Capítulo 31 - Elizabeth Campbell

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Universidade St. Peter's: 07/05/2015 - Quinta-feira, 10:52 a.m.

Quatro semanas passaram tão depressa. As últimas semanas foram tão corridas, entretanto com a fala mansa, a paciência e a benevolência de Thomas, que continuava a sentar ao meu lado, foi fácil lidar com todas as minhas adversidades.

Era algo que já esperava ao passar todos os dias pela porta. Eu já sabia que, ao cruzar os estreitos corredores entre as fileiras de cadeiras, encontraria meu colega de classe sentado exatamente no mesmo lugar, e isso trazia um certo conforto ao meu coração. Lugar esse que ele vinha conquistando desde o dia em que ajudou-me com o trabalho em dupla.

Os finais de semana arrastavam-se e enfiava minha cabeça na organização das prateleiras, deixando assim que pudesse pensar nele apenas quando estivesse perto da hora de dormir.

Talvez, depois de muitos anos tentando evitar esse tipo de sentimento, Thomas encontrou o caminho que daria acesso ao meu coração fechado a sete chaves. Nesses dias todos, consegui me aproximar dele e me sentia à vontade em sua presença. Não completamente como com meus irmãos, apenas num nível ainda desconfiado e incerto de que algo ainda podia dar errado e encerrar-me de novo não seria difícil de acontecer.

Conforme fui conhecendo-o, descobri mais um lado dele que me era inesperado até então. Ele era muito divertido e me fazia rir bastante ao contar piadas todos os dias, antes dos professores entrarem na sala ou um pouco antes das aulas começarem. Meu colega de classe era tão bonito e seu sorriso era tão divertido que acabava rindo de suas brincadeiras com ele, conseguindo assim espantar meu mau humor matinal facilmente.

O único problema ainda era fazer contato visual. Lamentavelmente, essa parte sempre foi a mais difícil para mim, porque sentia que o que mantive em sigilo por doze anos, sairia sem minha permissão através do meu olhar. Por isso, apenas conseguia manter contato visual por dois minutos. Algum dia, irei me acostumar com isso e poderei olhá-lo por mais tempo. Algum dia, esperava eu que tudo se tornasse mais fácil e o fantasma que assombrava meus dias intranquilos iria embora para sempre e não necessitaria mais esconder, nem fingir que certos sentimentos existiam. Algum dia, até poderia vir a ter um relacionamento amoroso com alguém. Algum dia, quem sabe.

Afastei esses pensamentos que rondavam minha mente inquieta, antes de chegar à sala e verificar, mesmo que disfarçadamente, se Thomas já havia chegado ou se estava reunido com outros amigos que fizera nas últimas semanas. Dessa vez, a sala encontrava-se vazia e corri rapidamente meus olhos pelos poucos que ali estavam até encontrar a quem procurava. Ele não estava no nosso lugar de costume, mas sim com Rebekah e um grupo.

Aproveitando que estava distraído, caminhei até meu assento e depositei meus pertences em cima da mesa, retirando em seguida o livro que lia pela centésima vez, "O pequeno príncipe". Quando cheguei na parte onde mais gostava, que era a citação que escrevia em todos os papéis em branco, meu amigo sentou-se ao meu lado.

- Ohayou!

- O-ha-you go-zai-ma-su! - falei pausadamente cada sílaba, por medo de errar.

No pouco tempo que sobrava entre as reuniões na casa dele, na biblioteca ou na minha, Thomas ensinou-me o básico de japonês e, todos os dias, praticava a pronúncia. Hoje, parecia que havia falado certo, porque em resposta recebi um sorriso satisfeito e aprazível.

- Você está bem?

- Estou. E você?

- Mais do que bem!

Seu sorriso vibrante me deixou encantada por alguns segundos, entretanto logo me recompus para não transparecer o quanto havia ficado deslumbrada por ele.

Primavera Sem Rumo (Livro 1) - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora