Capítulo 4

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Leventei-me mais cedo e fui dar uma corrida de uma hora e meia. Quando acabei fui tomar um banho e quando fui para a cozinha preparar o meu pequeno-almoço, Hilde já estava sentada à mesa a beber o seu café matinal.
-Bom dia!
-Bom dia- respondeu-me ela.-Hoje madrugas-te.
-Acordei e já não consegui ficar mais na cama. Aproveitei e fiz a corrida matinal.
-Uma hora e meia?
-Sim.
-Preciso de ir à cidade comprar uns computadores e câmeras de vigilância, além de comida. Queres que te traga alguma coisa?
-Bem...podes trazer-me aquelas bolachas cheias de chocolate e avelã que vimos no outro dia.
-Vou ver o que posso fazer. Não quero que enfrentes os mogadorianos com uma pança cheia de chocolate.
-Era impossível ter sequer uma pança com a corrida que me obrigas a fazer de uma hora e meia. -disse ironicamente.
Ela apenas sorriu, acabou o café, pegou nas suas coisas e saiu.
Acabei de comer uma maçã e fui fazer flexões e abdominais, Hilde diz sempre que tenho fazer cinquenta de cada mas hoje fiz cem de cada. Enquanto fazia as flexões fiquei a pensar no sorriso de Hilde. Porquê aquele sorriso, nem se limitou a dizer nada apenas sorriu, isto está-me a matar por dentro.
Finalmente após algumas horas ela chegou, ajudei-a a descarregar as coisas com telecnecia.
-Vais contar-te porquê que agis-te daquela maneira ao pequeno-almoço?
-Como assim?-respondeu ela.
-Bem fizeste aquele sorriso e não te limitas-te a dizer mais nada.
-Por nada, fizeste-me lembras da tua mãe sabes? Era um mulher muito simpática as vezes teimosa muito teimosa, tudo tinha de estar perfeito para ela.
Limitei-me a ouvir Hilde falar sobre os meus pais.
-O teu pai era mais do tipo de pessoas que estava sempre a ajudar, fazia parte do voluntariado de ajudar os Chimaeras e também ajudava de vez em quando numa creche. A tua mãe não gostava do tempo extra que o teu pai passava com as outras crianças e não contigo chegava a discutir com o teu pai por causa disso mas acabam sempre por não se deitarem zangados, a tua mãe usava aquele tom de voz que usas-te a pouco. Tu és tal e qual ela.
Sorri. Pensar nos meus pais faz-me feliz. Pensar que afinal eles não estão totalmente mortos mas vivem dentro de mim a cada dia que passa, que estão comigo a cada mudança, a cada conquista , a cada momento de tristeza e felicidade.
-Obrigada Hilde, por tudo.
-Não tens de agradecer.
Pousei tudo em cima da mesa e ajudei-a instalar as câmeras lá fora.
-Hilde dás-me uma ajuda, não consigo ligar os fios à câmera.
-Já vou! -ecoou ela.
Os fios não estão a encaixar, forcei um pouco a entrada e nada.
-Hilde!
-Já vou, já vou...dá cá eu faço.
Ela sobe ao escadote e começa a ligar os fios com tanta facilidade que cheguei mesmo a duvidar daquilo que sei sobre tecnologia. Hilde dá-me umas aulas básicas a cada verão que passa, sobre como esconder a minha localização, a apagar informações e imagens da Internet e também como encontrar as mesmas. Hilde sabe muito mais do que o pouco que me ensinou, sempre me perguntei como é que ela consegui forjar as nossas identidades a cada localidade que passávamos, como conseguia falsificar os meus documentos escolares e médicos.
-Hilde?
-Sim Um?
-Onde aprendes-te isso tudo, quer dizer suponho que falsificar documentos não seja coisa que se aprende num manual.
