Capítulo 8

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Leventei-me no outro dia, estava sol mas nem por isso estava calor, estava um pouco de frio lá fora e depois de me vestir e arranjar fui ter com Hilde que estava lá fora a cozinhar devido ao pequeno espaço que tínhamos dentro da nossa nova casa.
-Da próxima vez escolhemos uma casa maior que dê pelo menos para um casa de banho e cozinha decentes.
-É para já minha menina- disse ela ironicamente -  Quando acabares a corrida diz, que para haver água quente é preciso estar a pedalar.
- Estamos assim tão mal economicamente? -Disse com um sorriso à espreita nos meus lábios.
-Não temos de viver no luxo mas sim viver na invisibilidade sabes o que isso quer dizer não é?
- Sim...
Fui correr à volta da floresta que rodeava a cabana, durante algum tempo e passei por várias clareiras cada uma mais bonita que a outra, todas iluminadas pelo sol que brilhava e transmitia o seu brilho para as plantas da floresta que devido ao orvalho que caíra na noite anterior, pareciam alguns campos de Lorein repletos de prados verdejantes e flores de todas as cores possíveis, isto antes de sermos invadidos pelos mogadorianos e tudo ter sido destruido, imagens da guerra me assombraram e quase cai no meio do chão com tal escuridão que persistia nos meus pensamentos. Quando comecei a ficar cansada voltei para junto da clareira onde ficava a cabana de Hilde. Estava exausta, os músculos doíam-me e sentia o meu coração bater por dentro muito forte. Fui para dentro do banheiro e nem me importei de a água sair fria apesar do tempo estar um pouco frio já estava a aquecer e a água gelada pareceu que ao contactar o meu corpo foi o melhor remédio que já tomei na vida, a melhor sensação que o meu corpo já teve em contacto com o gelo da água.
Hilde ainda protestou quando me enfiei debaixo do chuveiro mas desistiu quando viu que eu não ia sair dali debaixo.
-Se ficares doente não digas que eu não te avisei.
-Eu não vou ficar doente-  afirmei
-Fazes sempre tudo o que queres! Não queres mais nada minha menina? - disse ela ironicamente.
Aproveitei esta oportunidade, se eu não disser agora provavelmente não lhe vou conseguir perguntar.
Quero ir à escola pensei eu, mas não tive coragem para o dizer, o dizer em voz alta para ela, para tornar aqueles pensamentos reais.
-Bem me pareceu-  disse ela, mais uma vez dirigindo-se para o almoço que ainda não estava totalmente pronto.
Fiquei de baixo do chuveiro com a água fria a bater no meu corpo a cada segundo. A minha mente está  totalmente desocupada. Perdi a noção do tempo e quando saí Hilde já estava a preparar o almoço.
-O que vai ser o almoço?
-Frango com arroz no forno.
-Delicioso. -Disse.
O almoço foi bem tranquilo mas não consegui parar de pensar na escola, fazer novos amigos e sair de casa, entreter-me com outras coisas sem ser com o treinamento e a não tentar morrer nas mãos dos mogadorianos.
Enterrompi o silêncio do almoço.
-Sabes acho que eu podia sair daqui e ver outros sítios.
-Em que estas a pensar? - perguntou-me ela.
-Eu sei que vais ficar chateada mas sabes que eu gosto muito de ti e não te quero magoar mas...
-Desembucha lá rapariga! - disse-me ela impaciente.
-Eu...eu queria ir a escola.-disse ainda num tom de receio.
Hilde ficou espantada com o que disse. E não se limitou a responder durante algum tempo até que respondeu friamente.
-Tu não podes ir à escola.
-Mas...
-Nem mas nem meio mas, está fora de questão ires à escola.
-Porquê que eu não tenho voto na matéria, na minha vida!?
-Um tu não vais à escola e ponto final.
Ela levantou-se e foi até lá fora. Seguia-a.
-Não podes decidir tudo na minha vida!
-Enquanto os teus Legados não tiverem todos desenvolvidos posso!
-Tu não és minha mãe.
Ela ficou abalada mas logo respondeu.
-Não, não sou...ela está morta por ti Um, tu não sabes quantas pessoas fizeram sacrifícios, morreram para vos salvar, a ti e aos outros e decerteza que não foi para tu vires para aqui e experimentares ser uma humana normal. Tu não o és, tens responsabilidades, responsabilidades maiores que tudo aqui na Terra!
-Eu não pedi para ter essas responsabilidades! - disse.
Hilde pareceu ainda mais surpreendida com o que eu disse, até que por fim disse.
-A minha decisão já está tomada.
-Por favor Hilde! -Pedi.
-Não podes morrer Um, não podes arriscar tanto.
-Eu prometo que vou ter cuidado Hilde,  por favor.
Disse isto de maneira tão suplicante que acho que tocou o coração de Hilde, bem la no fundo. Acho que ela se apercebeu que eu não posso ser só um soldado, também preciso de ser uma adolescente e preciso de viver a minha vida e se errar que aprenda com os meus erros e não com os erros dos outros.
-Eu vou pensar- disse-me ela.
Esbocei um sorriso no meu rosto ao principio tímido mas depois confiante.
-Eu não prometo nada- acrescento ela. -Além disso se fores para a escola tens de prometer que em casa pões primeiro o treinamento na tua lista de prioridades e não o estudo e que apesar de tudo não podes contar a ninguém a nossa verdadeira identidade e se vires alguma coisa estranha tens logo de voltar para casa e sem se quer questionar .
- Isso é um sim? -Perguntei-lhe entusiasmada.
-Isto é um vou pensar- ela disse-  eu sou responsável por ti e não sei o que faria se alguma coisa te acontecesse na minha tutela.
Fiquei entusiasmada, eu podia realmente ir à escola, era uma grande possibilidade que eu já estava disposta a descartar mas agora com a resposta de Hilde estou confiante das minhas hipóteses de sair desta casa pelo menos algumas horas por dias e por isso não pôde deixar de sorrir.

Eu Sou A Número UmOnde histórias criam vida. Descubra agora