Escutei o gemido de dor e protesto de Dan quando acabei pressionando o pequeno pedaço de pano molhado com um pouco mais de força do que o necessário sobre seu olho.
- Desculpe. – sequer tentei evitar o tom seco que saiu.
Uma das enfermeiras trouxe alguns curativos e deixou na maca onde Dan estava sentado. Agradeci-a rapidamente e coloquei o cabelo atrás da orelha antes de pegar um.
- Olha... – Dan começou, mas eu o interrompi.
- Fique quieto para eu colocar isto.
- Elizabeth, eu não queria...
- Mas fez, Dan. E prometeu que não ia fazê-lo. – olhei-o por um momento de total fúria, um brilho rápido transpassou meus olhos. Ele sustentou meu olhar.
- Foi ele quem partiu pra cima de mim, Elizabeth.
- E você é a vítima da historia, não é mesmo? – dei um riso nervoso, sem perceber que já havia amassado o curativo em meu punho cerrado – Não o provocou, não o ofendeu, apenas se defendeu. Eu te conheço, Dan. Eu disse para não fazer nada! Você o cutucou!
Fez-se silêncio, apenas com minha respiração pesada enchendo o ar. No momento, só havia eu e ele no quarto da enfermaria.
- Eu não consegui evitar... – ele baixou o olhar e suspirou – Você ficou mal por causa dele e eu tinha de fazer algo. Minha intenção não era uma briga.
- Você não precisa me proteger. Eu sei me cuidar muito bem sozinha, Daniel. – mantive o tom duro.
- Mas eu quero te proteger. Gosto de fazer isso.
- E eu também. E é para isso que servem nossas promessas. – juntei as sobrancelhas – Acho que você já deve ter reparado que o Nathanyel não é um cara fofo e tímido. Ele pode ser perigoso, e eu tenho medo do que pode fazer com você.
Ele deu um riso de deboche, porém eu continuei séria.
- É só ver seu estado nesse momento. – dessa vez meu tom foi de desafio.
Ele pareceu dar-se por vencido, porém eu não arriscaria.
- Eu não quero te ver sequer perto do Nate. Entendeu?
Ele pareceu hesitar um pouco; mordeu o lábio inferior.
- Dan.
- Sim... Sim. Tudo bem. – ele passou o polegar de leve sobre meu rosto – Eu não vou.
Não senti muita firmeza em sua voz, porém já era hora do almoço e logo eu tinha aula de química. Pedi a uma das enfermeiras que ficasse com ele e beijei-o de leve antes de sair.
Quando cheguei ao refeitório, entrei logo atrás de Brianna na fila, porém sequer peguei uma bandeja.
- Seu namorado não sabe a encrenca em que está se metendo. – sussurrei para ela.
- Ele apenas se defendeu. – disse Brianna calmamente.
"Chama isso de se defender?" Pensei comigo; aquilo era demais pra mim. Num impulso rápido, levei minha mão á sua bandeja e derrubei o que quer que estivesse naquele copo em sua roupa. Não era realmente minha intenção, mas não significa que não tenha me agradado.
- Você quer resolver aqui mesmo? – rosnei para ela, que apenas deixou as coisas na bancada e se afastou, limpando a roupa.
- Eu não tenho nada a resolver, Elizabeth. – senti um pouco de nervosismo em sua voz, porém ela a manteve calma. – Numa hora está me agradecendo, e na outra me ameaçando. Por que não se decide? – ela ergueu uma sobrancelha.
Todos do refeitório agora paravam para nos olhar; respirei fundo e tentei manter a voz serena.
- Você realmente não me conhece, garota. Não brinque com fogo.
- Não vai conseguir me deixar com medo. – vi que ela forçou as palavras a saírem. Eu sorri para ela. Dessa resposta ela se arrependeria.
Dei as costas á garota e fui me sentar junto á Melissa. Ela sequer disfarçou o olhar que analisava Brianna até a garota se sentar em uma mesa afastada de nós. Segui seu olhar até a garota de cabelos ondulados. Assim que ela colocou sua bandeja na mesa, virou seu rosto para mim e deu um sorriso, o que foi pra mim, o pior dos desafios.
- Ela é... Diferente. – Melissa pareceu analisar suas palavras ao me sussurrar.
- Apenas uma vadia, como todas as outras. – rebati no mesmo tom.
Já em casa, demorei sequer a conseguir deitar-me. Os lençóis pareciam ficar cada vez mais desconfortáveis e os pensamentos do próximo dia me atormentavam como fagulhas. Aquele vestido que eu havia experimentado, o convite... Minha máscara, entre as sombras de sua caixa em cima do piano, parecia zombar de meu tormento antecipado.
Eu e Brianna havíamos conseguido escapar de todos os ensaios "daquela" cena. Mas amanhã não. Porque amanhã era o "grande dia".
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Faces Sob Máscaras
Fanfic"Você nunca realmente conhece uma pessoa antes de descobrir, da pior maneira, o que sua máscara esconde." Elizabeth Taylor é a famosa "valentona" de Royal's College. Após a separação de seus pais, sua única regra é a de que nunca veriam suas lágrim...