Quatro - Coragem

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"O segredo da felicidade é liberdade e o segredo da liberdade, coragem." - Thucydides

Jenny estava parada do lado de fora admirando suas rosas, que já davam sinal de sua beleza. Elas tinham pequenas gotas d'água em suas folhas e nas pequeninas pétalas, por conta da chuva que acabara de cair.

O cheiro de terra molhada era o melhor. Quando se mora em apartamento, nas chamadas selva de pedra, é muito raro sentir esse cheiro. É a paz que é escutar as cigarras cantando, que faz com que o cenário fique espetacular. Tudo vira uma serenata ao luar.

Não sabia por que teria chorado no lago aquela tarde. Achou que fora por conta da beleza do lugar. Jenny se achava como uma pessoa muito boa. Chorava quando achava alguma coisa bonita. E chorava quando alguém aparecia machucado na sua frente, os seus rostos a deixava transtornada. Estava tentando prender o choro agora. Não queria ficar chorando todas as vezes que via uma coisa bonita. No lago tinha até cavalos correndo pela margem. Ficou surpresa por Daniel não ter perguntado nada. Achou até muito solidário da parte dele de abraçá-la, mesmo não sabendo o motivo.

A senhora Waltson estava na cozinha fazendo um chá-calmante de camomila, o seu preferido.

- Relaxando? – Perguntou Jenny quando finalmente entrou.

- Muito. Você não tem ideia do que essa pequena xícara de chá faz com a pessoa. – Bebeu um pouco, depois perguntou se Jenny queria. Jenny disse que não. Ela já sabia a resposta – Que bom, sobra mais pra mim. Sorriu. E então, como vão as coisas com Daniel?

- Bem, eu acho. Não sei quando eu irei vê-lo de novo – Não sabia onde a sua mãe queria chegar com aquilo e apressou-se de encerrar a conversa, fazendo um bocejo bem grande. – Nossa como estou cansada... Noite, mãe. Deu um beijo na mãe e foi dormir. O que é que eu vou fazer amanhã?

Os pássaros anunciaram um novo dia com o seu canto. E com isso uma resposta para Jenny. Nada. O tédio chegou como uma tapa na cara, derrubando-a no chão.

Só conhecia uma pessoa na cidade e não era nada corajosa em chegar na porta da casa dele e perguntar se queria fazer alguma coisa. Não tinha motivos para isso. Decidiu ir com a mãe para a floricultura. Iria ficar lá e vê-la trabalhar. Quem sabe poderia ajudar a mãe em algo.

Já passava das três e ela não aguentava mais o calor que a lojinha fazia. Mesmo com o ar, as coisas não estavam dando muito certo para Jenny. Saiu para tomar um ar. O sol estava baixando, trazendo consigo luzes alaranjadas para o céu. Tentou olhar para o sol, mas ele ainda dava para queimar seus olhos.

- O que a menina da cidade grande faz aqui sozinha?

Jenny levou a mão ao coração e uma na boca, com medo que ele saísse por ela. Era Daniel.

- Que susto você me deu. Sorriu. Estava na lojinha da minha mãe, mas lá faz muito calor. Resolvi sair e pegar um ar. Antes de você me dar um susto – Disse Jenny fuzilando-o com os olhos- eu tentava ver o sol.

-Ver o sol? – Que pessoa em sã consciência olharia para o sol? Mas, não falou isso a ela. – Por quê?

- Não sei – Respondeu Jenny – É legal. Você consegue ver aquela bola de fogo. – Jenny parou e fez uma cara de como tivesse falado besteira. O que diabos estava acontecendo com ela. Cala a boca.

- Bem, nunca tentei. Mas e aí? Quer andar por aí? – Daniel tinha acabado de sair da casa de uns de seus amigos. Ele queria só ver o dia em que ele iria apresentar eles para Jenny. E já sabia quem é que iria marcar território. Jenny não era sua propriedade. Não quer dizer que só por que ele a viu primeiro que ela tem que seguir ele para onde ele fosse. Ela tinha que ter alguma amiga para compartilhar as coisas.

Daniel gostava muito dos seus amigos trigêmeos, eles eram os únicos na cidade. São dois meninos e uma menina. A menina, Lisa, ela sempre ficou meio de fora. Mas, como não se sabe por que ela nunca se deu bem com as meninas da cidade. Algumas pessoas dizem que é por conta dos seus irmãos. As meninas acham que eles devem ser algum tipo de tarados que fazem da irmã uma espiã. Como se ela fosse se submeter a alguma coisa que os irmãos lhe pedissem.

