Ruas de Liverpool: Domingo - 29/03/2015, 2:22 p.m.
Nunca ansiei tanto para que um dia chegasse, como o de hoje. Contei os dias para rever meu irmão, uma vez que há meses não o via. Provavelmente, desde o meu aniversário no ano passado, onde me fez uma visita surpresa e saímos juntos para comemorar. A propósito, não contei à nossa mãe que ele retornará, porque decidimos fazer-lhe uma surpresa. Assim será melhor, muito melhor.
O trem saiu há pouco para Manchester, onde Dylan morava até então. A viagem não durará nem uma hora e meia.
Ao descer na estação, encontrei-o distraidamente observando quem chegava e quem partia, por isso, aproveitei a multidão que descera comigo para me misturar a ela e pegá-lo de surpresa. Meu querido irmão vestia um casaco claro, calça jeans e bota preta. Seus cabelos estavam ainda mais compridos do que da última vez em que o vi. Agora, repousavam sobre seus ombros e uma longa franja complementava seu estilo desalinhado, cobrindo-lhe o olhar apreensivo. Vez ou outra, balançava a cabeça como um tique nervoso, para libertar seus olhos do cativeiro loiro.
Era muito fácil confundir meus irmãos. Mas, não para mim. Sempre soube diferenciá-los, devido às quase imperceptíveis diferenças entre eles. Dylan tinha o nariz levemente torto, resultado de manobra mal sucedida de skate e Connor, uma cicatriz no braço. Além das roupas, que eram completamente diferentes. Se algum dia – o que achava impossível -, resolvessem trocar de lugar um com o outro, só conseguiria diferenciá-los se me aproximasse o suficiente para notar isso.
Acerquei-me silenciosamente por trás de Dylan e puxei a ponta dos seus cabelos, no entanto, ele não sentiu. Então, cutuquei seu ombro e isso o fez virar. Nos primeiros segundos, seu rosto estava assustado, mas logo franziu o cenho.
– Ei...Como você está magra, Lizzie! – comentou surpreso, enquanto avalia-me.
– Ah, não. Você também vai ficar falando sobre a minha magreza? – murmurei irritada. – Eu estou bem, Dylan – assegurei-lhe.
– Ok, não vou falar mais sobre isso – brincou, rendendo-se. – Vem cá, deixa eu te dar um abraço?
– Só se você não ficar mais falando da minha magreza. Preciso estar em forma, por causa do balé e isso não é novidade alguma – esclareci.
– Sim, eu sei – concordou. – Assunto esquecido, baixinha?
– Fechado! Agora, cadê meu abraço?
Fiz biquinho.
– Aqui está!
Dylan passou seus braços por cima dos meus ombros e me acolheu em um abraço fraternal de urso. Meu irmão, amigo, companheiro e piloto estava de volta à nossa família. Era como se nosso pai retornasse de uma longa viagem. Agora, estávamos completos e o membro mais sensato, aquele que nos protegia, zelava e era a luz da nossa casa, ocupava finalmente seu lugar. Como senti falta disso!
Ao chegarmos em casa, entramos devagar para não fazer muito barulho.
– Fique aqui, Dylan. Vou ver se ela está em casa. Não faça nenhum ruído! – sussurrei.
Encostei meu dedo indicador nos lábios.
Ele riu e apenas balançou a cabeça para confirmar, esparramando-se no sofá.
– Bobo! – murmurei.
Subi cautelosamente os degraus da escada, na ponta dos pés. Quando enfim cheguei ao topo, andei silenciosamente até a porta do quarto de nossa mãe para verificar se lá estava, entretanto, sua porta aberta respondia à minha pergunta silenciosa.
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Primavera Sem Rumo (Livro 1) - Completo
General FictionLivro 1 da série "Estações Insólitas". Livro 2 - "Verão Inabalável": https://www.wattpad.com/story/93481736-verão-inabalável "As aparências enganam." Não se deve acreditar em tudo o que vemos, pior ainda quando achamos que conhecemos alguém. E era...