"Glória, que horas eu posso passar na sua casa para sairmos e conversar? Já te liguei várias vezes e não da certo. Quando você ver essa mensagem me liga."
Saia do banho quando recebi a mensagem. De inicio não tinha visto quem havia mandado, achava que fosse Gabriel me convidando pra sair, não imaginava que fosse Nicolas, ele nunca tinha me convidado para sair antes. Liguei para ele logo em seguida.
"Oi Nicolas, aceito sair sim, passa aqui em casa as 16:40, é o tempo que termino de fazer algumas coisas aqui em casa. Quando você chegar me liga que eu saio. Beijos."
Deixei o recado na secretária eletrônica. Aprontei-me, fui fazer o que havia pra fazer, avisei que sairia a minha mãe, quando o telefone toca, ele já estava me esperando lá em baixo em seu carro. Não sabia onde ele me levaria e nem que assunto conversaríamos, estava ansiosa com tudo, nunca havíamos saídos antes e nem eu tinha convidado. Qualquer lugar que ele me levasse eu iria, o que ele quisesse fazer eu faria, ali só estava nós dois, sem Gabriel, só nós dois. No momento amizade para mim não era nada, se algo acontecesse entre a gente ninguém iria saber, eu não ia contar e nem ele era louco pra contar também, estava tudo perfeito, o que eu mais queria estava para acontecer.
Seu carro parou em um quiosque na praia, não tão muito distante da cidade, reconheci o lugar, já havia ido com Gabriel, logo todas as possibilidades de acontecer algo entre nós veio a cair por terra, não era nada do que eu pensava que fosse acontecer, mais o que ele queria me falar de tão importante, o por que de tão longe da cidade ele me levaria pra me falar. Logo liguei os pontos, era sobre sua vida que conversaríamos.
Ele parecia meio inseguro com as palavras, fala tudo em rodeios, nunca chegava ao ponto, e eu já estava disempaciente com aquilo.
- O que você quer me dizer de fato? – Perguntei olhando bem em seus olhos.
- Quando disse que ninguém me entenderia, é por que ninguém vai me entender.
Seja lá o que ele fosse me dizer eu o ouviria, pois o que eu mais queria saber saberia.
- Não precisa se preocupar com nada, estou aqui pra te ajudar e te ouvir.
Meu teatro entraria em cena de novo, agora sim, tudo conspirava a meu favor.
- Bem Glória, minha história não é tão legal comparada a das outras pessoas. Tenho um passado meio triste por um lado. Minha família é meio conturbada, meu pai teve outro casamento, ele vivia com sua primeira família 14 anos, teve dois filhos dos quais nunca os vi. Ele evitava que tivesse contato com eles, sou filho único dele com a segunda mulher que é minha mãe. Meu pai já tinha essa primeira família quando eu nasci, foi depois de 3 anos com minha mãe que ele resolveu se parar da primeira esposa. Soube que tinha esses filhos, nunca fui atrás de meus irmãos por parte pai. Vou fazer 22 anos, eu acho que meus irmãos te quase minha mesma idade, tem um de 18 e outro de 20 pelas minhas contas.
- Mais você nunca teve curiosidade de saber quem são eles, como são? – Perguntei extasiada.
- Pra te falar a verdade eu tenho sim, queria abraça-los e ajuda-los caso fosse preciso. Só eu sei como dói ser único filho, não ter com quem conversar, jogar bola nos fins de semana. É por isso que sou tão mimado assim. – Ele sorrio. Já se sentindo aliviado do peso que trazia.
- Entendo Nicolas, eu posso imaginar o que você passa todos os dias e o que você passou na sua infância.
- É! Foi muito difícil pra mim, repetia de ano, tinha brigas constantes em casa. Fui muito bagunceiro na escola, aprontava, caçava confusão com todos, foi por isso que me tornei tão popular na escola. Fui expulso da minha antiga escola por ter brigado feio com um "pivetinho", eu era terrível.
- Até que por essa parte era divertido.
- Por essa parte sim.
Tinha conhecido o verdadeiro Nicolas, agora o entendia e soube mais do que devia. Tudo aquilo me deixou mais conformada, tinha conseguido o que mais queria saber do garoto mais popular da escola toda, só eu sabia de tudo, o por que ele era assim, o porque do seu jeitão marrento. Tudo era apenas por se sentir sozinho, sem ninguém do seu lado enquanto criança, da falta de um irmão.
