Vinte e três - Explicações

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"Sonharás com os filhos desta união até antes de tê-los, e quando estes vierem, saberás tu o que é a mais completa realização do amor entre um homem e uma mulher."

Augusto Branco

Os pensamentos estavam vagando na cabeça de Daniel. Perguntas iniciadas com vários "Se". A sua vida estava diferente agora, ele era um garoto novo, estava quase se tornando um homem.

Um homem.

Ele estaria apto a tomar as suas decisões sem ser interrompido por sua mãe, sem ser contestado. Ele teria esse direito. Os "Se" ainda rondavam a sua cabeça... Se o pai dele não os tivesse abandonado? Se ele nunca tivesse chegado quando Maria estava pronta para atacar o seu irmãozinho? Se ele ainda estivesse com Maria, como ele seria? Se ela nunca tivesse mudado. Só parara para pensar agora. A Maria que conhecera era muito diferente da Maria que um dia tentara matar seu irmão...

Maria. Como ela estaria agora? Será que ela ainda mantinha os cabelos negros como os seus olhos?

Daniel desde que tinha terminado o namoro, fazia de tudo para que eles não se cruzassem, evitando lugares em que ele sabia que ela frequentava. No colégio a coisa ficava mais complicada, mas ele, do mesmo jeito, com muita prática acabou virando expert em não esbarrar com Maria em plenos corredores lotados de alunos paranóicos com as notas ou aqueles que estavm ali porque eram obrigados, ou porque fizeram um acordo com os pais de que iriam estar lá para poderem sair mais tarde.

As luzes da casa de Maria estavam acesas, mas ele tinha quase certeza de que os pais dela não se encontravam lá. Ainda se lembrava bem dos compromissos que os Gonzalez tinham. Agora provavelmente eles estariam na igreja, eles eram muito religiosos.

Um arrepio passou pelo corpo de Daniel, indo alojar-se em sua nuca. Maria estava sozinha. Como será que ela iria reagir aquilo.

Deu duas batidas na porta e escutou a voz dela gritando para que ele esperasse. Escutou também um barulho de algo caindo e um palavrão sufocado. Ele sorriu com a visão daquela cena. Depois parou, ele não estava lá para reviver os bons momentos. Não era também para ele pensar nela como uma assassina, o seu irmão estava muito vivo em casa. Como ele deveria ficar? Não existia um manual para como voltar a falar com a ex- que tentou matar seu irmão.

A porta começou a ser aberta.

Daniel estava sentindo muitas coisas ao mesmo tempo. A profundidade dos olhos de Maria acabou contaminando tudo o que ele estava pensando. Quantas vezes ele tinha ficado só olhando para ela? Quantas vezes ele não se perdera em seus beijos?

Muitas vezes imaginou como seria o seu reencontro com Maria. Agora ele não teria tempo para colocar as palavras certas em sua boca. A primeira coisa que notou nos olhos dela foi o espanto. Um pouco de incredulidade, talvez. Daniel estava um pouco incomodado por estar ali, daquele jeito, depois de tanto tempo. Ela usava uma de suas típicas calças jeans justas, mesmo estando em casa era assim que ela se sentia a vontade, com uma blusa regata branca. Olhou para seus pés, e eles estavam descalços. Típico dela. Pensou. O olhar de Maria começou a dar lugar ao seu antigo rosto, Daniel já sabia o que iria acontecer a seguir.

- Daniel, - disse Maria lhe dando um abraço apertado, ela estava com um sorriso de orelha a orelha- meu Deus, quanto tempo que eu não te vejo, você não sabe como eu senti saudade de te dar um abraço, ou até de conversar com você.

Daniel não era muito bom em falsidade, então deu um sorriso verdadeiramente amarelo para ela. Tentou se desgrudar do abraço que estava recebendo. Em vão. Não porque ela seria mais forte do que ele, mas por que ele estava sentindo uma necessidade de ficar abraçado com ela. Daniel estava achando estranho essa saudade e essa vontade que ele queria de ficar perto dela. Mais uma vez ele se lembrou do motivo que estava levando-o a ficar naquela situação tão embaraçosa.

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