Sete - Desabafos para o menino Buzz

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O passado não reconhece o seu lugar: esta sempre presente." - Mário Quintana

Daniel foi falar com Dean para esclarecer as coisas, falar que naquela época ele era uma pessoa diferente. Que naquela época ele não estava nem aí se ele iria magoar os sentimentos dos outros ou não. Só o que lhe importava na época eram as farras.

E Maria.

- Dean? – Disse Daniel entrando no quarto de Dean e Rudy.

O quarto era típico de meninos que achavam que não deveriam arrumar o quarto. Os brinquedos estavam espalhados pelo chão, parecia que eles estavam lá fazia meses. Daniel sabia que se ele olhasse pra debaixo da cama ele iria ver algum brinquedo morto em combate.

Havia duas camas de solteiro no quarto com lençóis de carros da hot wheels. Dean estava se perguntando por que eles tinham um baú no quarto, já que ele era para guardar os brinquedos e nenhum deles estava lá.

O baú estava vazio.

O quarto estava escuro, Daniel demorou muito tempo para ir falar com Dean, ele achava que ele já deveria estar dormindo, mas ele resolveu tentar. Dean estava enrolado em seu lençol agarrado com uma miniatura de Buzz Lightyear. Como não obteve resposta ele sentou-se ao lado do irmão e começou a falar. Sabia que ele poderia estar ouvindo ou não, mas do mesmo jeito ele achava que iria ser legal se ele desabafasse.

- Sabe, Dean, desde que o nosso pai nos deixou que eu tento tomar conta de nós três. E eu não falo esses três incluindo-me no meio. Eu falo de você, Rudy e nossa mãe. Eu sei que você me culpa por eu ter me afastado de vocês. Você pode até não falar, mas eu sinto isso. Tanto é que isso ficou confirmado hoje.

"Eu também queria ter desaparecido quando o nosso pai foi embora, mas eu não fui forte o bastante para esquecer, para seguir em frente. Eu fui fraco, peguei a opção mais fácil. Queria que as pessoas me vissem e ficassem achando que eu era melhor do que ele. Que eu poderia fazer coisas que ele não poderia fazer."

"Por outro lado, Dean, você foi forte. Você não se deixou levar, nem por mim, nem pelo papai, nem pela mãe. E o Rudy – Daniel parou um pouco olhou para o rosto de Dean, tão calmo e riu, - eu não sei bem como ele lidou com isso, acho que ele é muito novo. Ele parece o mesmo que ele sempre foi, tirando os pesadelos que ele tinha quase sempre, mas isso não mudou o fato dele continuar nos dando trabalho mastigando seus brinquedos. - Daniel viu um pequeno riso se formar no rosto de Dean, agora ele sabia que ele não estava falando em vão."

"A minha saída mais rápida foi Maria. Eu sei que vocês gostavam dela, mas eu sei também que ela não mostrava a verdadeira face dela para vocês. Eu sei por que eu convivia com a outra Maria todos os dias. Mas saiba que eu nunca deixei de cuidar de todos vocês. Estou tentando me redimir. Voltei a mim por conta de vocês. Eu escutava você chorando e os pesadelos de Rudy. Eu não queria escolher o caminho mais fácil se eu fizesse com que vocês algum dia escolherem o mesmo caminho que eu escolhi."

Daniel sabia que ele não tinha mais nada a falar, mas do mesmo jeito ele não queria sair do quarto. Ele se lembrou de Rudy dormindo em sua cama.

E da sua mãe que cada dia que passava ficava mais obesa. Ela saia todos os dias para trabalhar no restaurante local. A comida era de graça para os funcionários, contanto que eles soubessem à hora de parar. Pelo visto a sua mãe não sabia quando era à hora de parar e pelo visto ninguém notara isso.

A mãe de Daniel antigamente era uma mulher com vida, vaidosa, que esbanjava graciosidade. Como Daniel adorava ficar ao lado da mãe. Como ele gostava quando ela começava a cantar, mesmo que desafinada, mas ela estava lá feliz. Ele sentia raiva do seu pai às vezes por ter feito isso com ela.

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