12 - O meu passado

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Segunda-feira e tudo volta ao normal, chego cedo, ligo computador e oiço o elevador...

- Bom dia Sofia quero-a na minha sala em 5 minutos - Cá esta o habitual Sr. Resmungão mas hoje tive direito a um cumprimento.

- Bom dia Sr.! - Fiz o meu melhor sorriso, mas saiu em tom de gozo.

- Atenção senhorita não se estique! - Diz enquanto caminha para o escritório.

Ele tem razão, pego nas minhas coisas e entro no escritório como sempre a agenda está lotada, no final da reunião matinal dirijo-me à porta, coloco a mão na maçaneta mas sou impedida, sinto o seu corpo colado ao meu, mesmo de costas poderia sentir o seu olhar cravado em mim, tinha as mãos na porta, cada um dos seus braços tocavam os meus ombros. Senti os seus lábios colarem a pele do meu pescoço, a sua mão direita está agora na minha anca direita. Aproxima-se do meu ouvido...

- Sofia o que aconteceu ontem, senti que também desejavas aquele beijo. O que se passa?

- Estás enganado- foi a única coisa que consegui dizer rouca. Estava sem fôlego.

- Eu sei que estou certo!

- Não irias entender! - Não estou preparada.

- Tenta explicar!

- Agora não, por favor preciso ir! – Tinha toda a minha pele arrepiada.

- Logo podemos falar?

-Não sei! - Consegui, não sei como, soltar-me dos seus braços e sair.

Foi difícil trabalhar o resto do dia, aliás passei toda a semana a dar desculpas para não ter de o enfrentar e o pior é que à medida que a semana passava a má disposição dele era cada vez mais insuportável. A sexta chegou e como sempre fiquei mais uma hora para organizar a semana seguinte, ele saiu mais cedo sem dizer nada e este fim-de-semana era o aniversário da Dorothy, tinha muito que fazer amanhã. São 18 horas e dou por terminado o dia, pego no casaco e na mala e desço, quando chego à rua vejo que ele está encostado ao carro á minha espera.

- Não me vais dizer que estás aqui há minha espera desde que saíste do escritório!

- Não me deste escolha! Entra! - Diz enquanto abre a porta do carro.

- Devíamos falar depois do aniversário, eu preciso ir tenho o Victor e a Cristina há minha espera.

- Sofia, entra ou então eu agarro em ti aqui no meio da rua. - Que cavalheiro.

-Não! Isso não! - Entro no carro contra vontade mas queria sair dali antes que alguém nos visse juntos.

Fomos até sua casa e durante a viajem a única voz que se ouve é a do rádio, O tema que está a tocar não ajuda a relaxar o ambiente, a viagem não era grande, mas tornou-se tão longa que me sentia sufocar. Pelo canto do olho pude reparar que Matthew tinha os dentes serrados, dava para ver pela linha do maxilar. Gostaria de dizer algo, de o fazer descontrair mas não consigo falar. Assim que saímos do carro e entrámos em casa ele despiu o casaco de fato e atirou com a gravata para o chão. Vi-o dirigir-se à prateleira de vidro onde estavam dispostas as bebidas; serviu whisky e sentou-se no sofá grande.

- Preciso que me esclareças. Sei que és uma mulher inteligente e entendeste que sinto algo por ti e o que me deixa louco é negares que o sentimento é recíproco. Fala comigo!

- Não sei... - Não parava de andar de um lado para outro.

- Se estou errado diz-me, preciso de saber.

- Não posso negar que sinto algo por ti, não sei bem o que é, a única coisa que tenho a certeza é que gosto de estar contigo; mas não nos podemos envolver.

- Porquê? - A cada frase minha ele parece mais impaciente.

- Se te envolveres comigo só terás problemas!

- Deixa-me ser eu a decidir isso. - Ele ordena - Agora fala!

- Ok tudo bem mas com uma condição! Eu vou falar tudo de uma vez sem ser interrompida – Raiva é o que sinto neste momento por me forçar a falar do que quero esquecer.

- Eu aceito mas importas-te de parar de andar de um lado para outro?

- Não consigo - antes de falar volto a alertar - Mas atenção sem interrupções.

-Ok, prometo!

- Vou começar pela estrutura familiar que nunca tive, o meu pai faz tudo o que a minha mãe quer e ela só pensa em viajar, o meu irmão passa semanas sem dar noticia pois corre o mundo com os amigos de mochila às costas para fazer desportos radicais. Lembro-me de ter inveja das minhas amigas que passavam o natal em família e eu passava o meu aqui e ali. Ainda por cima a minha mãe quase me empurrou para cima do filho da dona da agência de viagens mais por interesse que por qualquer outra razão. Ele era um amor no início mas depois de 2 meses de namoro começou a fazer cenas de ciúmes, chantagens e jogos psicológicos que me fizeram perder quase todos os meus amigos exceto uma. Quanto à cicatriz, foi feita quando descobri que tinha o meu telemóvel sob escuta, cheguei a casa dele e no meio da discussão levei com o peso da mão dele que me fez cair sobre uma cadeira e partir 2 costelas.

- E a tua família?

- Matthew sem perguntas! - Já não conseguia aguentar e as lágrimas começaram a sair sem parar.

- O meu pai nunca percebeu nada e a minha mãe fingiu não ver, só acabou este tormento quando o meu irmão o apanhou enrolado com uma qualquer, deu-lhe um tratamento e o avisou que nunca mais chegasse perto de mim. E se queres mesmo saber nunca mais me envolvi com ninguém, agora entendes? Não quero que carreguem os meus problemas, não sei se sou suficiente para ti nem para ninguém, tenho demasiados fantasmas.

- Eu ah ah... - Ele estava perdido.

- Não digas nada, só preciso que ponhas o código na porta; quero sair! - Sinto-me humilhada e quero ir embora.

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