Capítulo 18 - Elizabeth Campbell

563 58 79
                                    

Casa dos Campbells: 24/03/2015 – Segunda-feira, 6:02 a.m.


Seis a.m. e mais alguns minutos, era o indicava-me o alarme do despertador de cabeceira. Hoje seria nosso primeiro dia de aula, após o half term. Uma manhã ensolarada brindava-me através da janela, onde o sol atravessava e brincava com meus cabelos soltos. Finalmente, a primavera começara.

Embora a felicidade estivesse estampada em meu rosto, não foi fácil levantar da cama. Contudo, a primeira aula iniciará às oito em ponto e o que menos gostava era chegar atrasada nos meus compromissos.

Arrastei-me até o banheiro, esfregando os olhos para acostumar-me com a claridade que adentrava forçadamente por toda a casa e, logo após, ajeitei meus cabelos no alto da cabeça, assim que fechei a porta.

Ser esquecida atrapalhava meu cotidiano. Ontem, antes de dormir, separei as roupas que usaria nesta manhã gloriosa, entretanto não as trouxera comigo e apenas lembrei delas agora, no instante em que finalizava meu banho.

Isto posto, enrolei-me na toalha lilás, que antes fora felpuda. Hoje, ela era apenas um fragmento disso, porque estava puída demais e seu pano transformou-se em um tecido tão fino que ameaçava rasgar-se por completo se não a manuseasse com cuidado. Jamais teria a coragem de jogá-la fora, pois essa era a última lembrança que possuía do meu pai.

Esse foi seu presente, no meu aniversário de oito anos. Trouxe à memória o dia exato em que a ganhei, que foi quando ele chegou mais cedo do trabalho e eu estranhei, até cheguei a pensar que o motivo disso era eu, por isso fiquei feliz. Poderia ter aproveitado a presença dele por mais tempo naquele momento especial para mim. Infelizmente, anos depois descobri que havia sido demitido, todavia não quis entristecer-me com seus "problemas de adultos", estragando assim a minha alegria.

Lágrimas grossas rolaram pelas maçãs do rosto, ao trazer esta lembrança à tona. Desejava o abraço do meu pai, que sempre acalentou-me, afugentando os medos bobos da infância com palavras sábias e doces, enquanto acariciava meus cabelos.

Retornei ao quarto, em busca da foto do meu pai. Seu porta-retratos encontrava-se no lugar de sempre, que era sobre a mesa de cabeceira.

– Ah, papai – choraminguei ao apanhar sua foto, abraçando-a em seguida. – Por que você foi nos deixar tão cedo?

Certamente, ainda que abraçasse fortemente o porta-retratos, nunca conseguiria matar a saudade do meu pai. No entanto, essa foi a única maneira que encontrei para estar novamente com ele, mesmo que apertasse o objeto prateado contra meu peito, jamais seria comparado ao caloroso abraço que me foi privado há anos.

Era triste lidar com tudo isso, entretanto precisava seguir minha vida e enfrentar o primeiro dia de aula, após o recesso de uma semana. Levantei da cama e caminhei até o armário, optando por roupas leves e, novamente, não me incomodei com as cores.

Desci as escadas e logo saí pela porta da frente, assim como meus vizinhos. No entanto, com menos disposição que eles.

Caminhei com menos pressa, para observar discretamente o que faziam e era agradável acompanhar isso. Não só eu retornava às aulas, mas também as crianças. Alguns pais levavam seus filhos à escola, já outros precisavam caminhar um pouco mais para apanhar o ônibus escolar, que ficava a algumas léguas de distância da vizinhança.

Nossa casa ficava localizada num conjunto de outras residências iguais. Só conseguia diferenciar a minha das demais graças à porta azul que Dylan e eu pintamos, na adolescência e que precisava ser pintada novamente. Desse lado da rua elas tinham dois andares e toda a sua fachada era decorada com tijolinhos vermelhos. Já do outro, as residências eram maiores e diferentes por possuírem amplos quintais e um gramado vasto, impecavelmente decorados com seus jardins cheios de árvores e flores. Quando era criança, Iris e eu passávamos horas brincando no da sua casa.

Primavera Sem Rumo (Livro 1) - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora