Deixei a água fria do chuveiro cair sobre meu rosto pálido enquanto eu tomava banho, talvez para me trazer de volta à realidade. Minha cabeça girava a todo instante quando pensava no teatro. As cenas voltavam à minha mente constantemente, mesmo eu querendo me livrar desses pensamentos.
Me sequei depressa e vesti um pijama qualquer, pegando o celular de cima da cômoda do meu quarto e me deitando no sofá da sala de estar. Eu precisava relaxar um pouco. Passei os olhos pela lista de nomes, até parar em "Nate". Mas, pela milésima vez, eu fiquei ouvindo o som da chamada até cair na caixa postal. Bufei e deitei em uma almofada, jogando o celular para o lado. Eu estava começando a me preocupar com ele, já que não o vi desde que a peça começou. Seria de sua natureza me visitar depois do teatro, ou no mínimo me telefonar, mas Nate não deu nenhum sinal de vida.
Mantinha os olhos fixos no tapete da sala, mas algo chamou minha atenção. Me virei para o lado e minha mãe sentou no sofá perto de mim, segurando duas canecas brancas com um líquido escuro e fumegante dentro. Ela sorriu para mim e me entregou o copo.
- Eu já sabia que minha filha era talentosa é claro, afinal, você tem meu sangue, não é. - ela sorriu para mim- Mas eu estou realmente impressionada, Briza. Parabéns.
- Não foi grande coisa, mãe. - murmurei, bebericando um pouco do chocolate quente.
- Não foi grande coisa? Não foi grande coisa? Ah, você não ouviu os aplausos? Foram I-N-S-U-R-D-E-C-E-D-O-R-E-S. E você me diz que não foi grande coisa.
Nós duas rimos e eu baixei os olhos para o chão, mordendo o lábio.
- Ahn... Aconteceu alguma coisa, filha?- perguntou minha mãe, colocando a caneca dela na mesinha de centro.
- É o Nate, mãe. Eu não sei o que aconteceu, mas ele não falou comigo depois do teatro, só no início... Eu estou preocupada de ter acontecido alguma coisa com ele. Alguma coisa séria.
Minha mãe curvou os cantos da boca e franziu a testa, mas antes que ela pudesse dizer algo, o telefone tocou. Ela se levantou para atendê-lo, resmungando como sempre faz.
- Alô? - disse ela, mas depois abriu um largo sorriso - Ah, olá senhora Moore! Como vai?
Senhora Moore era a mãe de Nate, então eu automaticamente já fiquei mais aliviada, já que ela devia ter ligado para informar sobre ele. Não é? Mas o sorriso da minha mãe aos poucos foi desaparecendo. Ela foi franzindo a testa e mordendo os lábios, coisa que fazia só quando estava nervosa de verdade.
Ela colocou a mão na cintura e pegou o controle de cima da mesa, ligando a televisão. Eu sinalizei para que ela me falasse o que estava acontecendo, mas ela gesticulou com os braços me mandando ficar quieta. Minha mãe mudou alguns canais até parar em um noticiário, onde havia uma repórter de terno cinzento e cabelos curtos e avermelhados falando. A noite estava escura e com nuvens carregadas, e atrás da mulher havia um amontoado de pessoas perto de um prédio branco amarelado, onde a escrita prateada escrita "Royal'sCollege" se destacava.
- É-é a escola. - disse, apontando para a tela da televisão e olhando para minha mãe, que já tinha desligado o telefone e que apenas concordou com a cabeça. Meu coração estava acelerado.
Eu queria perguntar pra minha mãe por que ela tinha colocado naquele canal, mas a minha voz não saía. Minha garganta parecia estar fechada. E então, no canto inferior da tela apareceu o quadro azul, onde estava escrito "É achado morto no terraço da escola onde estudava o jovem de dezoito anos, Nathanyel Moore".
A sensação que eu tive naquele momento? Bem, eu garanto que eu não queria continuar vivendo até o próximo minuto. Eu queria acordar. Queria abrir os olhos. Mas a vida ensinou que nem tudo é um sonho, que pesadelos os assombram a todo o instante.
Meu coração parecia não pulsar mais, não parecia funcionar mais. Eu apenas me curvei para frente, apertando o meu peito e espremendo os olhos. Tudo naquele instante parecia ocorrer em câmera lenta. A caneca branca escapou da minha mão e se espatifou no chão, derramando chocolate pelo tapete, e eu só senti as mãos da minha mãe me segurarem.
As lágrimas derramavam-se pelo meu rosto, e a única coisa que eu conseguia fazer era gritar. Gritar de dor, gritar até ficar sem voz, sem lágrimas. Gritar para me aliviar. Minha mãe me envolvia em seus braços, mas nem isso conseguia me confortar. Não eram os braços de Nate. Fiquei envolvida com ela até adormecer.
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Faces Sob Máscaras
Fiksi Penggemar"Você nunca realmente conhece uma pessoa antes de descobrir, da pior maneira, o que sua máscara esconde." Elizabeth Taylor é a famosa "valentona" de Royal's College. Após a separação de seus pais, sua única regra é a de que nunca veriam suas lágrim...