Capítulo XVI - Elizabeth - "Entre o medo e a verdade"

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"Eu não quero te perder, como perdi seu pai."

Essa frase repassou em minha mente tantas vezes num só segundo, que eu tive medo de nunca mais poder esquecê-la. A cada guinada da viatura em que eu estava, eu sentia em meu íntimo minha promessa silenciosa de que minha mãe nunca me perderia se quebrando.

As algemas em meus pulsos por vezes encostavam na parte machucada da minha pele, e eu reprimia minhas interjeições de dor para que os policiais não escutassem. Era tudo tão surreal que eu ficava me lembrando do meu cotidiano normal, tentando localizar o ponto em que tudo virava de ponta cabeça. O ruim é que as lembranças apenas pioravam tudo, porém eu insistia em me aprofundar nelas. Num impulso, pensei na expressão de Nora quando os policiais entraram na minha casa e vasculharam meu armário até encontrar o celular do Nate. Isso eu não pagaria para ver.

Fui tirada da minha divagação quando um dos policiais sentado ao meu lado puxou minha bolsa do chão, onde estava encostada no banco da frente sem incomodar ninguém.

- Ei! – reclamei. O policial me encarou. Ele não parecia muito mais velho do que eu; tinha os cabelos castanhos num corte baixo e os olhos de uma tonalidade tão escura que eu não consegui diferenciar sua íris da sua pupila. Ele me olhou como se eu fosse um sem teto pedindo esmolas e atrasando seu horário de serviço, e simplesmente voltou sua atenção á minha bolsa – Quem deu permissão para vocês mexerem nas minhas coisas? – perguntei ao homem e á mulher que estavam nos bancos da frente.

- A lei. – a mulher, que estava á direita, me respondeu. Seus cabelos negros estavam presos no coque mais organizado que eu já havia visto, e se assemelhavam á sua pele escura. Seus olhos eram de um tom acobreado, e sua farda parecia arrumada nos mínimos detalhes – Você é suspeita de assassinato. Podemos retirar de você qualquer coisa que nos dê pistas.

"Quero ver retirarem minhas palavras.", foi tudo o que pensei.

- Estão pegando a pessoa errada! – o desespero fluía em minhas veias, até chegar em minhas palavras.

- Sempre escutamos isso, Srta. Taylor. – a mulher falou – Dois por cento dos acusados que pronunciam estas palavras estão falando a verdade.

- Eu sou parte dos dois por cento, então. –dei uma risada baixa, como se tudo aquilo fosse irônico demais até pra mim – Acham mesmo que tenho força o suficiente para matar alguém a socos? Um garoto, aliás, bem mais forte do que eu? – olhei para os três policiais no carro, esperando que algum fosse dizer que eu tinha o ponto. Nenhum correspondeu ás minhas expectativas.

- Sua ficha escolar diz bastante sobre você. – a policial disse sem me escutar, e só então eu reparei que devia ser isso que estava folheando – Brigas, roubo, faltas, desacato ao professor. Muitas brigas. –ela deu ênfase ás suas palavras, parecendo ter acabado de assinar o papel que me declarava culpada – Você pode ter tido ajuda. Pode ter usado uma arma, como o soco inglês, ou qualquer coisa do tipo. – ela virou o rosto para mim – A questão é: não existem outros suspeitos. Foi confirmado que o tecido encontrado perto das escadarias era seu, e que o DNA do sangue nele encontrado é o mesmo do jovem Nathanyel. Você tinha o celular da vítima em seu armário. – ela parou por um momento, e eu quase senti pena em seu olhar – Acorda, garota. Você já está atrás das grades.

Então ela voltou a se virar para frente, e tudo o que havia falado gerou em mim a nítida sensação de medo, que acabei demonstrando em uma frase imprudente:

- Eu não fiz nada, porra! – apesar do tom baixo e tremido da minha voz, ainda pude sentir o descuidado das minhas palavras, porém ninguém se pronunciou. Quando uma lágrima desceu até meu queixo, pude sentir o olhar da policial sobre mim pelo retrovisor interno.

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