República: 15/05/2015 - Sexta-feira, 7:58 a.m.
Senti certa repulsa quando Iris me ligou na noite passada, porque, convenhamos, se tínhamos concordado em parar de fazermos sexo, era isso que devíamos fazer e não o contrário. Porém, admito que me precipitei ao generalizar tudo. Quando disse que gostava dela, era verdade, mas sabia que não era nada demais, pois meu coração não acelerava repentinamente quando a via.
Era um gostar diferente. Afinal, não queríamos compromisso sério, apenas algo que nos distraísse. Apesar de tudo, nada mudou. Continuamos conversando como se fôssemos os melhores amigos, porque isso era o que éramos realmente. Nada de olhares tortos, nada de ignorância entre nós, nada de gelo. Para ser sincero, dizer que me arrependi de ter passado esse pouco tempo com ela seria uma enorme mentira, além do mais, terminamos bem, como se nada tivesse acontecido e isso era vantajoso para nós dois.
Quando entrei no quarto dela, vi uma garota frágil dormindo e desde então não consegui mais parar de olhá-la. Nem para o corpo da Iris quando tirou sua roupa na minha frente. Depois que ela saiu, Elizabeth acordou após passarem-se dez minutos. Levou uma eternidade para a ruivinha concordar em passar uma parte do dia comigo, porém, ainda descontente com a ideia de passarmos o dia juntos e certamente irritada com a Iris por ter sugerido isso, se arrumou e me seguiu calada até a Starbucks que ficava atrás da república.
O nosso relacionamento não era um dos melhores. Ela ficara a quase um metro de distância de mim, enquanto eu tentara me forçar a manter e respeitar o seu espaço. Só que era muito difícil! Normalmente, as pessoas que aproximavam-se de mim por conta própria, mas ela se afastava como se tivesse com medo de me tocar, de olhar dentro dos meus olhos. Não sabia lidar de jeito algum com isso e ela teria que aceitar. Foda-se o que pensava sobre mim. — pensei.
Quando entramos no estabelecimento, o aroma de café nos recebeu de braços abertos. Senti meu estômago revirar no mesmo instante, pois não gostava nem um pouco do cheiro nem do gosto de café. Mas, era o lugar mais perto que conhecia para podermos tomar um café da manhã saudável.
A Liz em nenhum momento deu sua opinião sobre aonde iríamos, por isso entendi seu silêncio como se estivesse concordando com a minha decisão.
A fila do café estava enorme e agradeci muito por não gostar. Soube naquele momento que a ruivinha também não gostava, pois foi pedir chá. Essa era outra bebida que não apreciava. Sempre soube que os britânicos eram muito conhecidos por tomar o chá das cinco, porém isso não queria dizer com todas as palavras que todos deveriam gostar; não era uma regra. Foi justamente por causa disso que pedi um chocolate quente com alguns muffins para acompanhar.
Quando pegamos nossos pedidos, fomos para uma mesa vazia e nos acomodamos.
Tomei um gole do chocolate e passei um pouco de geleia no muffim para logo após comê-lo. Já era bem evidente que não suportava silêncio, ainda mais quando ele só prolongava.
Respirei fundo e desatei a falar:
— Olha só, ruivinha, o silêncio não é muito atraente. Se vamos passar o dia juntos, temos que dar um fim nesse espaço que há entre nós o quanto antes, senão não vamos ser uma boa companhia um para o outro.
Tomei mais um gole e comi mais um muffin com geleia, enquanto a olhava e esperava que se pronunciasse.
— Mas... — começou. — Eu nem pedi para passarmos o dia juntos... — cochichou, mas consegui ouvir o suficiente.
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Primavera Sem Rumo (Livro 1) - Completo
General FictionLivro 1 da série "Estações Insólitas". Livro 2 - "Verão Inabalável": https://www.wattpad.com/story/93481736-verão-inabalável "As aparências enganam." Não se deve acreditar em tudo o que vemos, pior ainda quando achamos que conhecemos alguém. E era...