Ela praticamente renega-os.

Daniel só conheceu esses irmãos por conta de Lisa. Ela foi quem foi falar com ele no primeiro dia de aula. Na verdade ela pediu pra ele parar de fazer barulho na aula. Ele a irritava. Isso é bom pra qualquer menino.

Eles andaram pela cidade por um bom tempo e cansados pararam no banquinho da praça.

- Acho que a gente só faz andar o tempo todo. Vamos ficar em forma assim – Disse Jenny. E achou que pelo menos ele não iria precisar ficar em forma. Ele já era totalmente em forma. Só percebera agora, que ele não era magro. Era forte. Poderia ser por conta do trabalho.

- Vamos? Acho que eu já estou em forma.

Jenny deu um soco no ombro de Daniel. Sua mão doeu. Ficou sendo caçoada a noite toda, por não conseguir socar uma pessoa direito. Acabou tendo aulas. Daniel falou de como o seu punho deve ficar para não quebrar.

- Isso é uma coisa boa. Por que quando eu estiver entediada eu posso sair por aí batendo nas pessoas. O que você acha? – Jenny estava maravilhada com a ideia de sair dando murros nas pessoas.

- Ótimo. – Respondeu Daniel – E quando a pessoa perguntar, só diga quem foi que lhe ensinou. – E deu uma piscadela.

O dia passou rápido. A única coisa que precisou fazer foi ganhar um pouco de coragem e bater a porta de Daniel. Ela sabia que seria uma bobagem ficar em casa todos os dias sem saber o que iria fazer. A senhora Waltson foi quem deu o primeiro passo.

Não aguentava mais ir trabalhar deixando Jenny em frente da televisão para quando voltar encontrá-la no mesmo lugar. Tinha que manter a mente da filha ocupada. Não lhe agradava nada que ela ficasse tão isolada. Arranjou um plano. Já era a segunda semana que as duas estavam naquela cidade. Clair sabia que as férias eram praticamente uma coisa sagrada para Jenny. E ela saiu perguntando algumas coisas a respeito do menino que Jenny tinha se encontrado. Parecia que até agora todo mundo do centro conhecia o menino.

Falavam sempre que ele era muito prestativo. E que era praticamente o pai de seus irmãos. Pelo menos alguma coisa de competente o menino tinha. Ela agora se sentia vermelha de vergonha por tê-lo tratado mal. Sabia onde o menino morava. E sabia que Jenny sabia onde ele morava. Então iria falar para ela sair de casa pela tarde enquanto ela estivesse trabalhando. Ou ela iria ficar com a mãe ou poderia sair com esse menino. Depois daquele último dia em que Jenny estava em sua loja, Clair andou vendo Daniel pelo centro estava sempre ajudando alguém. Teve até a coragem de falar com ele.

Até que ele era boa gente.

Era esse tipo de gente que Jenny deveria se relacionar na cidade, então, por que não?

Dito e feito. Jenny não ficava mais em casa. Nesse mesmo dia Jenny estava andando para o finalzinho da rua com o coração na boca. Sabia que isso era muito enxerimento da sua parte, mas tinha que tentar, não queria ficar sozinha. Como é que em uma cidade pequena eu só conheça duas pessoas? Minha mãe e Daniel? Depois vinha a voz da razão, você só está nessa cidade há duas semanas. Se quiser ficar conhecida rápido, coloque uma melancia na cabeça e saia andando pela cidade. Jenny fez cara de repulsa com esse pensamento. Chegando lá, bater a porta não foi assim uma coisa tão horrível como Jenny achava que seria.

A mãe de Daniel foi quem abrira a porta. Ficou sem jeito, Daniel ainda não tinha lhe dito sobre o nome da mãe. Na verdade ele ainda não tinha falado nada sobre ela. Mas, parecia que a mulher não vinha tendo bons sonhos há muito tempo. Perguntou por Daniel e foi convidada a entrar. Viu dois meninos magrinhos dormindo em cima do sofá. Não pode segurar o riso, eles estavam dormindo um em cima do outro, como se tivessem apagado depois de muita briga. Ficou na poltrona velando-os até que Daniel apareceu.



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