7 - Que irritante...

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Cheguei a casa e já estavam a minha espera para jantar, por isso fomos para a mesa e durante a refeição cada um contou o seu dia, o Vítor pouco contava, estava a desenhar a nova coleção mas insistia que o segredo era a alma do negócio. A Cristina coitada não sei como ainda não tinha caído para o lado; os seus dias eram a tentar satisfazer clientes com pedidos mirabolantes tal como o de hoje em que alguém queria uma fonte e esculturas em tamanho real em gelatina para o aniversário, falava com floristas, catering, palhaços... Não lhe gabo a sorte e mesmo após um dia de loucos sorria sempre.

É sábado e o dia está fantástico; a Cristina preparou um dia de mulheres, entrámos numa SPA às dez da manhã: primeiro massagem e pedras quentes, depois sauna, interrompemos para uma salada e voltamos à carga com cabeleireiro, manicura, pedicura e por fim umas compras. Estava no céu, quantas mulheres não gostariam de ter um dia assim? Certamente que será uma experiência a repetir.

Domingo fomos até Lincoln Square, Acreditem é lindo, almoçámos num restaurante muito acolhedor e fomos ver mais uma parte do central park que ainda não tinha visitado. À noite sozinha no quarto, já de banho tomado e pijama vestido; estava relaxada fisicamente com o tratamento de sábado mas a minha mente não parava.

E se falhar? E se dececionar os meus tios?

Oiço o despertador, são 6:00 horas! Hoje decido levar o cabelo solto, camisa azul sem costas, calças de fato pretas e sapatos pretos, maquilhagem, isso nunca falha e uma mala em tons cinza. Depois do pequeno-almoço segui viagem com o Vítor, quando entrei naquele andar sozinha os nervos atacaram, mas logo tratei de pensar em trabalho e começo a preparar a agenda até ao momento em que oiço o elevador. Não precisava de olhar para saber quem seria, no entanto a dirijo-lhe o meu olhar.

- Bom dia Senhor!

- Em 5 minutos na minha sala e traga a agenda!

Adoro o bom dia do meu chefe! Apetece-me perguntar porquê tanto mau humor logo de manhã. Bem, pego na agenda e vou até ao seu gabinete, depois de analisarmos e ajustarmos alguns detalhes da agenda levanto-me para sair.

- Sofia hoje não vou almoçar fora, procure o contacto do restaurante em frente e peça para entregarem às treze horas: salada da casa para duas pessoas, o vinho que costumo pedir a acompanhar o salmão e escolha você as sobremesas, hoje, almoça comigo temos um assunto a tratar!

- Claro! Mais alguma coisa?

- Não, pode sair! - Ele manda em tudo.

Saí a bufar, quem pensa ele que é agora até na hora de almoço tenho de trabalhar e ele é que escolhe a minha refeição! Eu juro que assim não vai dar, é que isto do almoço não foi um convite mas sim uma ordem.

A manhã passou entre chamadas, emails, faxes...entretanto a rececionista avisa que o estafeta trouxe o almoço, o tempo passa a correr quando estamos ocupados. Pedi para a pessoa subir e avisei o Resmungão que o almoço tinha chegado. A mesa foi colocada, claro que a Jéssica tinha tudo organizado e por isso existia no aparador da sala de reunião um espaço reservado a um serviço de jantar com copos de cristal e talheres de design moderno e também guardanapos, individuais, alguns temperos. Enfim tudo o necessário para uma mesa requintada. Estava a confirmar se nada faltava quando ele abriu a porta...

- Espero que goste da salada; é de salmão marinado com alface e frutos.

- Certamente que me vai agradar, tem um especto divinal! - Realmente tinha ótimo especto.

- Bem pedi para ficar na hora de almoço porque preciso da sua ajuda; normalmente é a Jéssica que me ajuda com esse tipo de coisas. - Ele senta-se e eu faço o mesmo - o que acontece é que a minha mãe faz anos e este ano gostava a surpreender mas não sei como.

- Fale-me do que ela gosta!

- Adora flores, música clássica e almoços com as amigas.

- Uhm... Uma pequena estufa! assim ela poderia ter um espaço para tratar das suas plantas. Um sítio só dela, não precisa de ser grande, o que acha?- Pelo seu olhar, sei que gostou da ideia.

- Sim ela adoraria. Mas gostava que fosse surpresa.

- E será, só tenho que saber onde é a morada e vou fazer com que uma equipa trate de tudo enquanto festejam na quinta da sua família - agora assume uma expressão de espanto - e antes que me pergunte como eu sei disso, é fácil vivo na casa da organizadora do evento - Nesse momento quase vejo um quase sorriso.

- Ok, vou informar a empregada que nesse dia irá ser você a tratar do assunto, faça o que for necessário para ser algo especial. Vou confiar em si. - Meu deus quanta responsabilidade.

Continuámos a refeição com temas banais, eu falei das minhas origens e de toda a minha família, eu falei quase todo o tempo e ele apenas ouvia atento, contínuo sem saber nada dele. Quando terminámos levantámo-nos e quando começava a levantar a mesa fui repreendida...

- Sofia contratei-a para minha secretária não para ser a empregada de limpeza. Há quem trate disso e não é você!

- Ok senhor - Revirei os olhos era um ato involuntário que fazia bastantes vezes, mas ao que parece de alguma forma não é bem recebido. Vejo os olhos do Matthew mudar de cor num ápice, como sempre não consigo decifrar a expressão que assume.

- Não torne a revirar os olhos Sofia - Saiu da sala.

Bolas aquele olhar, foi só ele sair do meu campo de visão para eu fazer outra vez o mesmo, mais uma vez ele demonstra como é Autoritário. A minha vontade é perguntar " e respirar, posso?". Assim que saí da sala contactei a Cristina e expliquei as minhas ideias, ela foi uma querida e enviou-me um email com todos os contactos e informações que iria necessitar. Passei a tarde a ligar para jardineiros, floristas, decoradores... Mas consegui fazer pouco pois não podia deixar o meu trabalho para trás. E assim a tarde passou a correr, quando o telefone tocou e o Vítor disse que já estava na receção é que dei pelas horas, entretanto o meu chefe também se dirige ao elevador. Entrámos juntos...

- Senhor já está tudo a ser tratado para a surpresa da sua mãe, vou bem cedo para a casa dos seus pais, quero que quando regressarem à noite tudo esteja pronto.

- Foi rápida espero que não falhe nada, estou a apostar em si.

Sem dar por isso reviro os olhos pois este homem nunca tem uma ponta de simpatia e lá está novamente a mesma reação. Os seus olhos mudam de cor para um verde muito escuro e a sua expressão ainda é indecifrável, de repente o elevador torna-se minúsculo, o seu perfume entra pelas minhas narinas e faz com que a minha respiração fique descontrolada e PLIM; as portas do elevador abrem e só agora percebo que preciso de ar.

Salva pelo elevador que chegou ao andar zero, as portas abriram e percorri o caminho para o carro o mais rápido possível. Jantei, tomei um banho e quando me deitei não conseguia parar de pensar no que se tinha passado. Que raio foi aquilo?

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