Vinte e um - O começo

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"Não me lembro mais qual foi nosso começo.

Sei que não começamos pelo começo. Já era amor antes de ser." Clarice Lispector


- Você é Daniel?

Daniel estava indo para casa quando resolveu parar no parquinho. Seu pai tinha acabado de sair de casa. Não estava conseguindo entender nada do que sua mãe estava falando. Seu pai tinha ido trabalhar na cidade grande fazia alguns meses, mas ele sempre voltava ou então dava algum telefonema.

Dessa vez ele foi embora e não deu nenhum telefonema. Só ficou escutando sua mãe dizer que ele tinha se engraçado com alguma mulher e que tinha abandonado todos eles. Rudy e Dean estavam dormindo. Eles não sabiam do que estava acontecendo. O senhor Hepburg estava tenso das vezes que voltava pra casa, ou então quando dava algum telefonema. Como ele iria conseguir fazer o seu pai feliz? Era isso que Daniel estava pensando nos últimos tempos. Agora seu único pensamento era: Como eu vou lidar com Rudy, Dean, e minha mãe?

- Desculpe se eu estou sendo grosseira – disse a menina, Daniel já a vira em algum lugar, no co-légio?

- Não, você não está. Sou Daniel sim.

- Meu nome é Maria Gonzalez – ela disse sentando-se no balanço ao lado de Daniel.

A primeira coisa que ele percebeu foram a profundidade de seus traços, eles eram firmes e pa-reciam saber o que queriam. Daniel ficou mais algum tempo olhando para aquela menina.

- Desculpe-me, Maria – disse dando uma leve pausa entre a desculpa e o nome da garota -, mas a gente se conhece?

- Ah! Agora sim eu estou sendo grosseira. A gente estuda no mesmo colégio – ela sorriu. – Não estamos na mesma sala, mas somos do mesmo ano. Sempre te vi por ali. Sempre feliz, foi isso que me chamou a atenção em você, mas de uns tempos pra cá, você tem estado tão atordoado. Quando eu estava voltando pra casa, eu te vi aqui e pensei: Por que não?

Daniel, mesmo ao entardecer pode a ver corando.

As crianças estavam começando a voltar para suas casas. Os pais chegavam do trabalho e as

levavam embora. O parquinho era no centro da cidade. Se alguém fosse para algum lugar tinha que passar por ali.

- Ah!

Foi só o que Daniel tinha pra falar.

- Sabe... Eu sei escutar muito bem. E também sei ficar calada. Não quero ser um incômodo pra

você.

- Tá certo, então.

O tempo foi passando e nenhum dos dois falou nada. Daniel ainda tentava descobrir o que fa-zer com os seus irmãos. Sua mãe deveria estar preocupada com ele. E agora ainda tinha uma menina querendo ser sua psiquiatra. O que foi que ela tinha visto nele? Ele parecia assim tão desesperado?

Daniel levantou-se, seguido por Maria.

Ela realmente iria fazer de tudo para ficar ao lado dele.

- Deixa eu te levar em casa – disse Daniel.

- Não precisa se preocupar...

- É pra que lado?

Maria apontou para a esquerda e os dois começaram a andar. Maria sorriu e segurou o braço de Daniel com força.

- Você é meio maluquinha, não? – Daniel disse rindo.

- Só queria ver você sorrindo...

- Pois conseguiu.

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