Após o enterro, eu sabia que a sensação de arrependimento viria. Apenas não reparei que não estava pronta para ela. Mas quando a senhora Moore me ligou falando sobre Nate, mesmo que de madrugada, eu não poderia dar outra resposta senão sim. Mas no momento em que vi o corpo de Nathanyel no caixão, senti que alguém arrancava uma parte de dentro de meu corpo, e acabei sendo obrigada a preenchê-la com o arrependimento de ter ido áquele lugar. Depois que Dan me levou em casa, resolvi que seria melhor não incomodar o resto da casa até de manhã, e fui até o banheiro para trocar de roupa. Meu reflexo no espelho acabou me fazendo parar. Olhei-me novamente.
Minhas pupilas permaneciam dilatadas desde que fora acordada com a notícia, e eu parecia ter acabado de tomar uma grande dose de energético, pois não conseguia deixar minhas mãos paradas por um segundo. Eu mexia em meu vestido, meus dedos tamborilavam na pia, passava as mãos no cabelo, mexia em meu lábio inferior. Além de que meus olhos pareciam afundados num rio cor de pele em meu rosto.
O que estava acontecendo comigo? Essa não era eu. Essa não era Elizabeth Taylor. Ergui meu queixo para o espelho. Ainda era digna de pena. Era melhor que eu fosse dormir. Não seria um dia ruim que me faria desabar. Ou melhor dizendo, nada me faria desabar. Nunca.
Troquei de roupa e soltei meu cabelo antes de ir para minha cama. Quando me deitei, já sabia que não conseguiria simplesmente me virar e dormir em paz. Mas só depois de meia hora resolvi que seria impossível. Eu não podia fazer de novo, não podia. Mas queria, muito. E, para mim, querer era poder. Desci furtivamente até o banheiro do andar de baixo e peguei o frasco branco do remédio da minha mãe e engoli um comprimido mesmo sem água. Quando estava andando pela cozinha, indo para meu quarto, parei no meio do caminho e cerrei o punho. Meu coração se acelerou abruptamente e minhas mãos começaram a suar. Eu sempre fui completamente controlada, mas não havia um público para o qual atuar agora, e meu corpo pareceu perceber isso.
Voltei ao banheiro e olhei no frasco da medicação. Havia um "Atenção!" estranhamente pequeno para algo importante. "Não tome mais de cinco comprimidos de uma só vez e consulte o médico em caso de efeitos inesperados." Tudo bem, eu só esperava dormir. E, de qualquer maneira, seria apenas mais um. Fiz a conta mental em minha cabeça e decidi que devia realmente estar mal para descobrir que um mais um dava dois. Depois de tomar o comprimido, subi novamente até meu quarto e me deitei. Meu sono foi praticamente imediato. Eu tinha que fazer isso mais vezes.
Meu sono foi interrompido por um barulho que eu conhecia, e realmente adorava. Mas não agora, que estava me acordando. Alguém parecia tocar um piano. Abri os olhos com uma interjeição mal humorada e olhei o relógio que ficava do lado direito da cama. Tive dificuldade em enxergar o número devido á minha visão embaçada. Eram cinco da manhã. Fazia em média dez minutos que eu havia dormido. Por que raios alguém estava tocando piano ás cinco da manhã de uma quinta feira?
O estranho era que o som parecia realmente perto, mas minha audição estava abafada. Suspirei e escutei mais um pouco antes de tentar levantar. Meu corpo parecia exausto ao mínimo esforço. A ironia de tudo era que eu realmente adorava aquela música. Era o solo de uma composição famosa de Mozart.
Virei-me para o outro lado da cama para me levantar e estanquei no mesmo momento. Não era meu vizinho, não era em outra casa. Agora sim o som me pareceu alto, e me impressionei de ninguém ter acordado. Na realidade, tudo me impressionou. Meu quarto estava mais branco do que era ultimamente, ou dez minutos antes que eu dormisse. E também acabei ficando surpresa comigo mesma. Era como se eu soubesse que ia acontecer. Levantei-me da cama, e no auge de minha calma, fui até o garoto de cabelos castanhos e terno que tocava em meu piano e toquei seu ombro. Eu sentia que era um toque real, não podia ser um sonho. Ele demorou alguns segundos para terminar o solo e se virou com a expressão serena.
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Faces Sob Máscaras
Fanfic"Você nunca realmente conhece uma pessoa antes de descobrir, da pior maneira, o que sua máscara esconde." Elizabeth Taylor é a famosa "valentona" de Royal's College. Após a separação de seus pais, sua única regra é a de que nunca veriam suas lágrim...