário abrir-me para isso, uma vez que podíamos aprender diversas lições, como a que Thomas ensinou-me, há alguns dias e, por essa eu não esperava de forma alguma.
Após saber que Andrew salvou minha vida, o comportamento de Thomas com o vocalista da Crossed foi admirável. Ele disse que se deixou levar pelas indiferenças entre os dois, mas que não era exatamente assim que devia agir. Não era essa a forma correta que lhe fora ensinada. Por esse motivo também, Thomas foi pedir desculpas por sua má conduta, inclusive entregando-lhe um presente como forma de gratidão, por ter cuidado de sua tenshi.
– Se puder trazer cerveja – Andrew falou.
– Aceito também – Louise disse.
– Eu quero água. Hoje serei a amiga careta, que não encherá a cara porque estou responsável por vocês todos – Iris brincou.
– Você responsável por nós? Vai sonhando! – Andrew provocou. – Na verdade, ded...Yoshimura, não poderei ficar com vocês aqui, mas obrigado. Como sabem, preciso estar lá em cima – apontou para o palco. – Aproveitem a vista, pessoal!
Andrew despediu-se de nós, antes de correr em direção ao palco.
– Vocês manterão seus pedidos? – Thomas perguntou às minhas amigas.
– Sim – elas disseram.
Então, ele foi até o balcão, deixando-nos sozinhas.
Aproveitei enquanto ele estava distante e elas conversavam aos sussurros, para observar melhor o local onde estávamos. A antiga igreja possuía dois andares e as paredes eram de tijolos desbotados. Lustres que imitavam velas acesas pendiam no meio do salão, onde logo abaixo havia um bar com diversas bebidas coloridas. Perto das extensas janelas em vitral, longas mesas de madeira polida jaziam, sem toalhas. Ao oeste, uma porta de vidro dupla permitia que os últimos raios de sol perpassassem, iluminando o ambiente já parcialmente claro, porque ao leste, que era onde a banda e nós estávamos, ela não alcançava.
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Primavera Sem Rumo (Livro 1) - Completo
General FictionLivro 1 da série "Estações Insólitas". Livro 2 - "Verão Inabalável": https://www.wattpad.com/story/93481736-verão-inabalável "As aparências enganam." Não se deve acreditar em tudo o que vemos, pior ainda quando achamos que conhecemos alguém. E era...