Capítulo 6

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-A tua mãe não podia ter mais filhos devido a um cancro que ela apanhou depois de tu nasceres, era perigoso e podia chegar mesmo até à morte dela e da criança. Ela não se contentou com essa ideia e desanimou muito chegando quase a ter uma depressão pós parto. Se nao fosse o teu pai a desvia-la do abismo.Ela engravidou sem planear quando tu tinhas cinco anos, o teu pai ficou radiante e começou logo a fazer planos mas os médicos tentaram que a tua mãe aborta-se porque podia ser muito perigoso. Ela não quis e a consequência disso foi mesmo a dificuldade no parto para ter a tua irmã. Felizmente o teu pai tinha o poder da cura e salvo-a no último minuto teletransportando-se para o meio da sala de operação quando teve um mau pressentimento, eu estava do lado de fora à espera, ainda era nova nisto de Cêpan pois só te conhecia à pouco mais de um ano. A tua mãe recuperou relativamente bem e a tua irmã nasceu saudável. Lembro-me que tu ainda ficas-te com um pé atrás mas depois adoras-te a ideia...- suspirou. -Ela tinha um ano e pouco quando a invasão se deu, era demasiado pequena para morrer para abandonar este mundo, ela e as outras crianças.
Tentei imaginar novamente a minha irmã, Maya ,não me lembro dela.
-Pelo que sei o teu pai ajudou bastante na batalha, aliás foi ele que trouxe, juntamente com a mãe de uma menina Guard, se não me engano da número Sete, alguns suprimentos que faltavam e roupa, depois despediu-se juntamente com os familiares dos outros oito, os Guard adultos conseguem até sem grande esforço teletransportar qualquer coisa juntamente com eles.- Hilde disse.
O meu pai...um grande guerreiro valente na guerra, espero um dia ser como ele.
-Porque não me contas-te antes?- perguntei.
-Sabia que não te lembravas dela por isso achei melhor não tocar no assunto.
-Porque agora és psicóloga? - disse severamente arrependendo-me rapidamente do que tinha dito.
-Eu sei que às vezes não sou justa mas faço tudo com a maior das intenções para que tu sobrevivas e consigas completar o papel que os Anciãos tinham para ti. -disse ela levantando-se da minha cama. -Não espero que o compreendas agora mas espero-o no futuro, Um.
Ela caminhou para a sua cama e deitou-se.
-Desculpa- disse baixinho.
Ela virou-se para mim e não deixou de esboçar um sorriso.
-O laço que nos une é maior que qualquer coisa... e espero que resista. Agora já é tarde tenta dormir. - diz-me Hilde.
Sei que não vou conseguir com tantos pensamentos na cabeça por isso tento puxar conversa.
-Hilde?
-Sim?
-Antes de ter a visão da invasão em Lorien eu comecei a cantar uma canção que tinha na cabeça...era triste e suave mas parecia uma canção Lorica.
-É possível, achas que consegues cantar outra vez?
Assenti e comecei a cantar baixinho a música que cantava lá fora. Hilde escutou-me com atenção e não me interrompeu até que as palavras me faltaram. Corei no escuro.
-Era a música que mais se ouvia nos últimos dias de Lorien, sabes? É uma música triste criada pela Anciã original cujo um dos Legados dela era o canto,número 8 acho, ela criou a letra da canção após o Ancião 7 seu marido morrer.  Isso é o que diz a lenda.Normalmente era a música que se cantava em dias tristes apesar dela ter outras como o Hino de Lorien, foi ela que o escreveu.
Depois disso nenhuma de nos falou e percebi o porquê. Estávamos as duas provavelmente a pensar em Lorien, nas pessoas que perdemos e que nunca podemos voltar a ver.
Adormeci pouco tempo depois e quando acordei não vi Hilde na cama do outro lado do quarto. Vesti um fato de treino e desci para a cozinha, peguei numa peça de fruta e deparei-me com um recado de Hilde a dizer que tinha ido ao banco devendo estar aqui à hora do almoço. Fui fazer a corrida matinal e fazer ioga. Estava mesmo a relaxar quando Hilde chegou, o carro tinha muitas arranhões até demais. Hilde saiu do carro à presa e entregou em casa.
-Vai buscar as malas de emergência. !- gritou-me ela.
Sabia o que se estava a passar, os mogadorianos tinham encontrado Hilde, estávamos em perigo. Corri para dentro de casa e fui buscar as malas que estão no piso de cima ao pé da porta do quarto e corri de volta para junto do carro. Hilde saiu a correr de casa com um comando na mão.
-Tens aí tudo?
-Sim...o que...-Não tive tempo para acabar a frase quando Hilde engatou as mudanças de repente e saiu com a velocidade máxima.
-Toma- disse ela me dando o comando -Aciona o botão verde e protege a cabeça.
-Porque? -perguntei preocupada.
Carreguei no botão e antes de a conseguir por as mãos a cabeça a casa tinha explodido. A vegetação à volta começou a queimar mas logo se apagou.
-Explodis-te a casa? - perguntei histérica.
-Podia haver alguma prova que nos incrimina-se se os mogadorianos tivessem encontrado a casa. -disse ela.
-Tu tinhas uma bomba em casa?
-Em todas elas...isso não é importante. Os mogadorianos encontraram-me no banco! Temos que sair daqui!
-Como assim encontraram-te? O carro está quase desfeito!
- Tive uns pequenos percalços no caminho para chegar até aqui.
Olhei novamente para ela. Tinha a camisa cheia de cinzas e um corte pouco profundo no braço. Cheguei com o braço até a mala de primeiros socorros em baixo do banco.
-O que estas a fazer? - preguntou-me Hilde.
-Temos que limpar essa ferida antes que piore.
-Não temos tempo pra isso, temos de deixar a cidade ainda hoje!
-Deixa desinfetar e por um penso pelo menos! -disse firmemente.
Ela estendeu o braço ,eu limpei-lhe a ferida e seguimos estrada para outro destino. Outra vez uma mudança, outra nova identidade, nova casa, novo passado e nova mentira. Já esqueci por quantos lugares eu já passei, trinta, quarenta? Ficamos aqui nem um mês. Vou ter uma certa saudade da rotina aborrecida. Olhei para o horizonte ainda não era meio-dia, comecei a fitar um espaço no céu e a cantar a música que outrora significou a morte de uma alma-gêmea mas para mim significa a dolorosa mudança que tenho de fazer para me manter a mim e a Hilde seguras.

Eu Sou A Número UmOnde histórias criam vida. Descubra agora