Prólogo

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- Caio, você tá me ouvindo?

- Desculpa, Pedro, minha cabeça tá longe...

- Como sempre. Tava te perguntando se quer nadar um pouco.

- Meu irmão deve tá puto de trabalhar sozinho, mas que se dane. Vamos!

Eu tirei minha roupa no mesmo ritual de sempre. Joguei a camisa na cara do Pedro, depois a bermuda e, por fim, a cueca. Fiquei parado de frente para ele completamente nu esperando que fizesse o mesmo. Depois de tanto tempo, Pedro ainda tinha vergonha de mim.

Tínhamos 19 anos e vivíamos uma vida pacata no interior de São Paulo. Nossos pais eram agricultores de fazendas vizinhas. Eles nunca desconfiaram do que havia entre nós. A gente chamava aquilo de amor, mas não tínhamos certeza se sabíamos o que era amor de verdade. Estávamos sempre grudados matando serviço, o que deixava meu irmão mais velho, Dino, muito puto.

Tomávamos alguns cuidados. Íamos para a nascente do rio onde quase ninguém ía. Também saíamos com meninas pra deixar todo mundo contente. Mulheres a gente não ligava de sair, mas nunca poderíamos nos envolver com outros garotos.

Chamávamos a atenção da pequena cidade pacata. Eu tenho olhos verdes - os quais dizem que parecem sorrir, meu corpo era mais queimado de sol já que passava o dia inteiro torrando na plantação (hoje sou branco até demais) e meus músculos eram - e são - bem definidos. Meu cabelo é castanho cheio de cachos e minha boca é fina (só acho muito grande). O Pedro poderia facilmente ser confundido como um irmão, já que nos parecíamos. Seus olhos eram bem pretos e eu amava fazer carinho em suas grossas sobrancelhas. Ele peludo, eu lisinho. Ele com poucos sonhos e eu sempre com a cabeça nas nuvens.

Naquela tarde, corremos para o centro de uma pontezinha de ferro e nos jogamos de lá como de costume. Dentro da água gelada e completamente nus, nos abraçamos e nos beijamos. A sensação de ter o corpo colado ao de Pedro era indescritível.

- Eu não consigo tirar meus olhos de você, cara. Como consegue fazer isso comigo? - Pedro era deliciosamente romântico comigo.

- É só não olhar. Fica de costas. - Já eu era completamente louco por ele.

Virei Pedro de costas e o abracei com força. Inevitavelmente eu me excitava fácil. Perdi a noção do tempo em que fiquei abraçado e fazendo pressão para me encaixar nele de forma perfeita. Eu beijei seu pescoço e ouvi a respiração forte que fazia meu corpo inteiro tremer. Logo sairíamos da agua e faríamos amor nas pedras mais altas, mas eu não estava com pressa. Valorizava aquele toque de cumplicidade e fazia durar o máximo possível.

- Caio, me promete uma coisa?

- Se eu puder...

- Não importa o que aconteça, seja feliz, meu menino grande!

Adorava quando Pedro me chamava assim. Também adorava ser o menino grande dele. Quando se virou para mim novamente, meus olhos não queriam acreditar no que estavam vendo. Jorrava sangue do nariz de Pedro como nunca vi na vida. Gritei o mais alto que pude enquanto ele me olhava temeroso percebendo que o sangue descia pelo seu peito e ganhava o curso da leve correnteza.

Então descobrimos que uma bactéria estava tirando a vida da única pessoa que me importava. Dias depois ele partiu e me dei conta de que Pedro nunca me ouviu prometer que eu seria feliz. Ainda bem que não fiz isso, porque eu o perdi e a felicidade parecia tão distante quanto o infinito depois daquilo.

Na despedida, foi a primeira vez que eu, o menino grande, chorou. Quisera eu que fosse a última.


Com amor é mais caro (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora