Capítulo 5

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Depois do almoço tivemos uma tarde de treinamento, como sempre Hilde ensinou-me coisas novas e o meu legado ' Earthquake " que me permite criar vibraçoes no solo já está a evoluir. Depois do treinamento comi umas três maçãs e uma tigela de cereais Treinar dá-me muita fome... pensei e fui me deitar quando ainda nem sequer eram cinco da tarde, mas queria impressionar Hilde amanhã no treinamento e então queria descansar para amanhã estar em forma.Fiquei a pensar em ir a escola durante o treino, fazer amigos de verdade e socializar. Sei que Hilde não vai permitir essa ideia que vai achar muito perigoso mas não custa nada tentar, tinha de tentar para o bem da minha saúde mental. Estar confinada apenas a este quarto, a esta casa e a este quintal estava-me a deixar doida, não quero que Hilde pense que não gosto dela mas estar com a mesma pessoa à mais 6 anos sem fazer contacto com mais ninguém e andar sempre fugida me deixa desanimada. Sei que Hilde vai dizer que a última vez que fui á escola quase fomos descobertas e mortas, e que os humanos fazem muitas perguntas o que nesta altura do campeonato não se pode arriscar. Isso me faz pensar nos outros como serão suas vidas.
Espalhados pelo mundo estão mais oito Guard's com os seus respetivos Cêpan's, Hilde me contou que a maioria é mais nova que eu, mas em oito lugares do mundo diferentes estão os outros, a treinar e a desenvolver os seus Legados. 

Saí da cama, vesti o casaco e fui la para fora. Sentei-me na pedra, mais um pedregulho, enorme com mais ao menos um metro de altura, que nos primeiros dias eu tentava levantar sem grande sucesso, agora consigo levanta-la sem sequer mexer um dedo. Telecnecia , o Legado que todos os Guard's têm, a capacidade de mover objetos com a mente. Começei a cantar, não sei de onde surgiram estas palavras, um idioma que desconheço mas de certa maneira sei que é lórico, uma canção suave mas ao mesmo tempo triste, tenho-a de memória na minha cabeça e sem me aperceber de completo começo a formar lágrimas nos meus olhos, gotas que caiam suavemente no meu rosto e por sua vez vêm parar à minha camisola. Imagens de guerra surgem na minha memória, crianças , mulheres e homens todos com pavor nos olhos. Um mogadoriano mata uma menina que nem idade tem para falar, a mãe dela grita e tenta atingir um mogadoriano com apenas um murro e sem ela perceber outro mogadoriano mata-a por trás. Vejo a dor nos seus olhos, não propriamente a dor da facada do mogadoriano mas a dor de ter perdido a sua filha, a dor de ter perdido a casa, estavam a ser dizimados, a mulher loura cai de joelhos no chão puxando a sua filha para o seu lado e depois o último suspiro. Duma maneira que não consigo entender sei que a conheço de qualquer lado. Um homem que veste um fato azul e prateado se teletransporta para o sítio onde a mulher está deitada e a beija na testa tristemente, depois corre para o mogadoriano que a matou e mata-o sem mostrar piedade, entretanto olha para o céu com um grande traço de pó azul desenhado, a nave,  a nave onde eu e Hilde estávamos quando partimos de Lorien juntamente com os outros, e sem eu esperar aquela reação ele sorri, um sorriso de alívio mas também de tristeza. Ele pega na mulher loura e na menina e teletransporta-se para o cima de um prédio. Deita a mulher e a menina e ao se voltar para trás um mogadoriano dispara um tiro de uma arma brilhante no seu peito, ele cai violentamente junto da mulher e da pequena criança, ele lutou bravemente mas do que serviu? Estavam condenados.

De repende vem-me a memória do mesmo homem me pegando ao colo, da mulher a dar de comer a pequena menina e percebo no exato momento que era a minha família, o meu pai ,a minha mãe e a minha irmã. O meu choro não é mais calmo e suave mas agora as lágrimas estavam fora do controlo paro de cantar e caio no chão. A minha familia, morta. Hilde nunca me contou da existência de uma irmã, porque?
O meu choro é agora irregular e está a tornar-se difícil de controlar. A porta da cozinha bate violentamente e vejo uma figura a sair de casa, nao consigo perceber quem é com a imensidade de lágrimas que surgem nos meus olhos a cada segundo que passa. A figura me pega ao colo e me leva para dentro em algum momento sei que é Hilde, ela está a falar comigo mas não consigo entender nada do que diz. Ela deita-me calmamente na minha cama e vai buscar um copo de água. Sinto uma enorme dor no peito, nunca tinha visto imagens de Lorien, não tão avassaladoras muito menos da minha família, apenas fragmentos que apareciam apenas em sonhos.
-Um ? Um? Consegues ouvir-me? Um , o que se passa? Um?
Hilde tentou me acalmar e a pouco e pouco parei de chorar. O buraco no meio peito estava cada vez maior, a crescer à medida que o choro diminuia.
-Um? - pergunto Hilde ainda um pouco reciosa e preocupada.
-Em vi, Hilde...eu vi...Lorien...a minha família morta...- disse eu ainda em meio de soluços.
-Lamento muito que te lembres de tal destruição.
-Eu vi...o meu pai e...a minha mãe com uma menina nos braços...ela tinha uma bebe nos braços...?
-Eu posso explicar Um...
-Eu tinha uma irmã este tempo todo e tu não me contas-te nada !- disse mais a como um grito.
-Não queria aumentar a tua dor Um!  Muita gente morreu naquele dia!
-Tinhas o direito de me contar! Não podias ter escondido uma coisa destas!- desanimei - Era a minha irmã...-  disse em um sussurro.
-Desculpa...
-Prometes-te que não escondia-mos coisas uma à outra!
Hilde suspirou. Olhei para ela de forma suplicante.
-O nome dela era Maya.

Eu Sou A Número UmOnde histórias criam vida. Descubra agora