Capítulo 11 - Iris Thompson

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Casarão dos Thompsons: 18/03/2015 - Quarta-feira, 6:52 p.m.


Essas férias estavam sendo meio chatas. Não completou nem uma semana desde que as aulas entraram em recesso e o tédio invadiu minha mente, como se uma barreira de contenção quebrasse e inundasse cada canto de um lugar. Assim era como estava me sentindo. Há pouco acabei de almoçar e tive que fazer mais uma vez o papel de "boa menina", enquanto presenciava pacientemente àquela cena da família bonitinha. Já estava ficando de saco cheio dessa farsa toda e, antes que eu abrisse minha boca, saí para espairecer. A necessidade de sair para beber e esquecer tudo gritava alto dentro de mim, então resolvi atender ao seu chamado.

Levantei da cama na qual estava esparramada e caminhei até o espelho de corpo inteiro. Dei uma analisada na roupa que estava vestindo: uma calça jeans caqui e um suéter azul e, apesar do frio, não usava sapatos. Locomovi-me até o armário e busquei a bota preta de cano curto, para combinar com o suéter. Voltei para o espelho e passei uma maquiagem básica, para o dia, acentuando minhas bochechas salientes e caprichando nos olhos, ao passar algumas camadas de rímel preto. Para o lugar onde iria, estava bom demais! No entanto, não queria sair sozinha, porque beber sem companhia era completamente deprimente e me fazia parecer desesperada. Odiava ficar só, preferia estar sempre rodeada de amigos e era isso o que iria fazer. Sabia que Liz não gostava muito de andar por aí com meus colegas de bebida, porém esperava que ela fizesse uma exceção só por hoje. Não iria lhe custar nada e tinha alguns meios de conseguir isso. Ela não iria se opor, disso eu tinha certeza!

Apanhei minha bolsa, as chaves do carro e o celular. De sapatos calçados e roupa combinando, dei uma última checada para ver como havia ficado e abri um sorriso enorme, por ter conseguido me arrumar em tempo recorde. Bem, já estava meio que pronta mesmo. Afinal de contas, não conseguia ficar desarrumada e com os cabelos despenteados nem dentro de casa. Receber uma visita inesperada, parecendo um trapo? De jeito nenhum!

Desci as escadas e, conforme fui me aproximando do hall de entrada, ouvi vozes sussurradas, vindas da cozinha. Reconheci quase que imediatamente como sendo dos meus pais e eles pareciam estar se divertindo. Isso seria impossível se ela já tivesse contado o que fez, mas por enquanto eu ia me manter calada. Só por enquanto.

Abri lentamente a porta e continuei a ouvir as vozes, no entanto mudei de ideia e fechei-a novamente, decidindo por ir até lá e cumprimentar o casal feliz, pois precisava jogar algumas indiretas para a minha querida mãe. Devia ver a quantas andava o seu esforço em fingir ser uma bela e adorável esposa, que não colocava chifres em meu pai. Revirei os olhos e caminhei rapidamente até lá, esfregando entre os dedos a alça da bolsa bege, pensando em alguma coisa bem interessante para jogar no meio da conversa deles. Se ela pensava que aquela história de "se não está satisfeita, pode ir embora", iria me frear, estava completamente enganada.

- Então, querido. O que vai querer para o jantar? – indagou ela, num tom doce e que me fez respirar fundo para não vomitar.

- O que você quiser cozinhar, amor meu – respondeu ele, com a voz cheia de amor.

- Olá, olá! – enunciei ao entrar na cozinha com cheiro de desinfetante. Minha mãe tinha essa mania até que boa. Ao terminarmos as refeições, sempre limpava tudo e a deixava brilhando de limpa, tanto que não se notava nenhum vestígio de louça suja, nem fogão sujo. Estava tudo sempre na mais perfeita ordem e eu gostava disso; uma pena eu não ser tão metódica assim.

- Olá, ursinha! – proferiu meu pai, que estava sentado na bancada de madeira escura, observando minha mãe guardar os últimos pratos limpos no armário. – Venha, sente-se aqui – puxou uma banqueta para que sentasse ao seu lado, o que faz um barulho estridente em contanto com o piso quadriculado.

Primavera Sem Rumo (Livro 1) - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora