Trinta e Um - Lyla

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"Conheces o nome que te deram, não conheces o nome que tens."

José Saramago

Não iria abrir a loja até que tivesse a sua menina de volta. Não queria se preocupar, sabia que Daniel iria encontrá-la. Não estava em condições de sair. Tinha que se manter calma para quando ela chegasse.

Ainda estava na casa dos Hepburgs, seu marido havia voltado para casa. Alguém tinha que cuidar de Spook. Logo ele estaria de volta.

- Senhora Waltson, sei que você está muito agitada, por favor, sente-se. Mas eu gostaria de entender o que se passa. Principalmente por que a senhora enviou o meu filho para essa loucura...

A boca da senhora Walton se transformou em um formato de O.

- Me desculpe, sei que é um incômodo, sim, sim, eu irei lhe contar tudo. Jenny tem transtorno dissociativo de identidade. Ou como preferir, dupla personalidade, múltipla personalidade. Os nomes variam.

O termo popularmente conhecido como dupla personalidade é uma condição mental, onde o indivíduo pode apresentar duas ou mais personalidades distintas. Dependendo do nível de estresse ou então alguma situação em que o alter não consiga lidar totalmente, como dolorosa, angustiante ou até situações de medo, faz com que a sua outra personalidade surja, para que ele possa passar pela situação sem danos. Pessoas com esse distúrbio tem uma regulagem emocional muito grande. Muitas delas não sabem que sofrem disso, pois elas não se lembram de nada, o chamado tempo perdido ou uma amnésia associativa aguda. A causa pode ser por abuso, estresse intenso, sérias doenças. Não tem uma causa exata. Pode começar na infância onde o indivíduo ainda está formando a personalidade. Os sintomas podem ir de transtorno de ansiedade, personalidade, humor à esquizofrenia. Podem também incluir depressão, fobias, cefaleias, preocupações, tentativas suicidas entre outras coisas. A ajuda de um psicólogo e um psiquiatra é indispensável para o tratamento.

- Vocês sabem como isso aconteceu? Quantas personalidades? – Judith parecia chocada.

- Nós não sabemos como isso aconteceu, o fato mais distante que me lembro foi na aula de natação quando ela tinha cinco anos. Ela era tão doentinha quando era mais nova, vivia nos médicos e nós também não sabíamos o porquê, com o passar dos anos ela foi melhorando e resolvemos deixar pra lá. Esse tempo todinho ela só desenvolveu uma, mas ela é extremamente agressiva. Algo como não querer perder o que é dela. Competitiva. A minha Jenny, a minha garotinha, sempre acorda depois do que acontece. Quando acorda ela fica horrorizada com as coisas que vê. As pessoas ficam com medo dela. Ela sofre, mas não sabe o que acontece. Achamos melhor não contar nada. Ela nunca se lembra. Na maioria das vezes ela tem pesadelos. Achamos que uma vida mais calma e longe de tudo aquilo pudesse fazer com que ela melhorasse. Eu realmente achava que ela iria melhorar.

- Não chore, não chore. Daniel está indo atrás dela. Ele vai achá-la. Agora por que vocês nunca fizeram tratamento?

- Eu não queria. Foi puro egoísmo meu. Não queria que ela achasse que era louca. Nem ela e nem os outros. Jenny é uma pessoa tão alegre, tão sentimental, educada. Queria que continuasse assim.

- Qual o nome da outra, vocês sabem? Já ouvi dizer que a personalidade da outra pessoa é tão diferente que até nome ela tem.

- Sim, isso é verdade. Nome, modo de falar, expressão, modo de agir, tudo faz parecer que de fato é outra pessoa. O seu nome é Lyla e é extremamente agressiva, compulsiva, dissimulada, quando estamos por perto conseguimos pará-la e a Jenny volta. Lyla sempre aparece quando tem algo que a Jenny receia muito perder. Jenny nunca foi muito confiável para conseguir o que deseja e quando consegue tem muito medo de perder. Ela estava com medo de perder Daniel, sabia? Eu espero que quando ele a encontre que ele encontre Jenny e não Lyla.

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