Igreja Católica: 08/01/2012 – Domingo, 6 p.m.
Desde pequena, minha avó lia livros de contos de fadas para mim. Conforme eu crescia, percebi que aquele mundo, no qual princesas viviam era onde queria estar. Aprendi que se você já era bem tratado, poderia ser considerado uma princesa, sim. Afinal, não era questão de ter todas as regalias que elas tinham, mas de esperar o melhor das pessoas e de si mesma.
Assim que atingi uma certa idade mais racional, a vovó decidiu me contar o que ocorrera com meus pais. Ao saber, eu sofri, sem ao menos conhecê-los; era o mínimo que podia fazer. Desse modo, fantasiar ainda mais a vida real tornou-se o meu principal refúgio. Eu vivia exatamente nos contos de fadas. Certo, na minha cabeça só havia isso.
Foi então que, aos quinze anos de idade, tudo que havia na minha mente desvanecera como o açúcar na água. Tão fácil e tão rápido que, mesmo assim, eu não via onde tinha colocado os meus pés. Não conseguia encontrar uma base sólida na qual pudesse ficar.
Nessa idade, eu havia engravidado de um cara que eu achava ser meu príncipe encantado, como o das princesas. Se eu fosse lhes dar um conselho, seria: Nunca prenda-se apenas à fantasia da vida. Ela engana, trapaceia e você nem sequer percebe. Claro, é ótimo distrair-se, tentar ser algum personagem de algum livro, filme ou série. É ótimo não pensar tanto na sua própria vida. Mas também é ótimo reclamar dela e, por vezes, estar insatisfeito, pois veremos a sua verdadeira face. Desbotada, depreciativa e preconceituosa.
Também foi nessa idade que minha avó fez-me casar com Evan e eu estava realmente feliz por isso.
— Nem acredito que esse dia finalmente chegou! — balbuciei. A vovó estava ao meu lado esperando que a marcha nupcial começasse a tocar para podermos entrar.
— Está ansiosa, não é, querida? Você não para de esfregar as mãos umas nas outras — ressaltou, notando meu nervosismo evidente, sendo exposto da maneira menos involuntária possível.
— Sim... Mas, isso é normal, não é? Essa sensação de incerteza... Digo, todas as noivas e noivos têm esse surto minutos antes de se casarem, né, vovó? — falei tão rápido que minha avó ficou confusa. Mas, tornei a pronunciar mais devagar para que entendesse.
— Ah, minha filha, é claro que isso é normal. No meu casamento com seu avô quase fugi faltando apenas 5 minutos para entrar na igreja. Ele quase teve um treco — alegou para me acalmar, desfrutando-se do seu passado.
Ela sorriu e fiz o mesmo gesto.
— Queria que minha mãe estivesse aqui para me ver com o vestido dela. E meu pai para entrar comigo na igreja — lamentei em um sussurro.
A verdade era que não tinha nenhuma lembrança na memória dos meus pais. A vovó dissera que eles sofreram um acidente de ônibus, porém não resistiram aos graves ferimentos que tiveram. Minha mãe ainda tivera alguma chance ou eu tinha alguma chance de sobreviver por estar na sua barriga. No entanto, a morte esperava que uma de nós a seguisse, e minha falecida mãe deixou-me viver.
Senti uma lágrima escorrer automaticamente pela minha bochecha.
Mesmo sem realmente conhecê-los, sentia, a cada santo dia, uma falta inexpressiva de ter pais presentes na minha vida. Se o pessoal do colégio soubesse como era não tê-los em sua vida, talvez nunca reclamariam dos seus. Sem o amor, o carinho, os cuidados rigorosos, e a profecia de seus ensinamentos. Não faziam ideia da árdua sensação de vazio que consumia seu peito quando não os via assim que acordasse, desejando-o bom-dia com olhares orgulhosos.
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Primavera Sem Rumo (Livro 1) - Completo
General FictionLivro 1 da série "Estações Insólitas". Livro 2 - "Verão Inabalável": https://www.wattpad.com/story/93481736-verão-inabalável "As aparências enganam." Não se deve acreditar em tudo o que vemos, pior ainda quando achamos que conhecemos alguém. E era...