-Bem, eu e os outros Cêpan's tivemos um curso digamos que muito intensivo em Lorien quando os Anciãos nos avisaram, só tivemos quatro dias para apreender tudo o que sei agora. Tivemos também um pouco de treinamento dentro da Nave mas não foi nada de especial.
-Eu odeio aulas teóricas nem sei como aguentas-te.
-Foi para o bem do nosso povo. Tinha que aguentar.
Assenti.
-Achas que foi correto? Nos salvarem?
-Suponho que sim.
-Quer dizer podiam ter enviado mais crianças, mais Guard's, mais lorianos. Só mandaram para estes planeta nove. Tão poucos para algo tão grande.- disse.
-Por alguma razão tinham de ser nove. Não nove lorianos quaisquer mas sim vocês nove . Os Anciãos planejaram que nos Cêpan's deveríamos proteger e ajudar a desenvolver os Legados de vocês para um dia serem mais fortes que os Anciãos originais, vocês estão destinados a isso, da vossa vitória está pendente o futuro do nosso povo. Por isso é que é tão importante manter vocês nove vivos. A todo o...
-A todo o custo, eu sei.-conclui.
-É importante que saibas. Não estou neste planeta à pouco mais de seis anos para no final a nossa missão, a nossa causa falhar.
Assenti de novo. Ela tinha razão, tinha sempre.
-Espero que os teus outros Legados de desenvolvam logo.
-Achas que podem estar atrasados? Disses-te que se desenvolviam aproximadamente em uma duas semanas depois do primeiro. - disse.
-Podem até já se ter desenvolvido não sendo tão óbvios como criar vibrações no solo.
-Earthquake.- disse.
-Sim. Esperemos então que não demore. Anda vamos para dentro... Ajudas-me a fazer o almoço?
-Claro, compras-te daquela massa?
-Não a podia deixar de comprar.
Sorri, adoro estes momentos a sós com a minha Cêpan, não quer dizer que eu nunca consiga estar com ela sozinha mas é diferente quando não passamos o dia todo a treinar. Entramos dentro da cozinha e comecei a cozinhar. Hilde me ensinou à muito tempo como cozinhar e caçar para o caso de lhe acontecer alguma coisa, odiava pensar nisso mas é uma grande possiblidade. Começei à relativamente pouco tempo a aprender a conduzir, Hilde ensinou me a partir do momento em que os meus pés tocaram nos pedais, isso foi quando tinha doze anos. Agora consigo conduzir como uma profissional, também sei disparar armas desde muito nova e também facas, praticamente de todos os tipos. Tudo para " minha defesa pessoal" . Sempre esperei ansiosa por este momento, o momento em que os meus Legados se começariam a formar.
Claro que houve uma altura em que eu desejava ser normal que Hilde me dizia estes coisas porque era doida e me tinha raptado dos meus verdadeiros pais, mas lá no fundo eu sabia que ela tinha razão, mas a ideia de me fixar num sítio por mais de três meses agradava-me, fazer amigos de verdade e não ter de mentir a cada cidade diferente. Quero ir a escola e apesar do incidente na Tailândia isso não mudou. Queria que Hilde me deixasse ir a escola, fazer amigos e fazer festas de pijama em minha casa e ir a casa de outras meninas da minha idade. A escola mais próxima da nossa casa atual fica a mais de meia hora de carro mas não tenho dúvidas que consigo chegar lá a pé no mesmo período de tempo. Nós nove podemos nos parecer como vocês mas não o somos, somos mais fortes e mais rápidos do que qualquer coisa que vocês já viram, somos os heróis que retratam nas bandas desenhadas e nos filmes. Nos não somos como vocês, somos de outra civilização de outro planeta. Outras civilizações realmente existem e algumas querem destruir vos a todo o custo, como fizeram connosco. Vocês ignoram mas a verdadeira guerra ainda está para vir e vocês humanos estão muito longe de estarem prontos.

Eu Sou A Número UmOnde histórias criam vida. Descubra agora